ESPORTE INTERNACIONAL

Esquema com 3 zagueiros vira moda na Europa após títulos

Arsenal, Chelsea, Sevilha e seleção alemã têm usado esquema tático com sucesso.

Em 21/08/2017 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Sucesso na última temporada ao vencer o Campeonato Inglês com folga, o Chelsea de Antonio Conte parece ter iniciado uma onda de esquemas com três zagueiros na Europa. A formação não chega a ser uma grande novidade no futebol, mas a maneira de jogar que foi implementada nos Blues, com uma linha de quatro no meio e três atacantes, chamou a atenção pelo seu sucesso e tem sido copiada ou até mesmo adaptada por rivais em outras grandes ligas. Casos como o Arsenal, campeão da Copa da Inglaterra, do Sevilla, surpresa no Espanhol, e na seleção alemã, que, mesmo com uma equipe jovem, conquistou a Copa das Confederações em julho. Será que a moda pegou?

Inglaterra

Na terra da Rainha, o estilo de jogo do Chelsea chamou bastante atenção ao longo da última temporada. A equipe dirigida por Antonio Conte chegou a engatar 13 vitórias consecutivas e, claro, foi o maior caso de sucesso. O treinador italiano já tinha experimentado algumas formações com três zagueiros em suas passagens pela Juventus e na seleção da Itália. Nos Blues, chegou a manter o esquema de Mourinho do ano anterior, no 4-2-3-1. Mas, a derrota por 3 a 0 para o Arsenal, na sexta rodada, foi a gota d'água para a revolução acontecer e dar início à incrível sequência.

A seleção italiana não nega suas origens e atuou em boa parte de 2016 no 3-5-2, com forte solidez defensiva do trio BBC - Barzagli, Bonucci e Chiellini, quando era treinada por Antonio Conte. Foi assim que conseguiu fazer jogo duro com a Alemanha nas quartas de final da Eurocopa de 2016, perdendo apenas nos pênaltis. No entanto, com a chegada do técnico Gian Piero Ventura, a equipe tem variado do 3-4-3 para o clássico 4-4-2 nos últimos jogos.

Alemanha

O Campeonato Alemão trouxe duas gratas surpresas na temporada passada. A primeira foi o RB Leipzig, que chegou a lutar pelo título com o Bayern, e acabou com o vice-campeonato. A outra, foi o Hoffenheim, time em que pouquíssimas pessoas acreditavam. Comandado pelo prodígio Julian Nagelsmann, de apenas 30 anos, ficou em quarto lugar, com uma vaga na Liga dos Campeões.

Um dos segredos do Hoffenheim foi justamente o esquema com três zagueiros. Porém, um pouco diferente do que os times ingleses apresentaram, por exemplo. Com maior solidez defensiva, Nagelsmann resgatou o velho 3-5-2 e que, por vezes, se apresentava até num 5-3-2, com laterais sem tanto poder defensivo.

O Borussia Dormtund, por sua vez, variou o sistema de jogo ao longo da temporada e conseguiu números bem parecidos. Dembélé e Reus, atuando como pontas no ataque, foram os responsáveis pela dinâmica do esquema, recompondo na marcação e saindo em velocidade para o ataque para municiar Aubameyang, artilheiro da competição. Além disso, Piszczek e Schmelzer, laterais de origem, fizeram as vezes de zagueiros pelos lados para darem fluidez na saída de bola.

Fora isso, não podemos esquecer da seleção alemã. Na Copa das Confederações de 2017, com um time recheado de jovens, deixou o esquema 4-2-3-1, campeão da Copa do Mundo, e obteve um imenso sucesso atuando com três zagueiros. Joachim Löw entendeu o perfil de seus jogadores e soube montar um time bastante ofensivo, com um forte poder de marcação no meio-campo, atuando no 3-4-3.

Espanha

No Espanhol, foram poucos times entre os que brigaram na parte de cima da tabela que atuaram com três zagueiros. O Barcelona foi um dos que testaram o sistema e fez uma campanha perfeita - oito jogos e oito vitórias - durante a reta final da temporada. No entanto, Luis Enrique não se mostrou fiel ao novo sistema e voltou a atuar no tradicional 4-3-3 catalão.

O Sevilla pode até não ter tido um grande desempenho com três zagueiros (52% dos pontos conquistados), mas jogou com a formação em 18 oportunidades na temporada e chegou a encantar em certos momentos. Foi no período em que jogou nesse sistema que Jorge Sampaoli mais ganhou elogios da torcida e imprensa. No entanto, o comandante não encontrou estabilidade e, vendo seu time sofrer muitos gols, passou a atuar com uma linha de quatro na defesa.

Certo é que Sampaoli levou adiante a ideia de jogar no esquema da moda. Assim que assumiu a Argentina, o treinador mudou o estilo da seleção e passou a usar o 3-4-3 como a opção principal. Até agora, não dá para tirar grandes conclusões, afinal, foram vitórias por 1 a 0 contra um time alternativo do Brasil, e 6 a 0 sobre a fraquíssima Cingapura. Mas, é possível ver evolução num time que, mesmo com Messi, ainda corre riscos de ficar fora da Copa do Mundo de 2018.

E no Brasil?

Ao menos no Campeonato Brasileiro, o esquema com três zagueiros ainda não pegou. Uma das poucas equipes que arriscou jogar no sistema foi o São Paulo, quando Rogério Ceni ainda comandava a equipe. Segundo Muricy Ramalho, tricampeão brasileiro entre 2007 e 2009 atuando no 3-5-2, há um problema de adaptação dos zagueiros brasileiros a esse estilo mais moderno. Assim, apesar da tentativa, o ex-goleiro teve dificuldade em conquistar bons resultados.

- Eu acho que (o 3-4-3) funciona pela característica de jogadores que você tem. Os três zagueiros precisam saber jogar, senão você não tem saída de bola. O Chelsea é assim, a Alemanha também, os defensores saem muito para jogar. Eu acho que no São Paulo não funcionou por essa falta de característica de jogadores, não tem três zagueiros que saibam sair jogando. Comigo, o Rogério jogou muitas vezes com três zagueiros e talvez por isso tenha tentado jogar dessa forma, já tinha trabalhado assim - analisou Muricy.

O ex-treinador e hoje comentarista do SporTV vê algumas mas nem tanta diferença para o seu sistema de jogo com três zagueiros. Ele lembra que, no São Paulo, trouxe meias para jogarem como laterais - ou alas. No caso, Jorge Wagner, pela esquerda, e Souza, pela direita. O Chelsea, da mesma forma, tem Marcos Alonso e Victor Moses jogando pelas pontas. Mas, será que os times hoje não são mais ofensivos, por terem três atacantes? Para Muricy, não.

- Sem a bola, o time fica num 5-4-1. O Chelsea joga assim. Para mim, é o melhor time que joga assim, o Conte é especialista nesse sistema. Os italianos têm essa formação, usam muito, a Juventus usa uma ótima variação, com três zagueiros. A Roma também jogou bem assim, variando o esquema (...) No São Paulo, eu colocava os meias para jogarem nessa posição, pelos lados. Senão, você fica com cinco zagueiros e não dá certo. É a diferença de jogar com três zagueiros e jogar com cinco zagueiros. É complicado usar os laterais - disse.

Apesar do sucesso de vários times na Europa, Muricy Ramalho acredita que as equipes brasileiras só devem arriscar mais esse sistema caso seleções tenham bom desempenho na Copa do Mundo deste ano. Segundo ele, seria o mesmo que aconteceu após 2014, com as equipes abandonando os sistemas com dois atacantes para atuarem no 4-2-3-1.

- Tudo depende da Copa do Mundo. Se muitas seleções jogam assim, a tendência é que se espalhe para todos os lugares.

(Foto: Reuters)