ECONOMIA NACIONAL

Crise na Petrobras e ajuste afetam emprego no Rio, diz secretário.

Segundo Augusto Ribeiro, da SMTE, crise política também causa impacto.

Em 25/08/2015 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

As crises econômica e política que atingem o país, aliadas à crise que afetou a Petrobras, após as denúncias da Operação Lava Jato, e o ajuste fiscal do governo explicam a liderança do Rio de Janeiro na lista das cidades que mais demitiram em 2015, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). A análise é do secretário municipal de Trabalho e Emprego (SMTE), Augusto Lopes Ribeiro.

De janeiro a julho, a capital fluminense fechou 45.335 vagas de trabalho, segundo o estudo do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).  De acordo com o Caged, o setor de serviços foi o que mais reduziu postos, 19.929, seguido do comércio, 16.698 vagas.

“Isso é reflexo da crise econômica e política que está vivendo o país. E o Rio sofre mais porque a crise atingiu a Petrobras [cuja sede fica na cidade]. Todos os contratos que a Petrobras tinha de outras empresas que prestavam serviços, pararam ou não se renovaram. A única explicação que a gente consegue visualizar é a Petrobras. Petrobras parou de investir, pararam os investimentos”, analisou. “Mas isso é recuperar e a Petrobras vai voltar a contratar. É coisa momentânea”, garantiu.

O G1 pediu um levantamento dos contratos da Petrobras que não foram renovados com as empresas prestadoras de serviço no período da pesquisa, mas até a publicação dessa reportagem, não havia obtido retorno.

Queda no preço do petróleo
Segundo a secretaria, a queda do preço do petróleo “que atingiu as contas de todo mundo, principalmente de exportadores”, gerou impacto nas contas do estado do Rio de Janeiro, responsável por 80% da produção nacional, "afetando consequentemente" o município.

“A crise financeira levou a queda de investimentos na cidade, à elevação da inflação, o que repercute no encolhimento da receita das empresas de pequeno, médio e grande porte, levando a cortes de gastos e gerando demissões”, ressaltou.

Ainda de acordo com a secretaria, em 2014, houve queda de R$ 2 bilhões na arrecadação de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e há a previsão de menos R$ 2,2 bilhões referentes a royalties de petróleo.

Situação "podia ser pior" diz
O secretário apontou ainda que se não fossem os investimentos que ocorrem na cidade por causa das Olimpíadas, a situação “podia estar pior”. A construção civil apresentou resultado positivo e foi responsável pela criação de 1.657 vagas de janeiro a julho. De acordo com a secretaria, as mudanças estruturais no Rio levaram ao aumento dos números de contratações nessa área.

"Além das obras da própria cidade, há também as do setor privado, pois em virtude das revitalizações de algumas regiões, os investimentos em empreendimentos imobiliários aumentaram, como por exemplo, a Região Portuária e a ampliação de redes de hotéis", afirmou.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o desemprego no Rio de Janeiro subiu de 3,6% em julho de 2014, para 5,7% no mesmo mês em 2015. Para o secretário, no entanto, "o Rio está até se mantendo bem".

"O Rio talvez seja um oásis nesse turbilhão. Um lugar que não está sendo tão afetado. É muito investimento que está sendo feito, claro que isso tem reflexo positivo”, analisou.

Ajuste fiscal e crise política
Para o secretário, o ajuste fiscal também tem influência direta no número de demissões apontados pelo MTE em 2015 no Rio. De acordo com ele, existe ainda falta de confiança dos investidores.

“São medidas [ajuste] que afetam diretamente essas questões [emprego]. A crise econômica está muito a reboque da crise política. Existe falta de confiança dos investidores, claro que ajustes fiscais batem um pouco nos empregos e investimentos. Mas acho que a crise [política] está fazendo com que empresários de todos os lugares do mundo não queiram investir. Crise política, gera uma insegurança muito grande. Essa situação só vai começar a melhorar quando resolver a crise política", afirmou Ribeiro.

Corte no setor de serviços
O superintendente do sindicato das Empresas de Asseio e Conservação do estado do Rio de Janeiro (Seac-RJ), José de Alencar, também apontou a crise na Petrobras e a econômica como fatores para as quase 20 mil vagas cortadas no setor de serviços. Ele ressaltou ainda a inadimplência das empresas como outro motivo para o desemprego.

“Eu poderia dizer que essa crise econômica fez com que os nossos contratantes: universidades, hotéis, shoppings, hospitais, serviços públicos demandassem menos contração de pessoal paro estado do Rio de Janeiro. O governador cortou praticamente 30% dos contratados de prestação de serviço. Então, se não tem mais contrato, o que fazer com a mão de obra? Não tem onde colocar”, analisou.

De acordo com ele, o ano para o setor de serviços pode já estar perdido. “O pessoal está muito cético, não está contratando”. Em junho, o setor cresceu 2,1%, segundo o IBGE, e registrou a menor taxa para o mês desde o início da série, em 2012. Os prognósticos dele para o setor no ano que vem, no entanto, são mais otimistas.

“Acho que em 2016 tem vários projetos que acho que vão alavancar um pouco. Tem a eleição, as Olimpíadas, as Paraolimpíadas. Acho que ano que vem pode dar um saldozinho melhor para todos os setores”, concluiu.

Desemprego ameaça comércio
Para o presidente do Clube de Diretores Lojistas do Rio de Janeiro (CDLRio), Aldo Gonçalves, a segunda colocação do comércio na retração de emprego em 2015 é consequência de quatro fatores: inflação, que diminui o poder de compra; juros altos e crédito caro – o que prejudica tanto o comerciante quanto o consumidor em compras a prazo –; o desemprego em outros setores; e a incerteza econômica.

“Desemprego de outros setores afeta muito o comércio, porque o desempregado não pode comprar. Quarto é um cenário de incerteza na econômica, uma indefinição muito grande, onde o cidadão consumidor tem receio de comprar, e o empresário tem receio de investir”, declarou.

O presidente pontuou ainda que, de janeiro a maio, o comércio do Rio teve 1.280 lojas fechadas. No estado, foram 3.200 no mesmo período. “Cada loja fechada, vai gerando desemprego. E quanto mais pessoas desempregadas, menos o comércio vende. É uma bola de neve”.

A expectativa é de que em 2015 seja “um ano perdido”. “O comércio é o último a desempregar e é o que mais emprega. A folha de pagamento não é tão pesada como a da indústria, a maior parte são comissionados. A situação está tão grave que com as lojas vazias, até o comércio está sendo obrigada a demitir”, concluiu.

50 mil vagas nas Olimpíadas
Segundo a secretaria municipal de Trabalho e Emprego, o mercado de trabalho será aquecido com a chegada das Olimpíadas, e os setores que terão mais destaque são os de comércio, de serviços, gastronomia e hotelaria. O secretário adiantou que há uma estimativa da criação de mais de 50 mil vagas temporárias na época dos Jogos Olímpicos.

“Temos que entender que as contratações para as Olimpíadas ainda não começaram. O mercado irá aquecer com a chegada do evento. Esse movimento deverá ter início daqui a alguns meses”, informou. "Vão ter outras contratações, hotelaria, gastronomia, porque estão se construindo hotéis pela cidade, setor de logística, muita coisa está sendo construída”, completou Ribeiro.

Ainda de acordo com a secretaria, os setores de serviço e comércio serão os principais beneficiados pelo evento esportivo "quando estiver mais próximo da sua realização, "momento em que terão início as contratações e chegarão os turistas à cidade", garantiu.

Fonte: G1-ES