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Black Sabbath se despede do Rio de Janeiro com show seguro e eficiente.

Banda faz passeio sobre a primeira e mais marcante parte da carreira.

Em 03/12/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Com a pontualidade britânica que lhe é característica, o Black Sabbath iniciou aquela que, pelo menos em tese, foi sua última apresentação em território carioca. Às 21h30 - nem um minuto a mais e não muito depois do show da boa banda de abertura, Rival Sons, encerrar sua apresentação - os senhores de Birmingham subiram ao palco montado na Praça da Apoteose. Era a terceira apresentação do braço brasileiro da turnê “The end” - como o nome indica, trata-se da despedida do grupo dos palcos, cujo ato derradeiro se dará no domingo, dia 4, em São Paulo.

Uma olhada prévia no setlist deixava claro que o grupo caminhava em terreno seguro bem antes do show começar - a quantidade de hits bastante conhecidos entre os fãs era generosa.

Certeza confirmada quando Tony Iommi palhetou o trítono - dissonância de três acordes, durante muitos anos considerada maldita - que abre “Black Sabbath”, primeira canção do primeiro álbum da banda, de 1970 - obra considerada por muitos como a pedra fundamental do Heavy Metal. Naquele instante, logo no início, o público se entregou.

Entrega garantida pela presença de um Ozzy Osbourne afiado, animado e buscando interação com a plateia - foram vários “I love You” e “Let's get crazy, Rio!” - e que se intensificou em seguida, com a sequência “Fairies wear boots”, “After forever” e “Into the void”, as duas últimas, do álbum “Master of reality”, de 1971.

No entanto, foi quando o público cantou a sequência melódica final de “Snowblind” - canção que faz referência direta a um dos períodos mais difíceis da banda, quando seus integrantes enfrentavam problemas causados pelo consumo de cocaína - que o pacto entre músicos e plateia, de fato, se firmou.

O que aconteceu em boa hora - foi o instante em que a banda disparou a antibelicista “War pigs”, um dos maiores hits do grupo - faixa inicial do álbum “Paranoid”, de 1970 - cujos versos escritos pelo baixista Geezer Butler foram gritados em uníssono pelos fãs.

Seguiram-se “Behind the wall of sleep”, na qual o mesmo Butler demonstra sua proficiência no contrabaixo e “N.I.B.”, a história de amor satânica que também é uma das preferidas do público.

É chegada a hora da faixa instrumental “Rat salad” - momento de brilho do baterista Tommy Clufetos. Como se sabe, a exemplo do que já havia acontecido na turnê de 2013, o baterista original do Sabbath, Bill Ward, não aceitou participar da reunião - especula-se que por motivos financeiros. Coube ao americano, portanto, assumir as baquetas. E ele o faz com desenvoltura no extenso solo de bateria que se segue. Instantes como este são sempre arriscados - é fácil transformá-los em uma mera demonstração vazia de técnica, o que, em muitas ocasiões, tem um efeito de dispersão sobre parte do público.

Por sorte, Clufetos não toma esse caminho. Ele demonstra habilidade ao explorar tempos e células rítmicas velozes e complexas, mas mantém a plateia envolvida durante toda a execução enquanto prepara o caminho para “Iron man”.

Um dos hinos do grupo, a canção colocou os fãs para pular de forma enlouquecida e abriu a parte final da apresentação, que seguiu com “Dirty women”, única composição do álbum “Technical ecstasy”, de 1976, a aparecer no setlist. Nela, Iommi mostra sua habilidade de solista em uma das velhas e surradas Gibson SG, sua guitarra de assinatura. Aqui, o público parece parar para observá-lo passeando pelas seis cordas. É notável ver como todas as canções do Sabbath têm como elemento fundamental as melodias criadas pelo guitarrista.

“Children of the grave” levanta o público e funciona como antessala para o pequeno intervalo que antecede o bis programado com “Paranoid”, maior sucesso e composição mais popular da banda, cuja execução incendeia o público e cujo término indica o que todos ali já sabem: o show acabou.

Em pouco mais de uma hora e meia, o Black Sabbath faz um belo passeio sobre o primeiro - e talvez mais marcante - período de sua existência, reproduzindo com eficiência alguns de seus principais hits.

A lamentar, apenas o som. Não foram poucas as pessoas nos locais mais distantes do palco que pediram para que o volume fosse aumentado - situação que podia ser percebida com facilidade, sobretudo quando o som era comparado à esmagadora parede sonora do show de 2013, também na Sapucaí.

Fundadores do Heavy Metal, os integrantes do Sabbath podem dar a missão como cumprida. A capital fluminense não se parece nada com a Birmingham das décadas de 1960 e 1970, a cidade cinzenta, sombria e de características industriais que originou a banda. Mas é certo que os fãs que vivem no Rio de Janeiro guardarão a passagem do grupo com carinho. Talvez no lado mais escuro e pesado do coração.

Fonte: g1-RJ