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Emoção marca homenagem aos jovens mortos em massacre no Rio.

Assassinato de 12 adolescentes aconteceu na manhã de 7 de abril de 2011.

Em 07/04/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Dor, lágrimas e saudades marcaram a solenidade que homenageou as vítimas da tragédia na Escola Tasso da Silveira, em Realengo, Zona Oeste do Rio, na manhã desta quinta (7). Há cinco anos, Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, matou a tiros 12 alunos da escola.

"A gente tem que aprender a conviver com a dor, porque ela não some. Hoje eu confesso que vim achando que estava bem melhor, mas ver as crianças cantando o hino me quebrou. Vi que essa dor não tem cura. Tento aprender a conviver com ela para tentar prosseguir e transformar o luto em luta", afirmou Adriana Silveira, que perdeu a filha  Luiza de Paula, de 14 anos no massacre.

Adriana se juntou a outras famílias vítimas do massacre e, através da ONG Anjos de Realengo, tenta mudar a realidade da educação e da segurança no Rio.

"Hoje a gente vê a escola Tasso da Silveira com outro ambiente escolar e segurança 24 horas. As crianças daqui hoje estão bem, mas e as demais escolas? Infelizmente sabemos porque a Tasso da Silveira está assim. Foram vidas que tiveram que ser ceifadas aí dentro, foram 12 crianças e o que foi feito depois disso? Mudar só aqui não é resposta nem para mim, nem para a sociedade", afirmou Adriana.

O subtenente da Polícia Militar Marcio Alves, que evitou que a tragédia fosse ainda maior, esteve presente a homenagem às vítimas. "Infelizmente hoje não tenho o que comemorar, me sinto muito triste aqui", afirmou o PM, que no dia a tragédia passava próximo ao local, foi alertado na rua por um aluno, entrou na escola e baleou o atirador no momento em que ele recarregava a arma para continuar os disparos.

Segundo Márcio, familiares de várias crianças que escaparam da chacina mantém contato com ele e esse teria sido o único lado positivo da tragédia.

"Fizemos um vínculo de amizade muito grande, acabei fazendo parte da família deles. Recentemente fui à Minas para a casa de avós de alunos daqui", diz Marcio, lembrando que a aluna dessa família foi a que se ajoelhou e pediu um beijo.

"Ela estava na sala e quando eu entrei eu disse : 'Acabou, não saiam daí, mas fiquem dentro de sala'. Ela ajoelhou na cadeira, levantou os dois dedos e perguntou se podia me dar um beijo", diz Marcio que tem filhos da mesma idade das crianças mortas na Tasso da Silveira.

"Essa ocorrência foi a que mais marcou em toda a minha carreira. O instinto maior ali foi de pai", afirmou Marcio, que apesar de ter entrado na escola sem saber o que estava acontecendo, agiu com a maior rapidez que pode assim que ouviu os tiros, pois imediatamente imaginou que alguma criança poderia estar machucada.

"Depois de atirar nele e dele ter atirado contra a próprio cabeça em seguida, que eu entrei na sala e vi o tamanho do estrago, a tragédia que ele tinha causado", lamentou o PM.

No dia do massacre, Adriana havia deixado a filha ir sozinha para a escola, coisa que não era comum acontecer.

"É duro saber que você cuidou, protegeu de todas as formas e perdeu de uma forma como essa, dentro de uma escola. Tantas vezes a impedi de sair com as amigas por medo da violência e ela foi vítima dessa violência dentro de sala de aula", lembra Adriana.

O pai da menina Gabriela Prado Maia Ribeiro, que morreu em março de 2003 após ser baleada por criminosos no acesso a uma estação de Metrô da Tijuca, na Zona Norte, lamentou o fato de após 13 anos da morte de sua filha, a violência no Rio ter aumentado.

"De 2003 pra cá, o que eu tenho feito é a cada ano ir em mais passeata pedindo pedindo paz e, ao mesmo tempo mais enterro, mais missa de sétimo-dia e mais eventos como esse lembrado a passagem de cinco, seis, sete, dez anos de jovens mortos. Podem colocar qualquer tipo de estatística na mídia, mas a minha estatística, a que eu vejo no dia a dia, é que aumenta a cada ano muito e muito mais os mortos", lamentou Carlos Santiago, ressaltando que a dor pela perda de um filho nunca cicatriza totalmente no coração de um pai.

"A gente acompanha esse martírio e sabe que é uma coisa que a gente não consegue amenizar. As pessoas pensam que o tempo faz cicatrizar a dor, mas não, a luta é diária, é dia a dia".

Fonte: G1-RJ