SAÚDE

As doenças que mais matam os capixabas.

Entre as doenças que mais matam os capixabas, o infarto está em 1º lugar.

Em 29/06/2015 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Alguns dias depois do Natal do ano passado, o engenheiro agrônomo Brício Alves Santos Júnior, 57, começou a sentir dor no estômago. Culpou a farra gastronômica típica da data, já que ele já havia feito tratamento para refluxo. Mas 2015 começou e nada de a dor passar. Brício, então, procurou um médico e levou um susto: ele havia infartado. Foi internado às pressas para ser operado.
“Achei que era a comida e a cerveja, que o refluxo havia voltado. Foi uma surpresa. Não tinha histórico familiar, nunca senti desconforto no peito ou falta de ar. Tive que fazer três pontes de safena e uma mamária”, conta.
Por pouco
Foi por pouco que Brício não entrou para as estatísticas. Entre as doenças que mais matam os capixabas, segundo o ranking da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), o infarto está em 1º lugar, seguido por outros problemas cardiovasculares, como derrame, em 4º lugar, e hipertensão, em 7º. Doenças que podem ser prevenidas com hábitos de vida saudáveis – boa alimentação , atividade física, controle do estresse e evitando cigarro e abuso de álcool.

Pode ter sido justamente esse tipo de cuidado que salvou a vida do engenheiro. Ele sempre fez check-up duas vezes por ano, não abusava na alimentação e controlava o colesterol alto. “Apesar de ter tido um infarto, era saudável e os músculos cardíacos não foram comprometidos. Ou esses cuidados salvaram a minha vida ou Deus achou que não era a minha hora”, conta.
Episódio
Mesmo assim, o episódio trouxe mudanças para o seu dia a dia. “Antes caminhava de vez em quando, agora vou quase todo dia. Além disso, estou mais ‘light’, viajo menos e tento me estressar menos no trabalho. Há duas semanas perdi um colega, que era atleta, de infarto”, conta.

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia do Estado, Márcio Augusto Silva, ter um estilo de vida saudável e manter doenças, como colesterol alto, diabetes e hipertensão sob controle, pode ser a diferença entre a vida e a morte. “O infarto é a maior causa de morte no Espírito Santo, no Brasil e no mundo. Controlar os fatores de risco e mudar o estilo de vida reduzem muito a chance de ter um infarto ou um AVC”, diz.
Diabetes
A segunda maior causa de morte entre os capixabas é o diabetes, cujo tipo 2, o mais comum, está ligado à obesidade e consumo exagerado de açúcar. Para o cardiologista e professor da Ufes, José Geraldo Mill, este é um problema mundial que tende a crescer por conta da má alimentação.
“Os açúcares de rápida digestão é um produto abundante, barato, gostoso e que as pessoas usam em excesso. Ele sobe rapidamente a taxa de glicose no sangue, mas isso é apenas a ponta do iceberg. O diabetes pode causar perda progressiva da função de vários órgãos e levar, por si só, à morte”, explica o médico, que coordena o Centro de Investigação ELSA, que faz pesquisas sobre infarto, hipertensão e doenças cardiovasculares.
Pressão
Segundo José Geraldo Mill, a pressão alta pode causar doença microvascular (uma alteração nos vasos sanguíneos de pequeno calibre). Ela é a maior causa de amputações de dedos e pés, pode causar cegueira e até insuficiência renal.
“Quase 80% das pessoas que fazem hemodiálise são diabéticas. Reduzir o consumo de açúcar e fazer exercícios físicos regulares talvez seja a medida de prevenção mais eficaz contra as doenças crônicas”, afirma.
Para o cardiologista Schariff Moysés, os exames regulares e o controle da pressão arterial também são fundamentais para evitar problemas futuros. A hipertensão está ligada a infartos, derrames e pode, por si só, causar a morte.
Pulmão
Entre as nove doenças que mais mataram os capixabas em 2014, três delas atacam os pulmões. A pneumonia por micro-organismos está em 3º lugar. Em 6º, doenças pulmonares obstrutivas crônicas (DPOC); e, em 9º, o câncer de brônquios e de pulmões.
Para a presidente da Sociedade de Pneumologia do Espírito Santo, Ciléa Aparecida Victória Martins, esse resultado não é exclusividade do Espírito Santo.
“É uma estatística mundial porque são doenças que atingem mais idosos e crianças, uma faixa etária com a imunidade muito baixa, o que acaba aumentando a taxa de mortalidade. Como o pulmão é o único órgão do corpo em contato com o ambiente externo, é natural que, em pessoas debilitadas, as infecções cheguem por ele”, explica.

O pequeno Arthur, de  3 anos, filho da médica Isabela Ferrari, 36, pegou uma  bronquiolite

Cuidados simples podem diminuir problemas de pulmão

Se o número de mortes por problemas relacionados ao pulmão são preocupantes, a boa notícia é que medidas simples podem diminuir o risco de morte entre idosos e crianças, principalmente por pneumonia e doenças pulmonares obstrutivas crônicas (DPOC).
Segundo a presidente da Sociedade de Pneumologia do Espírito Santo, Ciléa Aparecida Victória Martins, o segredo está em adotar cuidados com o ambiente e com a alimentação para aumentar a imunidade. “Os pais e cuidadores precisam ter uma preocupação com a alimentação saudável e com o ambiente dessas pessoas, pois eles naturalmente têm uma imunidade mais baixa”, afirma.
Manter as vacinas em dia, ter uma alimentação saudável, evitar ambientes fechados e manter a casa limpa e arejada são medidas simples que podem significar anos a mais de vida. “Tudo isso melhora a imunidade e evita infecções.”
Infecção
E quando a infecção é inevitável, afirma Ciléa, esses cuidados podem evitar que a doença termine em morte, já que crianças e idosos com uma boa imunidade vão responder melhor ao tratamento.
Foi o que aconteceu com o pequeno Arthur, de 3 anos, filho da médica Isabela Ferrari Ferreira, 36. Em abril, ele pegou uma bronquiolite – infecção por vírus que diminuiu sua imunidade e causou uma grave pneumonia. Ao todo, foram três semanas de tratamento, sendo seis dias no hospital.
“Foi uma luta, ele emagreceu 3kg. Como médica, conheço os sinais mais graves e não me desespero tanto quanto as mães menos experientes. Por outro lado, sofro um pouco mais, pois sei os riscos e as complicações desse tipo de doença”, conta.
Ambiente
Isabela sabe que cuidar do ambiente onde Arthur vive e, principalmente, da sua alimentação, podem ter sido fatores decisivos na recuperação do pequeno. “O essencial vem antes da doença. Se a criança tem uma alimentação saudável e qualidade de vida, com um quartinho limpo, arejado, onde bata sol, tudo isso favorece a prevenção e a recuperação”, conta.
A poluição ambiental também colabora para aumentar o problema. Mas nos casos de câncer de pulmão e brônquios, pré-disposição genética também conta.
Como evitar as doenças pulmonares
Sem alergia:
Evite o contato com animais, mantenha o ambiente limpo e retire carpetes e tapetes.
Ambiente arejado
Deixe portas e janelas abertas. A luz solar ajuda no combate à proliferação de bactérias. Evite o uso de ar-condicionado ou mantenha o aparelho limpo.
Alimentação saudável
Frutas, verduras e legumes melhoram o sistema imunológico e facilitam o combate a infecções. Hidratação é fundamental.
Amamentação
O leite materno até pelo menos seis meses de vida é importantíssimo para a formação do sistema imunológico.
Vacina
Manter as vacinas em dia também é fundamental.
Refluxo
A doença causa predisposição à pneumonia de repetição. Deve ser mantida sob controle
Alzheimer matou mais de 400 capixabas
A segunda tabela acima nos mostra o ranking das 10 doenças que mais matam os capixabas e nós temos o Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico isquêmico em 4º lugar e o Alzheimer em 8º.
Entre as doenças que mais matam os capixabas, uma em particular chama a atenção. A doença de Alzheimer aparece em 8º lugar, com 420 mortes registradas no Espírito Santo em 2014.
Para a médica Sandra Brucki, membro do departamento científico de Neurologia Cognitiva e Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), isso mostra o envelhecimento da população capixaba.
“A idade por si só, é um fator de risco. Quanto mais idoso, maior o risco de desenvolver Alzheimer. Uma população mais idosa tem mais chance de ter a doença e de morrer com ela. As fases graves estão associadas à mortalidade por infecções, em geral pulmonares, desnutrição e mesmo por fragilidade”, explica.
Cérebro
Outro problema que afeta o cérebro dos capixabas é o Acidente Vascular Cerebral, o AVC, a 4ª causa de morte no Estado. Sandra explica que o tipo hemorrágico acontece quando há o rompimento de pequenas artérias cerebrais, o que geralmente está associado à hipertensão.
“A hipertensão arterial é a maior causa de acidente vascular hemorrrágico, pois ela fragiliza as paredes das artérias do cérebro. O controle da pressão é a forma mais eficaz de prevenção”, explica.

Por Renata Lacerda/Gazetaonline