ECONOMIA CAPIXABA

A produção do café especial da família Bissoli no ES.

A gente começou com esse trabalho no ano de 1999, afirma Gelson Bissoli, 52 anos.

Em 16/05/2017 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Conhecer a essência da agricultura familiar é saber reconhecer o que a torna diferente das demais formas de produções agrícolas. É um modo constituído em família. A Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead) mostra como a união desses agricultores, pelos laços sanguíneos e pelo trabalho, consegue promover mudanças de vida.

O aroma do café dos Bissoli permeia toda a casa onde moram na comunidade de Vila Pontões, no município de Afonso Cláudio, no Espírito Santo. A família investe, há quase 18 anos, em produzir com qualidade e de modo diferenciado o principal produto agrícola do estado: o café. Tudo plantado dentro das terras da família, adquiridas a partir do Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF).

“Meu pai era apaixonado por café. A gente começou com esse trabalho no ano de 1999 e temos muito orgulho. Somos premiados até hoje em concursos, algo que trouxe frutos muito grandiosos para a nossa família e que também valorizou a nossa comunidade”, conta o agricultor familiar Gelson Bissoli, 52 anos.

Do plantio ao embalo, todos os processos são feitos de modo artesanal pela família. O café Bissoli é feito com 100% de grãos arábica, selecionados quando maduros. Pela cor avermelhada, são chamados de “cereja”. Após a colheita, são secados, descascados, torrados, moídos e embalados pelas mãos de Josane Bissoli, esposa de Gelson, dentro de casa. Uma forma de produzir e agregar valor, símbolo da agricultura familiar, que surge após anos de muito trabalho.

“Não foi da noite para o dia. Até hoje, a gente ainda busca melhorar cada vez mais. Nós tivemos apoio da Sead, do Instituto Capixaba de Pesquisa Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), que presta assistência técnica e extensão rural aos agricultores familiares do Espírito Santo,  e aí a gente começou a desenvolver esse café, considerado de qualidade. Da primeira vez que plantamos, faltou cuidado e a gente plantou as variedades todas juntas. Já na segunda vez, a gente fez a separação, tudo monitorado, e aí conseguimos os cafés de excelência”, explica a agricultora.

No primeiro concurso da família, o da Brazil Specialty Coffee Association (BSCA), o café Bissoli ficou em 8ª lugar na classificação de qualidade. A saca recebeu o segundo melhor preço da competição. Uma realização para a família.

“Naquela época, uma saca de café era vendida a R$177. Lá, pagaram quase 10 vezes mais. Isso fez toda a diferença para a gente continuar investindo. Para a nossa família e para todos aqueles que estavam querendo começar e tinham um pouquinho de medo. Não foi a diferença só para um agricultor, foi para toda a comunidade e para o Espírito Santo também”, comemora Josane.

União

Além do café, a família Bissoli também planta milho e feijão, que são direcionados para a cooperativa e comercializados dentro do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e das redes de comércios estaduais e interestaduais. Todo o plantio é feito em terras compradas com a ajuda do PNCF.

Segundo o presidente da Cooperativa de Agricultores Familiares de Afonso Cláudio, Gelson Zuin, os produtores ganharam a oportunidade de produzir, com retorno financeiro garantido, o que os ajuda a pagar a propriedade. “Há oito anos, as famílias sentiram a necessidade de ter esse pedacinho de chão, de organizar e aí procuraram o sindicato dos trabalhadores rurais, e nós montamos o processo. Hoje a gente pode observar que todos os beneficiários estão consolidados nesta terra”, indica Zuin.

O coordenador da Unidade Técnica Estadual do Espírito Santo (UTE), vinculada ao Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf), Juliano de Carvalho Barbosa, aponta que mais de 3, 2 mil famílias conseguiram terras por meio do Crédito Fundiário. “Já foram investidos cerca de R$95 milhões em todo o estado, prioritariamente para a aquisição de terras para agricultores familiares. O objetivo do programa é, justamente, dar cidadania aos pequenos produtores, além de levar o desenvolvimento rural ao município”, pondera Barbosa.

Ao falar sobre a terra conquistada pelo PNCF, Josane reforça o trabalho em conjunto aos outros agricultores. “Para a minha família, trouxe um desenvolvimento muito grande. A gente acredita e corre atrás. Mas, tudo junto. Não é só eu. Aqui a gente depende um do outro. É uma força muito grande. A união dessas pessoas transforma a vida de todo mundo”, observa a agricultora.

A família Bissoli também conseguiu pelo Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) - Mais Alimentos, coordenado pela Sead, um trator com implementos e uma unidade de beneficiamento de café.

Família

No Brasil, de acordo com o último Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foram identificados mais de 4,3 milhões de estabelecimentos de agricultores familiares, número que representa 84,4% dos estabelecimentos que existem em todo país. A Sead promove ações para o desenvolvimento rural e qualidade de vida dessas famílias no campo.  “As políticas públicas permitem que os agricultores familiares desenvolvam os seus potenciais. Por elas, os produtores acessam ao crédito, se capacitam, levam seus produtos ao mercado e agregam valor a eles”, fala o delegado federal de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário do Espírito Santo, Aureliano Nogueira.

A família dentro da agricultura familiar tem valor máximo. Os vínculos de amor, confiança e afeição se sobrepõem aos do trabalho, e são a razão do sucesso de muitos agricultores. “É difícil a gente viver da agricultura, mas quando a família está unida tudo muda. Um ajudando ao outro, a gente agrega valor aos produtos, e a gente consegue uma renda maior do que se fossemos trabalhar com a agricultura empresarial”, resume Bissoli.

Imagem: Divulgação MDA