ESPORTE INTERNACIONAL

Buffon se despede da Champions sem o título que faltava

Um dos maiores goleiros de todos os tempos vai da euforia ao ataque de fúria.

Em 12/04/2018 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

A expectativa é de que, aos 40 anos, a saída de Buffon após a expulsão seja a imagem derradeira no torneio de clubes mais importante do mundo. O capitão da Juventus disputa a Liga dos Campeões desde 1997 e foram 117 jogos para receber o primeiro cartão vermelho. O lendário goleiro italiano foi expulso nos últimos segundos do que pode ter sido seu último jogo pela Champions - cujo título é o único que lhe falta. Depois de uma partida brilhante, ele novamente não conseguiu dar sequência ao sonho de conquistar o troféu mais cobiçado do continente. Enfurecido dentro de campo, Buffon tentou explicar seus pontos depois da partida: indignação em relação à arbitragem, respeito ao Real Madrid e deixando ainda como uma hipótese a sua aposentadoria no final da temporada.

Ainda antes da bola rolar, o protagonismo pessoal foi deixado de lado. Para Buffon, muito mais importante do que uma despedida dele era o foco em uma classificação da Juventus. E o “milagre”, como ele havia descrito, ficou muito perto de acontecer justamente contra o time mais vencedor da história - são 12 títulos da Champions.

Durante todo o jogo, Buffon pedia calma aos jogadores da Juventus. A equipe estava fazendo uma partida histórica: conseguindo igualar uma desvantagem de três gols, fora de casa, contra o maior campeão da história da competição. O curioso é que toda tranquilidade passada aos companheiros faltou para ele: o goleiro ficou inconformado com a marcação do árbitro Michael Oliver e foi expulso por reclamação. Aos 52 minutos do segundo tempo, Cristiano Ronaldo colocou o Real Madrid nas semifinais do torneio pelo oitavo ano seguido.

 
- Você claramente não tem um coração no peito, mas uma lata de lixo - esbravejou.

As palavras fugiram do tom equilibrado e sereno pelo qual ficou marcado em seus longos anos de carreira. De resto, foi o Buffon que todos conhecem: fez questão de passar pela área de entrevistas inteira do Santiago Bernabeu, sem esquecer um jornalista sequer. Reclamou muito do árbitro, sim, mas ressaltou que os merengues tiveram seus méritos e nada tinham a ver com os seus questionamentos sobre o apito.

O respeito ao adversário foi personificado com um carinhoso abraço em Cristiano Ronaldo a caminho da saída do estádio. Provavelmente o último encontro de duas lendas do futebol.

- O Real Madrid venceu e passou de fase merecidamente. Tenho que dar os parabéns porque eles realmente são um grande clube, têm uma grande torcida, um grande time. Para mim, foi uma honra estar aqui esta noite e enfrentá-los todos esses anos.

Alguns números de Buffon:

  • Campeão Mundial em 2016
  • 8 vezes campeão italiano
  • Campeão da Liga Europa
  • 4 vezes campeão da Copa Itália
  • 6 vezes campeão da Supercopa da Itália
  • 117 jogos disputados em Liga dos Campeões
  • 3 finais (2003, 2015 e 2017)

Zidane x Buffon: papéis trocados 12 anos depois...

Do banco do Real Madrid, Zidane olhou a cena e se viu do outro lado: em 2006, ele era o grande astro da seleção francesa e perdeu a cabeça na final que, vejam só, consagraria Buffon - a cabeçada em Materazzi ficou marcada na história do futebol e foi último ato de Zizou com a camisa dos Bleus. Agora em posição muito mais confortável que 12 anos atrás, ele comentou o lance fundamental do jogo. Para ele, a expulsão não muda em nada a história de Buffon no futebol.

- Não acredito que ele tenha merecido a expulsão. Em todo caso, isso não vai manchar tudo que Buffon já fez para o futebol. É um jogador enorme. E ainda pode jogar a Liga dos Campeões do ano que vem. (…) Se teve pênalti, foi pênalti. Nós não vamos falar disso. Estamos felizes que passamos para as semifinais. Eles jogaram muito bem e nós fomos regulares, mas tivemos vontade de nos classificar e lutamos até o final - concluiu o técnico do Real Madrid.

Naquele ano, Zidane e Buffon eram incontestavelmente os pilares de França e Itália. E o italiano ainda alcançou a decisão podendo se tornar o goleiro com mais tempo sem sofrer gols na história da Copa do Mundo. Bastava manter as redes intactas até os 20 minutos do segundo tempo para que ele ultrapassasse os 517 minutos de outro italiano, Walter Zenga.

 

Pênalti para a França, Zidane na cobrança, e a cavadinha ainda tocou o travessão antes de entrar como que num capricho. Buffon viu sua possibilidade de recorde (que pertence a Zenga até hoje) devastada logo aos sete minutos de jogo. Na prorrogação, lá estava ele novamente frente à frente com o camisa 10. Mas, desta vez, desviou a cabeçada para fora com a ponta dos dedos.

Isso foi pouco antes de Zidane abrir mão da imagem de bom samaritano e da própria presença na final para responder as provocações de Materazzi com uma cabeçada, uma das cenas mais inolvidáveis de todas as Copas. No momento da agressão, todos os olhos estavam do outro lado do campo. Nem o árbitro argentino Horácio Elizondo testemunhou o acontecido, nem os dois assistentes, tampouco os jogadores. O único espectador com a visão clara era Buffon.

- Quando eu cheguei ali, eu percebi que os jogadores não sabiam o que tinha acontecido, com exceção de Gianluigi Buffon, que estava protestando com o assistente. Mas os outros viram quase nada, assim como eu - relatou o árbitro na época.

Buffon roubou a cena. Seu primeiro ato foi dirigir-se ao bandeirinha e cobrar a expulsão do colega. Com o dedo nos olhos, ele gesticulou "você viu, você viu!". Depois do longo bate-papo da arbitragem, Zidane foi expulso. Foi então que o goleiro decidiu consolar o desolado colega, o abraçou. Pediu desculpas, mas retificou que o vermelho era merecido