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Acusão de fraude em empresa afeta projeto de superônibus na China.

Veículo prometia passar por cima dos carros e melhorar o trânsito.

Em 04/07/2017 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Cerca de 1 ano depois do pôlemico primeiro teste, o "superônibus" chinês capaz de passar por cima dos automóveis está cada dia mais enterrado no limbo dos projetos curiosos que nunca sairão do papel.

Isto porque a polícia de Pequim prendeu 32 pessoas envolvidas com a Huaying Kailai, plataforma digital que estaria financiando o projeto de forma fraudulenta, segundo informou o jornal "The New York Times".

A suspeita, levantada ainda no ano passado, é de que o dinheiro para construir o superônibus veio de um esquema de pirâmide financeira - um tipo de golpe que remunera os primeiros investidores, que recrutam outros, até que o negócio se torne insustentável.

O jornal "The Beijing News" afirmou nesta semana que o projeto do superônibus era uma fraude desde o começo, servindo apenas como atrativo para atrair investidores, sem nenhuma base técnica ou inovação científica.

O 'sonho'

O projeto foi apresentado pela primeira vez em 2010 e, novamente, em maio de 2016, ainda como um conceito de feira de ciências.

O modelo de Ônibus de Passagem Elevado (TEB, na sigla em inglês) funcionaria por meio de um sistema de trilhos e possui um vão por baixo, onde passam os outros veículos.

Em comboio, os ônibus elevados poderiam levar até 1.200 pessoas. Cada segmento teria 22 m de comprimento, 4,8 m de altura e 7,8 m de largura, formando uma estrutura com comprimento total de entre 58 e 62 metros.

A realidade

Em agosto do ano passado, um protótipo foi "testado" em um trecho de 300 metros em Qinhuangdao. Imagens que percorreram o mundo mostraram o "superônibus" rodando alguns metros com carros passando por baixo dele, apenas em linha reta.

O site "Car news China" afirmou que o protótipo tinha um sistema de ar-condicionado simples, do tipo que se usa em casas, e que a plataforma de embarque parecia "mal construída".

A imprensa chinesa noticiou ainda que as autoridades da província de Qinhuangdao não tinham conhecimento do teste com o veículo, portanto, não o autorizaram.

A empresa desenvolvedora do projeto, Transport Explore Bus, acabou confirmando que não se tratou de um teste em via pública, mas "interno".

Jornalistas da agência Xinhua chegaram a ir até o local que seria a fábrica, que já tinha sido palco de uma cerimônia de início de construção, mas só encontraram um buraco na terra.

Os problemas

A altura do ônibus em relação ao solo seria de cerca de 2 metros. Daí o questionamento sobre como fazer com caminhões, vans ou mesmo SUVs e picapes grandes. A saída mais fácil seria proibir a entrada destes carros embaixo do ônibus.

Especialistas em transportes também questionaram se o veículo seria capaz de fazer curvas e se os carros poderiam fazer conversões para transversais.

Outra dúvida sobre a viabilidade estaria no fato de que o ônibus seria elétrico. A ideia é que as baterias se recarreguem a cada estação, mas não ficou claro qual seria a autonomia necessária para que o ônibus funcionasse.

Também houve questionamento sobre se, de fato, o veículo é um ônibus ou se ele está mais para um trem andando sobre trilhos.

Há ainda o custo: segundo a revista "Wired", a empresa por trás do projeto afirmou, em maio passado, que cada veículo custava US$ 4,5 milhões, um montante que seria suficiente para comprar 11 ônibus com zero emissão de poluentes, capazes de transportar ao menos 550 pessoas contra as 300 de cada "superônibus".

(Foto: REUTERS/Stringe)