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Cinéfilos fazem loucuras para ver até seis filmes por dia no Festival do Rio.

Maratona com 250 filmes começam nesta quinta e vai até 16 de outubro.

Em 06/10/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

O Festival do Rio começa a sua 18ª edição oficialmente nesta quinta-feira (6). Mas, para os cinéfilos mais ortodoxos, o evento já começou: a sinopse dos 250 filmes já foi lida, a planilha com os títulos que serão assistidos já está pronta e os ingressos, comprados. Para este grupo os próximos 11 dias – até o encerramento, no dia 16 – serão uma maratona entre um filme e outro.

E aí vale tudo por cinema: perder prova, inventar que a mãe ficou doente, dar um atestado no trabalho e até se hospedar em um hotel para ficar mais perto dos cinemas. Pelo menos é o que dizem os cinéfilos ouvidos pelo G1.

Há quem encare até seis filmes por dia e passe dos 50 títulos por edição. É o caso do cineasta Hsu Chien, que frequenta o festival desde meados dos anos 80, “quando ainda se chamava Rio Cine Festival”, diz. Foi lá que descobriu nomes hoje consagrados.

“’A lei do desejo’ foi exibido no final dos anos 80. O filme foi um escândalo e o Antonio Banderas virou ídolo. Ninguém nunca havia ouvido falar do [Pedro] Almodóvar”, conta.

A paixão pela sétima arte também motivou muitas amizades. “Tem certas pessoas que eu só encontro no Festival, às vezes tem duas fileiras repletas de amigos”, conta Carmen Cortez, amiga de Hsu, que, desde 1999, não perde nenhuma edição e já faltou trabalho para não perder sessão. “Já inventei desculpa de dizer que minha mãe tinha caído na rua e que eu precisei acudir”, conta.

Carmen já virou até nota em uma coluna social, por conta de um comportamento pouco usual no cinema. “Saiu na coluna do Ancelmo [Gois, de "O Globo"] que, durante uma sessão do Festival do Rio, tinha uma mulher da sopa. Rolou essa história de que a mulher da sopa levou um tupperware com sopa e tomou durante a sessão. Como a gente assiste muito filme por dia, não dá tempo de almoçar, então todo mundo leva uma coisa na bolsa e come entre uma sessão e outra. Descobrimos que a mulher da sopa era a Carmen”, conta Hsu.

Carmen virou meme entre os amigos e até foi criado o Prêmio Sopão de Ouro do Festival, em que 50 cinéfilos que ficaram sabendo da história votam no melhor filme exibido.

Mais nova no grupo, a estudante de cinema Catarina Almeida está em sua sétima edição e também admite que inventa desculpa para não perder filme.

“Ano passado, foi no período de provas: então eu tive que esquecer as provas! Eu avisei aos professores e, como eu faço cinema, eles até que são razoáveis. Também já tive que faltar ao trabalho. Pegava atestado de três dias, quatro, eu ia no médico falando que não estava me sentindo bem”, conta. 

Hotel para ficar perto
Em 2014, o agente administrativo Flavio Mulder, morador de Rocha Miranda, se hospedou em um hotel no Catete para ficar mais perto dos cinemas, quase todos na Zona Sul. “Costumo ver três por dia e era mais fácil ficar na Zona Sul”, conta.

O crítico de cinema Francisco Carbone também coleciona histórias. “Sou de uma época em que não existia venda online, eu já fui para a fila 8h da manhã para ingresso que começava a vender meio dia e durante muitos anos foi assim. Já dei perdido em relações. No ano de 'Broke Back Mountain', o filme chegou ao Festival de surpresa. Eu recebi um torpedo falando que o filme tinha chegado e eu estava dentro do cinema. Eu saí da sessão e fui para a fila comprar. Nunca vi o final daquele filme”, lamenta.

Na opinião do crítico, 2016 promete. “O festival esse ano, sem sombra de dúvida, é a melhor seleção em muitos anos. Muitos mesmo. Eu vi 40 filmes muito interessantes só de bater o olho”, diz.

Veteranos do Festival dão dicas para novatos
G1 reuniu dicas sobre como se programar para a maratona cinematográfica que a cidade recebe.
- Dê uma olhada nos filmes que bombaram em grandes festivais do mundo. Muito do que foi premiado em Cannes, Veneza, Berlim e Toronto estará disponível aqui.
- Gaste um tempo lendo a revista do festival, lá há muitos destaques da programação.
- Antes de incluir um filme em sua lista, veja a data de estreia dele no Brasil. Se estiver próximo, talvez valha mais investir em outros títulos que não vão estrear.
- Se vai assistir mais de um filme em um dia, pense no tempo de deslocamento entre as salas e priorize cinemas próximos.
- Se estiver com o horário apertado entre dois filmes, evite sessões com a presença de diretores e elenco: elas costumam atrasar.
- Compre logo os filmes que não quer perder de jeito nenhum: as sessões esgotam muito rápido.
- Corra para chegar cedo, as sessões do festival não têm lugar marcado.

Os filmes imperdíveis, segundo os cinéfilos:
"Toni Erdmann", de Maren Ade
"A mulher que se foi", de Lav Diaz
"Você e os seus", de Hong Sangsoo
"Manchester à beira mar", de Kenneth Lonergan
"Redemoinho", de José Luiz Villamarim
"Apenas o fim do mundo", de Xavier Dolan
"Grave", de Julia Ducournau
"Eu, Daniel Blake", de Ken Loach
"Você e os seus", de Hong-Sang-Soo
"Voyage of time", de Terence Mallick
"O cinema novo", Erick Rocha
"Divinas divas", Américo Leal
"E a mulher criou Hollywood", Julia Kuperberg e Clara Kuperberg
"Região selvagem", de Amat Escalante
"Waiting for B.", Paulo Cesar Toledo, Abigail Spindel
"Então morri", Bia Lessa e Dany Rolan
"Um grande plano", Kteer Kbeer
"Barakah com Barakah", Mahmoud Sabbagh
"Paraíso", Rai

Fonte: g1-RJ