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"Barreiras instaladas no Rio Doce são ineficazes", diz engenheiro.

Segundo Paulo Rosnan, rejeitos vão se espalhar pelo oceano naturalmente.

Em 20/11/2015 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Um engenheiro da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) afirmou que são inúteis as barreiras flutuantes instaladas pela Samarco em Regência, Linhares, Norte do Espírito Santo, para conter a lama. Segundo Paulo Rosnan, os rejeitos vão se espalhar pelo oceano naturalmente. Apesar disso, ele destacou que os impactos no mar serão pequenos e nada vai chegar ao arquipélago de Abrolhos.

“É inevitável, a lama vai chegar ao mar, porque é impossível conter. Eu não entendo o porquê de colocar essa barreira. Isso não tem eficácia alguma. Ela tem que sair, se despistar pelo oceano e isso vai ser feito naturalmente”, falou o engenheiro, que participou de simulações da chegada da lama ao oceano.

Barreiras de contenção flutuantes começaram a ser instaladas na Foz do Rio Doce, em Regência, nesta quarta-feira (18), por uma empresa contratada pela mineradora Samarco, para evitar que a lama de rejeitos atinja ilhas, alagados e áreas mais baixas do brejo. Ao todo, são nove mil metros de barreira offshore e sea fences, que costumam ser usadas em derramamento de óleo no oceano, com objetivo de preservar fauna e flora locais.

De acordo com o presidente susbtituto do Ibama, Luciano Evaristo, ao chegar ao oceano, a lama pode afetar os animais marinhos. “No percurso que está desenvolvendo agora, a lama afeta a ictofauna, causa um processo de congestão nos peixes, por causa da densidade do rejeito que está na água. Chegando ao estuário, ela poderá afetar a questão da nidificação das tartarugas, afetar também a ictiofauna marinha”, disse.

Já para Rosnan, os possíveis estragos estão sendo superdimensionados pelos órgãos ambientais. “No mar, eu creio que não será nada relevante. Haverá só uma mancha colorida muito grande que se dispersará normalmente, como se dispersam as manchas que saem dos
rios em épocas de grandes chuvas”, falou o engenheiro.

Espécies ameaçadas
O rompimento das barragens de rejeitos em Mariana, Minas Gerais, atingiu diretamente cerca de 100 espécies de peixes que viviam no leito principal do rio, de acordo com o especialista em ictologia do Departamento de Vertebrados do Museu Nacional da UFRJ Paulo Andreas Buckup.

Segundo o especialista, o número de espécies pode ultrapassar 200, mas muitas desapareceram ao longo dos anos de atuação das mineradoras. “Mesmo antes do acidente. o Rio Doce não estava saudável. As mineradoras vinham sorrateiramente despejando resíduos da lama no rio, em menor quantidade. Esse desastre foi o golpe de misericórdia”, lamentou.

Buckup explicou que as espécies estão ameaçadas pelo sufocamento causado pelos rejeitos, que impede os peixes de respirar. “Mesmo os que conseguirem respirar, não vão ter o que comer, já que a camada de argila vai cobrir algas e pequenos invertebrados. Além disso, essa lama vai para o fundo do rio, alterando as características físicas e biológicas, o que impede o desenvolvimento dos seres”, disse.

O biólogo e professor da Ufes Orlindo Francisco Borges Filho ressalta que 11 espécies de peixes do Doce, que já estava ameaças de extinção, como a piabanha e curimba, próprias da região que corta o Espírito Santo, podem desaparecer.

Outro prejuízo para o ecossitema apontado pelo professor é a perda da biodiversidade da fauna aquática. O período da piracema, a migração reprodutória dos peixes, que já está acontecendo, não vai se dar de maneira satisfatória no Rio Doce. “Sem reprodução teremos menos diversidade. É possível recuperar, mas é um processo demorado”, afirmou Borges.

20/11 - Versão infográfico barragens Mariana (Foto: Arte/G1)