DIREITOS HUMANOS

Crise mundial de cuidado afetará 2 bilhões de pessoas até 2030

O cuidado deixa de ser questão apenas familiar e se torna uma demanda social e de trabalho.

Em 18/08/2023 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Foto: HayDmitriy/DepositPhotos/Agência Câmara de Notícias

O envelhecimento da população tem gerado uma verdadeira crise no provimento de cuidados e levado o Poder Público e as instituições privadas a mudarem o olhar em relação às necessidades das populações vulneráveis.

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A cada segundo, duas pessoas tornam-se oficialmente idosas no mundo. Em 2000, já havia mais indivíduos com 60 anos ou mais que crianças menores de 5 anos e, nesse ritmo, em 2050, pela primeira vez, haverá mais idosos que menores de 15 anos, segundo estudo do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e da HelpAge International. O envelhecimento populacional é uma verdade que traz tanto celebração quanto desafio para os tempos atuais. Isso porque, em todo o mundo, mais de 46% dos idosos apresentam algum tipo de incapacitação, sendo cerca de 250 milhões casos moderados a graves. Ou seja, eles precisam de cuidados. De acordo com o último relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), esse número deverá chegar a 2,3 bilhões em 2030 - há cinco anos, era de 2,1 bilhões. É aqui que os países se veem num conflito: quem vai cuidar dessa parcela significativa da população?

Geriatrônica

A Alemanha prevê cerca de 670 mil postos de cuidadores não preenchidos até 2050. A solução tem sido criar robôs para assumir tarefas realizadas hoje por enfermeiras, cuidadores e médicos. O setor já tem até nome: geriatrônica, que explora tecnologias de robótica, tecnologia da informação e 3D para geriatria, gerontologia e enfermagem.

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O envelhecimento da população tem gerado uma verdadeira crise no provimento de cuidados e levado o Poder Público e as instituições privadas a mudarem o olhar em relação às necessidades das pessoas vulneráveis: o cuidado deixou de ser uma questão apenas familiar e se tornou uma demanda social, bem como, um nicho de mercado de trabalho.

Trabalho

Especialistas das áreas de economia, antropologia, psicologia e filosofia política e outras ciências sociais se debruçam sobre estudos nesse dilema há mais de 30 anos e chegam à mesma conclusão: o cuidado é um trabalho fundamental para assegurar o bem-estar de todos, uma vez que qualquer pessoa pode se tornar dependente em algum momento da vida, segundo um estudo conduzido pela Universidade de São Paulo (USP) e o Centro de Pesquisas Sociológicas e Políticas de Paris.


A empreendedora Lívian Tononi criou uma plataforma de atendimento on-line. Foto: Divulgação

De acordo com a pesquisa, instituições públicas de longa permanência para pessoas com mais de 60 anos ainda são escassas e atendem menos de 1% da população nessa faixa etária num país onde 13% da população é considerada idosa, um percentual que tende a dobrar nas próximas décadas, conforme projeções do IBGE. É por isso que a mercantilização do cuidado tem sido a solução encontrada por muitas famílias.

Lívian Tononi, diretora da Azo Cuidados, uma plataforma capixaba de atendimento on-line, explica que, historicamente, a família sempre foi a primeira opção no cuidado com os familiares vulneráveis - idosos, crianças e portadores de deficiência -, com as mulheres assumindo o protagonismo da função e exercendo-a de forma gratuita. Entretanto, a presença cada vez mais constante delas no mercado de trabalho abriu uma lacuna e está mais difícil encontrar alguém para cuidar. O problema ganha amplitude ao esperar que essa responsabilidade seja exercida sem remuneração.

“É um fato que o envelhecimento populacional apresenta desafios para os governos e a sociedade de modo geral, com o número e a proporção de pessoas idosas aumentando mais rapidamente que qualquer outra faixa etária. Entretanto, é fundamental assegurar que as pessoas envelheçam com dignidade e segurança, desfrutando da vida com todos os direitos humanos e liberdades fundamentais garantidos. Afinal, se para alguns setores, como o Estado, o envelhecimento pode ser visto como um desafio, para outros, como o mercado de trabalho e as relações familiares, ele, na verdade, é uma oportunidade”, conclui Lívian. (Por Denise Klein/AsImp)

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