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Desafio é alimentar 10 bilhões de pessoas sem destruir o planeta

Relatório do IPCC analisa as capacidades da humanidade para alimentar-se no futuro.

Em 02/08/2019 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Foto de mohdnazri

Como alimentar uma população cada vez mais numerosa sem destruir a natureza? Uma questão crucial para a sobrevivência da humanidade, que será abordada a partir desta sexta-feira em Genebra.

O relatório especial do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU dedicado à “mudança climática, desertificação, degradação dos solos, a gestão sustentável das terras, segurança alimentar e os fluxos de gases que provocam o efeito estufa nos ecossistemas terrestres”, que provavelmente será publicado na próxima semana após reuniões a portas fechadas, constituirá a análise científica mais completa sobre este tema feita até hoje.

O texto, de mais de 1.000 páginas, deve destacar a forma como a alimentação industrial, do produtor ao consumidor, a exploração generalizada dos recursos ou inclusive alguns esforços para contra-atacar os efeitos da mudança climática comprometem a capacidade da humanidade para alimentar-se no futuro.

O documento também deve esboçar o panorama de uma sociedade na qual dois bilhões de adultos têm sobrepeso ou estão obesos, com um grande desperdício de comida, enquanto a fome afeta milhões de pessoas em todo o mundo.

As conclusões do informe serão refletidas em um resumo que as delegações de 195 países, reunidas em Genebra, examinarão detalhadamente a partir desta sexta-feira, antes da aprovação de uma versão definitiva.

A reunião servirá para destacar a importância de um uso otimizado das terras, um aspecto ignorado durante muito tempo, segundo os especialistas.

“Quando observamos as repercussões da mudança climática e as contribuições para esta mudança, o setor das terras é incrivelmente importante”, declarou à AFP Lynn Scarlett, da ONG The Nature Conservancy.

“As consequências são amplas e não envolvem o futuro apenas: já estão acontecendo agora e são críticas para o bem-estar das pessoas e da natureza”, advertiu.

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A agricultura e o desmatamento representam quase 25% das emissões de gases do efeito estufa.

Insustentável

A agricultura utiliza um terço de toda as terras da superfície e 75% da água doce do planeta.

Com uma a população que deve se aproximar de 10 bilhões de pessoas até meados do século, contra 2,6 bilhões em 1950, o temor de atingir o limite do sistema é cada vez mais maior.

A carne e o desperdício de alimentos representam dois grandes problemas. Quase 30% da comida produzida termina no lixo.

Embora as terras produzam muito mais alimentos do que o necessário para alimentar o mundo inteiro, ainda há 820 milhões de pessoas que dormem com fome todas as noites”, recorda Stephan Singer, da Climate Action Network.

Momento crítico

“Este relatório chega em um momento crítico, pois a agricultura é, ao mesmo tempo, vítima e motor da mudança climática”, explica Teresa Anderson, da ONG ActionAid.

A agricultura extensiva de cereais como a soja, utilizados para alimentar o gado e para os biocombustíveis, contribuem para a destruição das florestas, que armazenam carbono.

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Foto: arquisp.org.br/Reprodução

“Devemos dar as costas a uma agricultura industrial nociva baseada em produtos químicos, no desmatamento e nas emissões de gases que provocam o efeito estufa”, insiste Teresa Anderson.

O relatório abordará ainda questões como a desertificação e a degradação dos habitats por culpa da agricultura. A cada ano se perde uma superfície de floresta tropical equivalente ao tamanho do Sri Lanka.

Uso das terras para a alimentação

Também deve destacar o dilema entre o uso das terras para a alimentação, o armazenamento de carbono através das florestas e a produção de energia a partir de matéria biológica.

As discussões também incluirão o destino das populações indígenas e das mulheres, particularmente expostas.

Em outubro de 2018, outro informe especial do IPCC detalhou o possível impacto de limitar o aumento das temperaturas globais a 1,5 ºC, dentro dos objetivos do Acordo de Paris, e destacou os meios para permanecer abaixo deste limite, considerado muito ambicioso.

Desde então foram criados movimentos cidadãos e centenas de milhares de pessoas saíram às ruas para exigir que os governos atuem de modo mais rápido contra a mudança climática. AFP

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