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Corpo do cirurgião plástico Ivo Pitanguy é velado no Rio de Janeiro.

O médico de 93 anos, estava em casa e sofreu uma parada cardíaca, na tarde de ontem (6).

Em 07/08/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

O corpo de Ivo Pitanguy começou a ser velado às 13h deste domingo (7) no Memorial do Carmo, na Zona Portuária do Rio de Janeiro. O cirurgião plástico, de 93 anos, estava em casa e sofreu uma parada cardíaca, na tarde de sábado (6).

Amigos e parentes participam da cerimônia de despedida do cirurgião. Várias coroas de flores foram enviadas, com mensagens de carinho à família. Por volta das 17h, familiares e amigos de Ivo Pitanguy participaram de uma cerimônia conduzida pelo padre Omar. Após as orações, eles cantaram a música Peixe Vivo, que segundo o Padre Omar era uma música que Pitanguy gostava muito. Sob aplausos, o caixão com o corpo de Ivo Pitanguy seguiu para a cerimônia de cremação.

Filhos emocionados

Gisela Pitanguy, filha do cirurgião, falou com os jornalistas sobre a importância do pai e seus projetos." São muitas mensagens que ele deixa. A grande contribuição dele é o olhar com o paciente, como um ser humano, não importava o tamanho da dor",  disse

Gisela contou que o pai estava escrevendo um livro técnico.  Segundo ela, o trabalho iniciado por Pitanguy na Santa Casa de Misericórdia, onde pacientes de baixa renda são atendidos, vai continuar e deverá ser tocado pelo neto, filho de Gisela.

" O trabalho continua. O meu filho Antônio Paulo está no segundo ano da pós graduação e dará essa continuidade. Ele[ pai] estava escrevendo um livro que será lançado no final de agosto".

Ivo Pitanguy Filho, falou sobre a trajetória do pai. "Meu pai viveu a vida intensamente. Estive com ele ontem, conversamos. Ele faleceu sereno, sem dor e em casa como ele queria. Perdemos uma pessoa imortal. Ele foi muito importante para a família, um grande amigo. Sempre muito otimista. Ele foi um patrimônio brasileiro."

Outro filho de Pitanguy,

Outro filho de Pitanguy, o artista plástico Bernardo Filho definiu o pai como "fonte" artística, e disse que ele mistura a personalidade de grandes gênios e figuras importantes da humanidade.

"Hoje ele é sem dúvida a estrela que mais brilha no céu.Quando um rei vai, fica o legado. Eu já chamava ele de rei. Ele dizia que quando vai um rei, vem outro. Mas não um rei como ele.
Ele traz a genialidade coletiva dos grandes gênios, como de Michelangelo, de Da Vinci.  A bondade de Madre Tereza e a generosidade de Chico Xavier. Esse foi meu pai" definiu Bernardo.

O governador em exercício do Rio de Janeiro, Francisco Dornelles, também compareceu ao velório. " Ivo Pitanguy foi uma pessoa fantástica. Ele fez um trabalho fantástico na Santa Casa. O Brasil e o Rio de Janeiro morrem um pouco com a morte de Pitanguy. Ele foi uma pessoa que só tinha grandeza", disse.

Homenagem de artistas e personalidades

Alguns artistas também foram prestar homenagens ao cirurgião. A atriz Maria Zilda disse que conhecia Ivo Pitanguy há muitos anos por causa da sua amizade com o filho dele, Helcius e outros amigos em comum.

"O professor sempre foi uma pessoa muito gentil. Eu frequentava a casa dele em Angra dos Reis. Eu tenho uma lembrança dele muito forte e muito grata".

Ela também contou algumas histórias desta convivência. " Eu ia viajar para Portugal para gravar um comercial e eu queimei a minha perna com o cano da motocicleta. Fiz um buraco e fui desesperada falar com ele e ele me curou e eu consegui viajar. Essa gratidão Ä— uma coisa que a gente não esquece nunca. Eu sempre vou lembrar dele com aquele sorriso".

A escritora e secretária-geral da Academia Brasileira de Letras, Nélida Piñon lembrou a generosidade de Pitanguy. "Combinado esse talento ímpar com generosidade, é um homem que semeou bondade, cuidados com o  corpo. Era um  ser humano de grande brasilidade porque ele poderia ter vivido no exterior. Ele amou o Brasil como poucos e deixou uma semente forte e pródiga. Um exemplo para os jovens de hoje ter uma pessoa com um fundamento como ele é extraordinário. Se o Brasil tivesse um panteão, hoje ele estaria sendo conduzido a ele".

O presidente da ABL, Domício Proença Filho, está nos Estados Unidos e divulgou nota sobre a morte de Ivo Pitanguy. Ele determinou luto de três dias e que a bandeira da Academia fosse hasteada a meio mastro.

"Ivo Pitanguy era uma presença brasileira em todo o mundo, um amigo fraterno, um acadêmico sempre participativo na ABL, uma raríssima figura humana, aberta plenamente à doação dos seus saberes e de sua alta competência."

Mestre da cirurgia plástica

Pitanguy fez do Brasil a principal referência mundial em cirurgia plástica ao desenvolver técnicas nas áreas de estética e de reparação. Transformou a vida de milhares de pacientes, famosos e anônimos. Formou gerações e gerações de alunos, novos cirurgiões que aprenderam com ele a respeitar e valorizar a autoestima dos pacientes.

Além da carreira médica, se destacou também como escritor. Pitanguy foi eleito imortal pela Academia Brasileira de Letras em 11 de outubro de 1990 e foi o quarto a ocupar a cadeira 22, cujo patrono é José Bonifácio, após Medeiros e Albuquerque, Miguel Osório de Almeida e Luís Viana Filho.

Em seu discurso de posse na ABL, o cirurgião e escritor citou o espanhol Pablo Picasso:  "Picasso dizia que há dois tipos de artista: ‘Aquele que faz do sol uma simples mancha amarela, e o que de uma simples mancha amarela faz o sol’. Creio que escritor é quem transforma manchas amarelas em sóis: tanto é iluminado quanto ilumina. Tem luz própria."

Pitanguy amava o trabalho, a harmonia e a natureza. Costumava dizer que nunca conseguia definir o conceito de beleza, mas sempre que a encontrou soube percebê-la. Também falava que a cirurgia plástica é uma tentativa de buscar a harmonia entre corpo e espírito, a emoção e o racional.

Em junho, o cirurgião foi hospitalizado para tratar de uma infecção. A partir de setembro, quando apresentou um problema renal durante uma viagem a Paris, passou a se submeter a sessões de hemodiálise.

Nesta sexta (5), em uma cadeira de rodas, o médico empunhou a tocha olímpica na Gávea, Zona Sul do Rio, bairro onde está localizada sua clínica de cirurgia plástica.

Pitanguy nasceu em Belo Horizonte, em 5 de julho de 1923, filho do médico cirurgião Antonio de Campos Pitanguy e de Maria Stäel Jardim de Campos Pitanguy, e deixa viúva a senhora Marilu Nascimento, com quem era casado desde 1955, quatro filhos - Ivo, Gisela, Helcius e Bernardo - e cinco netos.

Trajetória profissional

Começou a graduação na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e se formou pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 1946. Por mais de 10 anos continuou se especializando em cirurgia plástica e fez estágios em serviços de cirurgia plástica nos Estados Unidos e na Europa.

Após uma temporada fora do país, voltou ao Brasil para trabalhar como chefe na 19ª enfermaria do Serviço de Cirurgia da Santa Casa, que foi o primeiro serviço de cirurgia de mão em toda a América do Sul, quando a especialização ainda era incipiente no país.

Um de seus mestres foi o francês Marc Iselin, um dos criadores da cirurgia de mão e referência no atendimento de pessoas mutiladas da 2ª Guerra Mundial, com quem trabalhou como assistente em Paris.

Depois desta experiência, trabalhou como chefe do Serviço de Queimaduras e de Cirurgia Reparadora do Hospital Souza Aguiar. Também criou a 38ª Enfermaria da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, que atendia pacientes de baixa renda.

Curso de Especialização em Cirurgia Plástica

Era professor titular do Curso de Especialização em Cirurgia Plástica da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, desde 1960, e de outros cursos em outras instituições. Também foi professor convidado em hospitais, universidades e associações de Cirurgia Plástica de diversos países.

Tinha o título de doutor honoris causa por diversas universidades, entre elas Universidade de Tel Aviv, Israel (1986), Universidad Autónoma de Guadalajara, Jalisco, México (2002) e Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (29/04/2016).

Também recebeu uma série de homenagens de diferentes instituições, sendo que neste ano foi homenageado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, cedendo seu nome para o “Museu da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Ivo Pitanguy”.

Em 1989, o Papa João Paulo II lhe concedeu o Prêmio Cultura da Paz. Também recebeu da Unesco o Prêmio pela Divulgação Internacional da Pesquisa Médica.

Era é autor de aproximadamente 800 trabalhos científicos em revistas brasileiras e internacionais, além de diversos livros.

Por Aline Pollilo/g1 Rio