POLÍTICA INTERNACIONAL

Decisão de juíza poderá beneficiar até 200 pessoas barradas em aeroportos.

A juíza federal aceitou pedido de associação para suspender as deportações.

Em 29/01/2017 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

De 100 a 200 pessoas barradas em aeroportos dos Estados Unidos poderão ser beneficiadas com a decisão da juíza federal Ann Donnelly, que aceitou um pedido da União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU, da sigla em inglês) na noite de sábado (28) para suspender as deportações de refugiados e imigrantes que estão ou chegarão ao país e que tenham vistos válidos. Os números foram estimados pela própria associação.

Na sexta-feira (27), Trump deu início a uma série de restrições de acesso a cidadãos de 7 países, todos de origem islâmica.

Donnelly concluiu que aplicar a ordem do presidente com o envio dessas pessoas a seus países poderia causar um "dano irreparável", informou a imprensa local na véspera. Contudo, a juíza não informou se os afetados podem permanecer no país nem se pronunciou sobre a constitucionalidade da medida e fixou uma audiência para 21 de fevereiro para voltar a abordar o caso.

O Departamento de Segurança Nacional informou que vai obedecer ordens judiciais, mas que as resoluções do presidente continuam válidas. "Essas pessoas passaram por exames de segurança reforçada e estão sendo verificadas ​​para a entrada nos Estados Unidos, de acordo com nossas leis de imigração e ordens judiciais", disse o comunicado.

A restrição imposta por Trump, com validade de 90 dias, atinge pessoas que tenham nascido no Iraque, Iêmen, Síria, Irã, Sudão, a Líbia e Somália. Além disso, o plano suspende o programa norte-americano de refugiados por 120 dias. Em retaliação, o Irã anunciou neste sábado que vai aplicar a reciprocidade e proibirá a entrada de americanos durante esse período.

No sábado, foram barrados a pesquisadora iraniana Samira Asgari, que iria a um laboratório de Boston, o iraquiano Hameed Khalid Darweesh, que trabalhou como intérprete do Exército americano no Iraque, e uma família de refugiados que iria recomeçar a vida em Ohio, entre inúmeros outros casos.

O decreto firmado por Trump não bloquearia de forma imediata a entrada de refugiados, mas estabelece barreiras para a concessão de vistos, de acordo com a France Presse. No ano fiscal de 2016 (1º de outubro de 2015 a 30 de setembro de 2016), os Estados Unidos admitiram em seu território 84.994 refugiados, de diversas nacionalidades, incluindo 10 mil sírios. A intenção do novo governo é reduzir drasticamente este número, o que no caso dos sírios pode chegar a 50%.

'Green cards'

O Departamento de Segurança Doméstica dos Estados Unidos informou no sábado (28) que irá estender a restrição à entrada de imigrantes também aos estrangeiros que tenham autorização de residência permanente no país, os chamados "green cards".

Os vistos permanentes concedidos pelos EUA, ou green cards, permitem que imigrantes permanecerem no país sem as restrições de outros vistos e concedem a eles alguns direitos de um cidadão norte-americano.

Os seus detentores podem sair do país e voltar a ele sem que tenham de renovar o documento. Eles só não podem se ausentar dos EUA por mais de um ano ou por longos períodos sucessivos.

Protestos

A medida também gerou protestos na noite de sábado (28). Em sua página no Twitter, os taxistas de Nova York anunciaram uma paralisação dos trabalhos no Aeroporto Internacional John F. Kennedy das 18h às 19h (das 20h às 21h, horário de Brasília). "Os motoristas prestam solidariedade aos milhares em protesto contra medida desumana e inconstitucional", escreveram na rede social.

No Aeroporto Internacional de Washington Dulles, centenas levaram faixas em oposição à nova política de Trump no início da noite de sábado.

Nos aeroportos de Nova Jersey, San Francisco, Dallas e Chicago, grupos também protestaram contra a medida. Mais cedo, também nos terminais aéreos de Nova York, manifestantes se reuniram na parte de fora após dois iraquianos, que tinham visto para entrar no país, serem detidos.

Repercussão

A decisão do governo Trump dividiu as opiniões de líderes mundiais. Ministros canadenses, alemães, franceses e turcos criticaram a decisão do presidente norte-americano. A manifestação mais contundente de repúdio ao decreto de Trump veio de um vizinho, o Canadá.

Justin Trudeau, primeiro-ministro canadense, disparou uma série de mensagens no Twitter ressaltando a receptibilidade do país. "Para aqueles que fogem da perseguição, terror e guerra, os canadenses irão recebê-los, independentemente da sua fé", comentou. "Diversidade é a nossa força", completou.

Os ministros das Relações Exteriores da França e Alemanha afirmaram estar "preocupados" com as decisões de Trump e destacaram que "acolher refugiados que fogem da guerra é parte de nosso dever".

"Vamos entrar em contato com nosso colega [norte-americano] Rex Tillerson quando for nomeado para discutir ponto por ponto e ter uma relação clara", disse o chefe da chancelaria francesa, Jean-Marc Ayrault, após se reunir com o colega alemão, Sigmar Gabriel, em Paris. O nome de Tillerson como secretário de Estado ainda aguarda confirmação do Senado dos EUA.

"Acolher refugiados que fogem da guerra é parte de nosso dever. Devemos nos organizar para fazer isto de maneira equitativa, justa, solidária", disse Ayrault. "Precisamos de clareza, coerência e, se necessário, firmeza para defender nossas convicções, nossos valores, nossa visão de mundo, nossos interesses, franceses, alemães e europeus", disse o ministro francês.

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, se pronunciou neste domingo (29) contra o veto temporário imposto pelo presidente dos Estados Unidos.

Merkel "está convencida de que a guerra decidida contra o terrorismo não justifica que se coloque pessoas sob suspeita generalizada em função de uma determinada procedência ou religião", declarou o porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert.

O Executivo de Berlim "estudará agora que consequências essas medidas têm para cidadãos alemães com dupla nacionalidade", acrescentou o porta-voz, segundo quem a própria Merkel expressou essa posição perante Trump na conversa realizada sábado entre os dois líderes.

A primeira-ministra britânica, Theresa May, não condenou a decisão dos EUA. "Os Estados Unidos são responsáveis pela política americana sobre os refugiados. O Reino Unido é responsável pela política britânica sobre os refugiados", afirmou May em Ancara, na Turquia, onde participou de um encontro com o premiê turco, Binali Yildirim.

Ele, por sua vez, criticou as recentes medidas de Trump para conter a entrada de imigrantes. "Não podemos resolver este problema dos refugiados erguendo muros", disse Yildirim, fazendo menção à decisão tomada por Trump de construir um muro na fronteira com o México.

g1