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Farc e governo colombiano anunciam novo acordo de paz.

Primeira versão foi rejeitada pela população em referendo em outubro.

Em 13/11/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Os rebeldes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o governo colombiano anunciaram neste sábado (12), em Havana, um novo acordo de paz, após o "não" no referendo sobre uma versão anterior desse pacto para acabar com 52 anos de conflito armado no país.

"Alcançamos um novo acordo final para o fim do conflito armado, que integra mudanças, precisões e contribuições dos mais diversos setores da sociedade e que revisamos um a um", segundo o comunicado conjunto lido por diplomatas dos países fiadores do processo de paz.

"A construção de uma paz estável e duradoura, objetivo ao qual responde este novo acordo, deve ser o compromisso comum de todos os colombianos que contribua para superar a polarização e que recolha todas as expressões políticas e sociais", prosseguiu o documento.

Além disso, os negociadores convidam "toda a Colômbia e a comunidade internacional, sempre solidária na busca da reconciliação, para acompanhar e apoiar o novo pacto e sua pronta implementação para deixar no passado a tragédia da guerra, pois a paz não pode esperar mais".

O chefe negociador da Colômbia, Humberto de la Calle, afirmou que o novo acordo é "melhor" que o assinado em 26 de setembro e rejeitado em 2 de outubro, porque "resolve muitas críticas e observações" da oposição.

O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, fez um pronunciamento na TV para anunciar o novo acordo. “Há 40 dias, reconheci o plebiscito em que o ‘não’ obteve a maioria dos votos. Mas esse resultado não podia sepultar a esperança da paz”, afirmou.

“Esse resultado, em vez de paralisar o país e nos afogar na incerteza, teria que ser convertido em uma grande oportunidade para nos unir ao redor do desejo de paz manifestado por todos, independente de termos votado ‘sim’ ou ‘não’ naquele dia”, acrescentou.

O chefe negociador das Farc, Iván Márquez, disse que foram semanas duras de negociação, com o "exercício humilde de escutar". "De nossa parte cedemos, inclusive estendendo as fronteiras que tínhamos traçado, levando-as até os limites do razoável e aceitável para uma organização político-militar, cujas armas não foram vencidas", relatou.

As remodelações e novos elementos que contém o novo documento poderão ser consultados pela internet, embora o acordo completo ainda deva demorar alguns dias para estar disponível.

No Twitter, o líder das negociações pelas Farc, Rodrigo Londoño Echeverri, conhecido como "Timochenko" escreveu: "Ratificando o acordo da esperança".

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, também comemorou novo acordo em sua conta no Twitter: "Paz para a Colômbia. Anúncio vindos de Havana nos enchem de felicidade bolivariana. Que viva a pátria grande. Agora vamos construir a paz".

O anúncio também foi seguido por uma comemoração na Praça Bolívar, em Bogotá, no local onde está montado o 'Acampamento pela Paz'. Os manifestantes dançaram mesmo sob chuva.

Primeiro acordo negado
Um primeiro acordo entre a Colômbia e as Farc foi rejeitado pela população do país em plebiscito realizado em 2 de outubro. Com 99,8% das urnas apuradas, o "não" obteve 6.429.730 votos, que equivalem a 50,23% do total, enquanto o "sim", que começou liderando a apuração, alcançou 6.370.274, que representam 49,76%, de acordo com o Registro Nacional do Estado Civil.

As pesquisas antes da votação indicavam que o “sim” ganharia com relativa tranquilidade. Uma consulta do instituto de pesquisas Datexco feita para o jornal "El Tiempo", de Bogotá, e a emissora W Radio, com 2.019 pessoas, apontava que o "sim" liderava com 59,5% dos entrevistados dizendo que são a favor do acordo, enquanto 33,2% afirmavam se inclinar pelo "Não". Outros 4,7% se diziam indecisos e 2,6% não opinaram.

Apesar da rejeição, os dois lados envolvidos tinham reiterado a disposição de manter a paz. Em Havana, o líder das negociações pelas Farc, Rodrigo Londoño Echeverri, mais conhecido como Timochenko, disse pouco depois da divulgação do resultado que "as Farc mantêm sua vontade de paz e reiteram sua disposição de usar somente a palavra como arma de construção para o futuro". Ele afirmou ainda que "com o resultado de hoje, sabemos que nosso desafio como movimento político é maior e requer que sejamos mais fortes para construir uma paz estável e duradoura".

Reuniões para nova proposta
As reuniões entre o governo e a oposição na Colômbia, sobre um novo acordo com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), terminaram na quinta-feira (3), e as propostas acertadas foram levadas à guerrilha para avaliação, informou o ministro do Interior, Juan Fernando Cristo.

Cristo afirma que, após cinco dias e muitas horas de reuniões, as partes conseguiram concluir um documento "com propostas e opções" dos setores que promoveram a vitória do "não" no referendo sobre o acordo de paz com as Farc, realizado e rejeitado em 2 de outubro.

Depois do encontro, as propostas foram apresentadas às Farc por uma equipe liderada pelo Alto Comissário para a Paz, Sergio Jaramillo, que viajou na sexta-feira (4) a Havana.

Nobel da Paz
Os esforços no processo de negociação com as Farc rendeu o prêmio Nobel da Paz deste ano ao presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, no início de outubro, mesmo com a rejeição do acordo no plebiscito que aconteceu dias antes do anúncio da premiação.

À época, a presidente do Comitê Nobel norueguês, Kaci Kullmann Five, que organiza a premiação, relativizou a reprovação. "O fato de a maioria dos eleitores ter dito não ao acordo de paz não significa necessariamente que o processo de paz está morto", disse.

O conflito na Colômbia provocou a morte de 260 mil pessoas e deixou quase 7 milhões de deslocados internos e 45 mil desaparecidos.

Fonte: France Presse