ECONOMIA INTERNACIONAL

Economia fraca deve segurar repasse da alta do dólar à inflação

Dólar saltou 10% entre fevereiro e abril e é negociada acima de R$ 3,50.

Em 04/05/2018 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

A disparada do dólar frente ao real vista nos últimos meses deve ter pouco impacto sobre a inflação neste ano, sobretudo diante da economia que ainda mostra dificuldades para engatar ritmo forte e limita a demanda, segundo analistas consultados pela Reuters.

"O repasse é baixo. Poderíamos ver uma surpresa altista no IPCA de maio ou junho em itens industrializados e mais sensíveis ao câmbio, mas seria algo pontual para esses meses", disse o analista de inflação da consultoria Tendências, Marcio Milan, que vês o dólar a R$ 3,35 no fim de 2018.

Entre fevereiro e abril, o dólar saltou 10% e foi a R$ 3,50, sendo que só no mês passado, a valorização foi um pouco acima de 6%. A cautela dos investidores diante das incertezas políticas no Brasil para a eleição presidencial de outubro e, mais recentemente, as preocupações de que os juros nos Estados Unidos poderiam subir mais do que o esperado e afetar o fluxo de capital global estão por trás desse movimento.

O repasse dessa variação no câmbio para o IPCA no fim do ano, mantido esse patamar do dólar, seria de 0,3 ponto percentual nas contas de Milan.

O principal limitador para o repasse dos custos maiores gerados pelo dólar mais elevado é a demanda fraca, em uma economia que vem derrapando e mostra dificuldades para engatar um ritmo sustentado de crescimento.

A indústria, por exemplo, encerrou o primeiro trimestre estagnada, em meio ao desemprego ainda alto e deterioração generalizada da confiança no Brasil.

"No momento que vivemos, com capacidade ociosa muito grande na economia, esse repasse (da alta do dólar) é bem menor do que o usual. (Os empresários) não conseguem num momento de crise repassar essa piora do câmbio para os preços tão rápido", avaliou o economista do Banco Votorantim Carlos Lopes.

O cálculo dele é de repasse de 0,5 ponto percentual para o IPCA deste ano com a apreciação de 10% do dólar vista até agora, mas ele calcula que a moeda norte-americana volta para a casa dos R$ 3,40.

"Se houver um aumento permanente no câmbio, o repasse pode ser mais diluído ao longo do ano e aos poucos o empresário vai recompondo (suas contas). Mas nesse momento não vemos impacto significativo", completou.

Pesquisa Focus realizada semanalmente pelo Banco Central mostra que a expectativa do mercado é de que o ano termine com a inflação a 3,49%, ante meta oficial de 4,5% com margem de 1,5 ponto percentual. Para o dólar, a estimativa é de R$ 3,35 no fim de 2018.

(Foto: Reprodução/Google)