TEMAS GERAIS

Com alta do dólar, escolas de SP preparam o "carnaval da criatividade".

Alta do dólar fez com que produtos encarecessem ou ficassem escassos.

Em 09/11/2015 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Em vez de cordões importados, um modelo sintético nacional. Nos adereços das fantasias, mais cores e menos plumas. O dólar está "nas alturas" e o carnaval de 2016 faz as escolas de samba de São Paulo rebolar.

A três meses dos desfiles no sambódromo do Anhembi, dias 5 e 6 de fevereiro, carnavalescos reclamam que a alta do dólar encareceu ou fez sumir materiais importados essenciais para o acabamento das fantasias.

“Além de o material estar mais caro, muitos materiais não são encontrados mais”, disse Jorge Freitas, carnavalesco da Império de Casa Verde. Como exemplo de material que está mais escasso, o profissional cita as plumas.

“Eu não vou perder a qualidade, mas vou diminuir a quantidade. De repente eu ia utilizar 30 plumas numa fantasia, vou utilizar 20. Está mais cara e difícil de achar”.

O carnavalesco destaca que uma das marcas do seu trabalho é o acabamento e o requinte. Com a crise, ele está tendo que trocar alguns materiais e fazer algumas adaptações. “Hoje você vai ter que partir mais pela criatividade”, completa.

Para Amarildo de Mello, carnavalesco da Águia de Ouro, a situação não é diferente. “Eu acho que às vezes a falta do recurso te faz pensar mais e criar mais. Tira da cabeça o que não tem no bolso”, brinca.

Como material que está muito mais caro, Amarildo cita os chamados “galões”, usados no acabamento de fantasias. “Os galões, por exemplo, triplicaram de preço. Eles são matéria prima importantíssima para o figurino”.

Como os produtos importados estão mais caros e difíceis de encontrar, os produtos nacionais estão com preços mais altos que no ano passado. “Como está difícil de achar, quem tem está cobrando alto”, disse o carnavalesco da Mocidade Alegre, Sidnei França.

Um exemplo de substituição é o “cordão de São Francisco”, usado na aba de chapéus de fantasias. Sidnei disse que o nacional é sintético, “lembra plástico”, explica o carnavalesco. Já o importado é de cetim dourado, mais “refinado”, e está mais difícil de encontrar.

O diretor financeiro da Pérola Negra, Marcelo Pujol, disse que uma das saídas foi comprar mais produtos feitos no Brasil. “A gente recorreu agora ao produto nacional. E com a expertise do carnavalesco também deu pra gente tirar pluma e outras coisas importadas que nós usávamos”.

Pujol também acredita que a falta dos produtos faz com que a produção tenha muita inovação. “Fazer um carnaval agora não vai ser um carnaval rico em pluma, mas vai ser rico em criatividade, vai ser rico em trabalho”, afirmou o diretor.

O carnavalesco da Pérola Negra, Fábio Borges, disse que neste ano reduziu o uso do acetato, um material importado usado na produção das fantasias. “O acetato é um material que eu costumo usar muito e usei muito pouco esse ano”.

Em compensação, o profissional contou que teve o “privilégio de fazer uma opção de estética de carnaval que está me permitindo driblar essa dificuldade”. Isso porque o tema da escola fala sobre dança, que segundo ele não precisa de muitas plumas e pede fantasias mais leves.

Fornecedor tem queda de 50%
Elias Emile Ayoub, dono do Palácio das Plumas, que há 35 anos fornece materiais para o carnaval paulista, disse que em todos esses anos “nunca viu nada igual”. “Eu estou um pouco desesperado”, assume o empresário.

O fornecedor disse que neste ano o movimento está 50% menor que nos outros anos. Segundo ele, as escolas de samba começavam a adquirir os produtos muito antes do que neste ano. “Eu não queria ser tão pessimista, mas estou sendo realista”.

A loja de Elias, na Aclimação, trabalhava com produtos nacionais e importados, mas há dois anos  não importam mais. “Há dois anos que não importo, por causa da crise”.

Assim como os carnavalescos, o empresário aposta na criatividade para tentar driblar a crise. “O importante é nossa criatividade comercial. Tem que inventar produto, tem que trabalhar cada vez mais. Tem que procurar segmentos e produtos diferenciados para poder se destacar”.

Queda nas importações
Em comparação com outubro do ano passado, as importações tiveram queda de 21,1%, segundo dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) nesta terça-feira (3).

Fonte: G1