ESPORTE INTERNACIONAL

Bernie não banca Brasil na F1, cogita comprar Interlagos e exalta Trump.

Chefão da categoria põe corrida brasileira em dúvida.

Em 14/11/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

A fila para falar com Bernie Ecclestone é sempre longa, não importa o país em que está. Pudera, ele toma conta de tudo na F1, apesar dos 86 anos de idade. No Brasil, por exemplo, ele teve no fim de semana, em Interlagos, desafios específicos, além dos de praxe, como trabalhar para garantir a presença de um piloto brasileiro e mesmo a nação no calendário do mundial.

Numa visão mais global do evento, o que aguarda Ecclestone nos próximos meses é algo bem mais complexo. Ele vendeu parte da holding que administra a F1, Delta Topco, para o grupo norte-americano Liberty Media. As implicações dessa mudança quando o Liberty Media se tornar sócio majoritário – atualmente é o grupo de investimento inglês CVC –, a partir de março, se os acordos celebrados forem cumpridos, as mudanças na F1 serão profundas.

Tudo isso pouco antes de a competição passar por uma das maiores revoluções da sua história, quando carros e pneus serão mais largos, as unidades motrizes mais potentes e, por essa combinação de novidades técnicas, os carros se tornarão cerca de cinco segundos mais rápidos.

GE: Como foi o encontro com o presidente Michel Temer, em Brasília?
Bernie Ecclestone: Muito bom, conversamos sobre assuntos genéricos, nada em particular, foi uma visita de cordialidade.

Não falaram de automobilismo, de permanência do GP do Brasil do calendário?
Ele sabe mais ou menos o que precisamos, o que gostaríamos que acontecesse.

Como o presidente poderia ajudar o Brasil ter mais pilotos em condições de chegar a F1 e manter a prova do país no campeonato?
Não sei. Não se esqueça de que ele assumiu a presidência há bem pouco tempo, falar disso agora não seria conveniente.

O Brasil terá piloto no grid em 2017?
Nesse instante não sei te dizer.

Felipe Nasr tem chances de permanecer na F1?
Espero que sim, realmente desejo vê-lo no grid em 2017.

Tentou ajudá-lo?
Sim, e tenho de continuar ajudando, mas eu não tenho o poder de impor um piloto numa equipe.

O GP do Brasil corre risco de não ser mais realizado?
Com certeza.

Por quê?
Razões financeiras.

São Paulo elegeu um novo prefeito, que assumirá em janeiro. Ele deseja privatizar Interlagos. Isso pode tornar as coisas ainda mais difíceis para a permanência da corrida?
Depende de quanto ele quer vender. Talvez eu me interesse em fazer negócio. Se ele vender para outra pessoa pode ser o caos, nesse caso seria mais difícil manter a corrida aqui.

Tem um encontro marcado com ele?
Não. Eu regresso logo para a Europa, mas antes do Natal eu volto ao país. Desejo, sim, me encontrar com ele.

O senhor construiu um império em mais de 40 anos e agora os direitos comerciais foram vendidos para o Liberty Media.
Verdade? Não sabia. Nós temos um novo sócio, não quer dizer novo proprietário, eles compraram até agora apenas uma participação na empresa que administra os direitos comerciais. (Em setembro, o Liberty Media comprou 18,7% da Delta Topco e se comprometeu a adquirir os 81,3% restantes até abril do ano que vem, num operação que movimentará US$ 8 bilhões, ou R$ 27,2 bilhões.)

Está contente com o perfil dos novos sócios?
Não sei, não trabalhei ainda com eles.

Eles praticam filosofia nos seus negócios completamente distinta da existente na F1, privilegiam o show. Eles irão respeitar os princípios que fizeram a F1 ser o que é, onde a disputa esportiva é consequência de uma competição tecnológica?
Se eles comprarem o restante da participação da empresa poderão dizer o que desejam da F1. Eles não poderão fazer o que bem entendem porque a definição do regulamento também envolve a FIA.

Será diferente da relação que o senhor mantém com a CVC (ainda o sócio majoritário da Delta Topco)?
Com certeza. A maneira dos norte-americanos conduzirem seus eventos é bem distinta da que nós fazemos na Europa.

O Liberty Media já anunciou que irá explorar as mídias sociais, querem levar a F1 para a internet, como fazem nos EUA. Mas uma das maiores fontes de receita da F1 provém da venda dos direitos de TV. Como conciliar expor a F1 na internet com a venda dos direitos de TV?
Eu não tenho a menor ideia de como eles poderão fazer as duas coisas. Se eu soubesse já teria feito.

Acredita que eles vão interferir da definição do calendário, atender mais os interesses dos fãs também?
Com toda certeza, mas terão de propor o seu calendário à FIA. Hoje nós não fazemos isso, mais ou menos a FIA aceita o calendário que eu defino, quem sabe as coisas mudem bastante.

Qual o seu feeling a respeito desse novo grupo que se aproximou da F1?
Quem sabe o que eles pretendem fazer esteja certo e o modelo que nós estamos praticando, há tempos, esteja errado. Mas eles não estão no controle da companhia, ainda, não discutimos seus planos de conduzir os rumos da F1.

O que acontecerá quando o Acordo da Concórdia acabar em 2020? Será que eles vão aceitar o modelo atual de distribuição do arrecadado, em que os times ricos recebem mais e os com menores recursos menos? Force India e Sauber, do grupo dos pequenos, já questionaram esse modelo na União Europeia.
Vamos esperar para ver a posição da União Europeia. Se as equipes que recebem mais concordarem em reduzir o valor que lhes damos, eu terei imenso prazer em distribuir o dinheiro de maneira mais igualitária.

O que vai acontecer quando chegarem na Ferrari, a fim de discutir um novo Acordo da Concórdia, para dizer que os US$ 50 milhões que a escuderia recebe apenas em função da sua importância histórica não mais poderá ser repassado?
Eu não tenho a menor ideia, você tem de perguntar para a Ferrari. Acho que não vão ficar felizes.

Há o risco de os times se rebelarem com o critério de distribuição que será proposto e ameaçarem organizar seu próprio campeonato, como fizeram por exemplo em 2008, na época da formação da Fota (a extinta associação das equipes).
O que aconteceu no passado? De novo, o que aconteceu no passado?

Eles continuam aqui.
Então...

Donald Trump deseja mais ou menos isolar os Estados Unidos do mundo, disse na campanha, isso irá interferir nas negociações da F1 ao redor do mundo?
Não, em nada. A eleição de Trump foi a melhor coisa que poderia ter acontecido para o mundo todo. Ele é mais flexível. Se a outra candidata vencesse seria a continuação do que temos aí.

Curioso, a maioria considera Trump mais radical que Hillary Clinton.
Não, não, eu o conheço, já nos encontramos algumas vezes, acredite, será bem melhor para o mundo.

Em 2017 a F1 viverá uma grande revolução, carros e pneus mais largos, unidades motrizes mais potentes, será bem diferente de hoje, o público terá maior interesse? Qual sua expectativa?
Precisamos esperar os primeiros testes, ver como esses carros vão se comportar. Uma coisa, porém, não vai mudar, tenho certeza de que a Mercedes seguirá dominando a F1.

Fonte: GE