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Casos de furto de petróleo para refino clandestino disparam

Polícia encontrou refinarias ilegais em vários pontos entre RJ e SP.

Em 10/07/2017 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Os casos de furto de petróleo para refino clandestino da matéria-prima dispararam neste ano no Brasil. Foram registradas 78 ocorrências de janeiro a maio, superando os 72 registros do ano passado, a maior parte concentrada na Baixada Fluminense. Em 2015, houve 14 casos enquanto que, em 2014, apenas 1.

Em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, uma força-tarefa do Ministério Público e da Polícia Civil do Rio de Janeiro fez uma inspeção em uma fábrica de solventes e encontrou petróleo cru em um tanque que deveria armazenar um tipo de óleo combustível essencial na linha de produção, a gasolina e o óleo diesel.

Os engenheiros e químicos do Centro de Pesquisa da Petrobras analisaram as características de uma mostra de óleo (os tipos de rocha, sedimentos e matéria orgânica que formam a "identidade" do reservatório) e descobriram a origem do petróleo encontrado na refinaria clandestina.

14 milhões de litros furtados em 2016

A Petrobras tem 15 mil quilômetros de dutos para transportar petróleo e derivados como gasolina, óleo diesel e nafta - que é usada, por exemplo, na fabricação de plásticos. A maioria dos furtos está concentrada entre o Rio de Janeiro e São Paulo, onde ficam 70% dos oleodutos.

“As investigações estão focando, principalmente, nas quadrilhas que receptam para utilizar os produtos”, diz o delegado Pablo Sartori, da Polícia Civil do Rio de Janeiro.

Só no ano passado foram furtados 14 milhões de litros, o equivalente a 350 caminhões-tanque carregados, que geraram um prejuízo de R$ 33,5 milhões. A suspeita é de que haja o envolvimento de funcionários da Petrobras.

“Nós não podemos descartar o envolvimento de qualquer pessoa”, diz a gerente-executiva de Inteligência e Segurança Corporativa da Petrobras, Regina de Luca.

Buracos no chão

Em meio a fazendas e estradas de terra desertas, os criminosos abrem buracos no terreno até encontrar os dutos, enterrados a quase 2 metros de profundidade e dão início a uma operação arriscada.

Eles perfuram dutos de alta pressão e conseguem desviar o combustível até um caminhão-tanque. O método é chamado de trepanação. “Essa trepanação é feita com uma válvula específica para conter a pressão. E contendo a pressão é possível retirar o combustível de uma forma que ele possa encher o caminhão”, diz o delegado titular delegacia do meio ambiente, Roberto Gomes Nunes.

Na área rural, as investigações mostram que saíam - praticamente todas as noites - pelo menos, 10 caminhões-tanque carregados de combustível.

Só no ano passado foram furtados 14 milhões de litros, o equivalente a 350 caminhões-tanque carregados que geraram um prejuízo de R$ 33,5 milhões.

O homem apontado como o chefe dessa grande quadrilha é Denilson Peçanha, conhecido como Maninho do Posto, ex-vereador de Duque de Caxias, pelo PMDB. Ele ocupou o cargo entre 2008 e 2012.

Em março deste ano, a Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente do Rio fez uma operação para tentar desarticular o bando. Escutas telefônicas gravadas com autorização da Justiça revelaram detalhes do esquema.

O petróleo ia pra várias partes do país. Em uma das escutas, quem fala é Acione Dantas de Souza, o Kaká, com um motorista. “Você vai fazer o transporte pra nós. Daqui pro Mato grosso, eu vou vender pra Zanon, vou vender pra Goiânia, é um volume grande demais”.

Um de seus motoristas, Jean Carlos Gonçalves, foi preso com um caminhão cheio de petróleo roubado e virou informante da polícia. Sem saber disso, Kaká se apresentou à Justiça como sua testemunha de defesa, mas ele nem desconfiava de que já tinha caído no grampo da polícia.

Kaká e Jean respondem em liberdade por furto, uso de documento falso e organização criminosa. Na quadrilha, as funções eram bem definidas. Tinha quem cuidasse do furto, do transporte, do refino do petróleo e também os encarregados pela segurança.

“Num dos casos, a Polícia Rodoviária Federal prestou depoimento e ela deixou bem claro que havia uma viatura policial, no caso especifico da Polícia Militar, dando cobertura a ação”, diz o delegado Gomes Nunes.

Em nota, o comando da Polícia Militar informou que a Corregedoria Interna da PM está colaborando com as investigações do Ministério Público.

Empresa de lubrificantes

Em uma empresa de óleos lubrificantes, em Cosmópolis, no interior paulista, foram encontrados quase 2 milhões de litros de petróleo cru, em março. Os donos estão presos e a empresa foi fechada.

A suspeita é de que o petróleo encontrado tenha sido furtado do duto que liga o norte fluminense a Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

A polícia afirma que tanto a refinaria clandestina de São Paulo como a do Rio de Janeiro eram abastecidas pela quadrilha de Maninho do Posto. Depois, parte do petróleo furtado e refinado clandestinamente era revendida em seus postos.

Os combustíveis que correm pelos dutos da Petrobras também são cobiçados por outros bandos. Os criminosos tentam agir de forma mais discreta. Alugam galpões, casas, sítios e botam em prática uma engenharia amadora e desastrosa.

Poço de 5 metros no interior paulista

Em Itaquaquecetuba (SP), os bandidos abriram um poço de 5 metros de profundidade. Instalaram anéis de concreto para evitar demoronamentos e começaram a escavar um túnel que chegou a 20 metros de extensão. Ele foi revestido com vigas de madeira, mas um grave acidente acabou com todo o planejamento da quadrilha.

Havia cabos de energia para manter a bomba funcionando e também para manter todo o túnel iluminado. Mas também havia água e o homem que estava perfurando um desses dutos morreu vítima de choque elétrico.

Os ladrões também abriram um túnel em um sítio. A escavação começou dentro de uma casa, a terra foi deixada nos cômodos e assim os ladrões logo chegaram ao duto de petróleo cru.

Vazamento de duto

Em São Miguel Paulista, Zona Leste de SP, uma das áreas mais populosas da capital, por muito pouco, quarteirões inteiros não foram pelo ares. Parte da região foi contaminada por nafta, um derivado de petróleo. “A gente acordou com o cheiro, assim, dentro de casa mesmo. O cheiro subia pelo ralo do banheiro”, diz um morador.

O vazamento foi provocado por ladrões que furaram um duto da petrobras. É como se 275 caixas d'àgua de mil litros cada tivessem vazado ao mesmo tempo.

“Essa nafta é transparente, parece água, porém o cheiro é muito forte. Isso migrou para dentro das tubulações das casas e nós tínhamos índices de explosão até nas pias. Essa é a extensão do que pode ocorrer. Qualquer fósforo aceso por ali, nós teríamos tido uma explosão”, diz Regina de Luca, gerente-executiva da Petrobras.

O vazamento aconteceu há 9 meses, mas por determinação da Companhia de Abastecimento de Água de São Paulo, o lençol freático continua sendo monitorado diariamente. Ainda há uma pequena quantidade de nafta nas amostras.

Segundo a Petrobras, não existe risco de explosão no local. Contudo, para Regina, da Petrobras, a ação criminosa que gerou o vazamento deveria ser qualificada como uma pena mais severa. "E se houver perda de vidas humanas que isso, então, seja entendido como um homicídio”, diz.

(Foto: Polícia Militar/Divulgação)