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Entenda as estratégias das empresas para nos fazer gastar mais

Veja exemplos de "empurrões".

Em 11/11/2018 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

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Muito se falou nos últimos anos dos “empurrões” (nudges, na expressão original), uma ideia da economia comportamental para estimular os governos a fazerem com que as pessoas adotem atitudes em seu próprio benefício, como poupar para a aposentadoria ou uma alimentação mais saudável.

Baseadas nestas ideias, muitas empresas criaram suas próprias formas de “empurrões”. São os “sludges”, usados para nos fazer gastar mais. Um exemplo é dos serviços de assinatura de produtos que renovam automaticamente a subscrição a não ser que o assinante se manifeste em contrário.

É claro que muitas experiências são boas e existe a comodidade de não precisar ficar renovando a assinatura todo mês se você está satisfeito com o serviço, seja uma amostra de café, vinhos, roupas ou uma plataforma de vídeos. E muitos clientes realmente estão.

Mas numa pesquisa realizada em 2016 pela fintech americana Hiatus, 7 de cada 10 consumidores ouvidos disseram que pagam por serviços que não usam porque esquecem de cancelar a assinatura. Além disso, 6 em cada 10 se tornaram assinantes por falta de atenção ao fim do prazo de degustação.

A média de gastos com serviços por assinatura chegava a US$ 1.200 anuais para alguns perfis de clientes. E uma em cada cinco pessoas relatou dificuldades para cancelar a assinatura.

O próprio Richard Thaler, ganhador do prêmio Nobel de Economia e o grande popularizador do empurrão, contou há alguns anos a respeito de suas desventuras para conseguir cancelar a assinatura de um jornal inglês, do qual se tornou assinante apenas porque queria ler um artigo.

A princípio, não sairia tão caro, mas, depois de ser obrigado a telefonar durante 15 dias para um número na Inglaterra, pagando pela ligação internacional, ele concluiu que o serviço violava três princípios que devem guiar o empurrão: não era transparente, tornava a desistência um pesadelo e a assinatura de um jornal inteiro para quem só queria consumir um artigo era um benefício muito pequeno e um preço muito alto.

No começo do ano, o economista também polemizou com o banco americano Wells Fargo que, ao anunciar que iria reembolsar 110 mil clientes descontados irregularmente em suas contas, disse ter enviado uma carta a cada um deles, mas só iria indenizar quem respondesse.

O problema é que apenas uma minoria costuma responder cartas comerciais. O próprio banco divulgou que esperava que “metade ou menos” das pessoas pedisse seu dinheiro de volta. Vendo sua ideia usada desta maneira, Thaler chamou em um post no Twitter a prática de “pegajosa”.

Não é que, vindo das empresas, o empurrãozinho não possa ser benéfico. Muitas delas, por exemplo, ajudam seus empregados a poupar mais com planos de aposentadoria dos quais, para não participar, é preciso pedir para sair. Com isso, muitos deles terão economizado o suficiente quando pararem de trabalhar. as quanto mais transparentes e passíveis de desistência os serviços, mais certeza sobre os benefícios envolvidos. Um empurrãozinho na direção certa