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BNDES diz que vai investigar suposto favorecimento à Odebrecht em Angola.

A investigação interna do BNDES será feita por uma comissão.

Em 16/04/2017 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) informou neste sábado (15) que vai investigar internamente denúncias feitas por delatores da Odebrecht referentes a um suposto favorecimento à empresa em Angola e à contratação de uma consultoria por R$ 12 milhões a pedido de Luiz Eduardo Melin de Carvalho, então chefe de gabinete do então ministro da Fazenda, Guido Mantega. Melin já foi diretor internacional e de comércio exterior do BNDES.

Dois inquéritos foram abertos pelo ministro Luiz Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal (STF), a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), para investigar as afirmações dos delatores. A investigação interna do BNDES será feita por uma comissão.

Segundo o banco estatal, "as citações de que o BNDES tomou conhecimento até o presente momento referem-se à suposta participação de Luiz Eduardo Melin de Carvalho e Silva e de Álvaro Luiz Vereda Oliveira no processo de aprovação, pelo BNDES, de financiamentos à exportação de bens e serviços de engenharia".

Melin foi diretor Internacional e de Comércio Exterior do BNDES de janeiro de 2003 a dezembro de 2004 e de abril de 2011 a novembro de 2014 e Vereda foi assessor da presidência do BNDES de outubro de 2005 a maio de 2006, de acordo com o banco.

O BNDES faz questão de afirmar que "nenhum dos dois citados é ou foi empregado do banco, tendo, apenas, ocupado cargos de confiança na instituição", que vai buscar apoio do Ministério Público Federal e da Polícia Federal e vai cooperar na troca de informações para que "eventuais ilícitos administrativos e penais possam ser apurados em conjunto".

Consultoria de R$ 12 milhões

Marcelo Odebrecht afirmou em sua delação que a empreiteira contratou Vereda por R$ 12 milhões a pedido de Melin, não soube definir se o pedido foi feito porque "o cara era bom", porque "o cara vai fazer lobby" ou por "tráfico de influência", embora tenha achado o valor "alto", mas tomou providências para que a contratação fosse efetivada.

Outro delator, o ex-executivo Antonio de Castro Almeida, afirma que o indicado por Melin recebia pagamentos mensais de R$ 50 mil e atuaria para garantir a aprovação de uma linha de crédito do BNDES para Angola, além de aprovar em órgãos brasileiros uma lista de garantias para uma obra em Moçambique, mas o pagamento não deu resultado.

O G1 não conseguiu contato com Mantega, Melin e Vereda até a última atualização desta matéria.

Atuação de Lula em Angola

O outro inquérito vai investigar o depoimento de Emílio Odebrecht, que afirmou ter pedido ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que usasse a influência para que a empresa fosse favorecida em Angola, segundo o MPF. No depoimento, Emílio diz que Marcelo Odebrecht, seu filho, foi quem o sugeriu a procurar o ex-presidente.

No pedido de inquérito, não há mais detalhes sobre como seria essa suposta atuação do ex-presidente e se ela deu resultado. Mas, em depoimento, Marcelo afirmou que Lula fez o BNDES socorrer a Odebrecht por prejuízos.

"Essa linha de crédito acabou sendo fechada no valor de R$ 1 bilhão. No meio dessa negociação, o Paulo Bernardo [ex-ministro de Lula e Dilma], que foi indicado pelo Lula para tratar desse assunto, pediu pra gente, pediu pra mim, US$ 40 milhões para que essa linha de crédito fosse para US$ 1 bilhão", disse Marcelo, que fechou a negociação por "US$ 36 milhões, que deu R$ 64 milhões”.

Os advogados do ex-presidente Lula afirmaram que as delações são versões de réus que buscam sair da prisão ou obter benefícios pessoais e que todas as delações devem ser investigadas com isenção e imparcialidade. Eles também afirmaram que o ex-presidente sempre atuou para promover o Brasil no exterior, não determinadas empresas ou empresários.

A defesa do ex-ministro Paulo Bernardo negou que o cliente tenha tido qualquer conversa com Marcelo Odebrecht ou com qualquer outro representante da empresa sobre os assuntos relatados, e que Paulo Bernardo jamais solicitou a quem quer que seja qualquer vantagem indevida.