ECONOMIA NACIONAL

Clientes do banco digital Neon relatam transtorno

Fintech está proibida de movimentar contas desde sexta.

Em 08/05/2018 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Clientes que tiveram suas contas bloqueadas pela suspensão do banco Neon ainda enfrentam problemas por não conseguir pagar contas e resgatar investimentos. Alguns deles disseram ao G1 que pretendem sacar todo o dinheiro depositado na fintech Neon Pagamentos assim que a conta for liberada. Até esta segunda (7), apenas quem tem cartão de débito podia movimentar os recursos.

As contas digitais da Neon Pagamentos foram suspensas após a decisão do Banco Central de fechar o banco Neon na sexta-feira (4), já que as duas companhias operavam em parceria, apesar de serem instituições diferentes. Entenda a relação entre as duas empresas.

No site Reclame Aqui, o número de queixas contra o banco Neon cresceu desde o bloqueio das contas digitais. Foram 21 reclamações em três dias, contra nove relatos nos três dias anteriores.

De janeiro a abril, o banco Neon recebeu uma média de 53 reclamações de clientes por mês, sendo que, nos seis primeiros dias de maio, havia 30 casos.

'Foi muito transtorno'

O subgerente de loja Alef Bezerra, de 23 anos, precisava fazer uma transferência com urgência para outra conta, mas encontrou os serviços fora do ar.

“Eu fiquei de mãos atadas, já que meu cartão não havia chegado e a conta estava bloqueada. Foi muito transtorno”, conta Alef, que procurou o Reclame Aqui, mas ficou sem resposta de quando os serviços seriam retomados.

O que mais o preocupa é a falta de prazos por parte do Neon para retomar os serviços. Apesar de aprovar os serviços da fintechs, citando a facilidade em fazer compras pela internet sem burocracia, ele planeja retirar todo o dinheiro da conta. “Vou permanecer com a única conta que tenho em outro banco, porque esse bloqueio gerou muita dor de cabeça”.

De acordo com o Neon, as atividades serão retomadas "o mais rápido possível". Nesta segunda-feira, eles anunciaram uma parceria com o banco Votorantim. No app do banco digital, disseram que "em breve" voltariam com "mais notícias boas", sem especificar datas ou prazos.

À espera do FGC

Quem investia em Certificados de Depósito Bancário (CDB) no Neon vai precisar esperar o pagamento do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), espécie de seguro do investidor que cobre recursos de até R$ 250 mil. O dinheiro destes investidores será usado para pagar os credores do banco que quebrou.

O analista de sistemas Giovanny Melo, de 23 anos, está entre os clientes que colocaram seu dinheiro em CDBs do Neon e agora não consegue movimentar os recursos, nem recebeu uma previsão de quando será ressarcido.

“Era um banco que sempre me atendeu bem, mas eles não estavam nem um pouco preparados para o que aconteceu. Agora resta esperar o pagamento do FGC, diz Giovanny”.

Ele planejava investir uma quantia maior no Neon para fazer uma viagem no fim do ano e até comprar um carro, e se diz aliviado por não ter depositado o dinheiro. “Agora, não pretendo mais ter relação com o banco e vou sacar todo o dinheiro depositado quando puder”, conta.

O FGC informou ao G1 que o pagamento da garantia aos credores costuma levar entre sete e 10 dias úteis após o recebimento da lista de clientes e respectivos valores, a ser fornecida pelo liquidante designado pelo Banco Central. O Fundo não informou o valor que será pago aos clientes do banco Neon, por tratar-se de informação não pública.

Parceria com o banco Votorantim

Já o estudante Matheus Amaral, de 19 anos, também fez uma reclamação no Reclame Aqui dizendo ter sido prejudicado pelo bloqueio das contas, mas está otimista com a parceria anunciada entre a fintech Neon e o banco Votorantim, que deve permitir a liberação das contas.

Ele diz que conseguiu usar seu cartão de débito nesta segunda-feira, mesmo sem a possibilidade de movimentar o dinheiro pelo aplicativo. Apesar do bloqueio, Matheus pretende continuar como cliente do Neon.

“Como eles vão se unir com o Banco Votorantim, acho que a operação está ficando mais sólida”, disse. “O fato de não ter taxa é bom para o uso que eu faço, então vou continuar com a conta”, acrescentou.

O preparador de pneus Fernando Belardo, de 29 anos, montou um grupo no Whatsapp para reunir clientes do Neon que foram prejudicados e diz que a maior parte deles pretende retirar o dinheiro. Ele, no entanto, diz que vai manter seu dinheiro na conta, apesar de também ter recorrido ao Reclame Aqui por não poder pagar contas que venceriam nesta segunda.

Origem do banco e da fintech

A Neon Pagamentos nasceu como Contro.ly e foi fundada por Pedro Conrade. Mudou de nome após firmar uma parceria (joint venture) com o antigo banco mineiro Pottencial, fundado pela família Géo, que também acabou rebatizado de Banco Neon.

Na prática, o que acontecia é que as duas companhias se apresentavam, juntas, como uma única instituição chamada “Banco Neon” e tinham até o mesmo site. Com a liquidação financeira do banco Neon, os clientes da startup acabaram com os serviços bloqueados.

A fintech Neon diz ter cerca de 600 mil clientes e opera contas digitais, todas elas vinculadas ao banco que entrou em liquidação. Já o banco Neon operava os investimentos em CDBs feitos também pelos clientes da Neon Pagamentos, os quais foram bloqueados.

(Foto: Divulgação)