ESPORTE INTERNACIONAL

Ginasta dos EUA acusa federação de acobertar relatos de abusos

Tricampeã olímpica Aly Raisman é uma das mais de 100 vítimas do médico Larry Nassar.

Em 17/01/2018 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

A ginasta americana Aly Raisman, dona de seis medalhas olímpicas, sendo três delas de ouro, criticou a postura da Federação de ginástica dos Estados Unidos (USA Gymnastics) nos casos de abuso sexual praticados pelo ex-médico da entidade, Larry Nassar. Raisman foi uma das primeiras atletas a denunciar o caso à imprensa, em novembro de 2017. Em entrevista à ESPN Americana, Aly afirmou que, ao relatar os abusos de Nassar para a direção da entidade, ouviu que deveria permanecer calada.

- Me foi dito [pela Federação de ginástica] para ficar quieta. E eu penso que quando alguém no poder está te dizendo para ficar quieta, logo quando você percebe que está sendo abusada, acredito que é uma ameaça, especialmente quando a primeira preocupação deveria ser a garantia de que estava bem, ter informações sobre mim e ver se outras colegas também foram abusadas - contou a ginasta - A Federação só disse 'Nós estamos cuidando disso. Pare de fazer perguntas e não fale sobre isso porque vai atrapalhar a nossa investigação'. Eu não queria atrapalhar nada. Depois descobri que eles [a Federação] não reportaram da forma como deveriam.

A ginasta contou que, assim que percebeu que estava sendo molestada por Larry Nassar, foi contar à mãe, que decidiu ir até a direção de Federação para que tomassem uma providência.

- A maior prioridade deles, desde e o começo e até agora, é a reputação da entidade, as medalhas que ganham e o dinheiro que fazem com a gente. Não acho que se preocupam. Caso contrário, no momento em que perceberam que eu fui abusada, teriam me perguntado se precisava de terapia, se eu estava bem e o que poderiam fazer por mim. Deveriam ter feito uma grande mudança. Em vez disso eles permitiram que Larry Nassar continuasse trabalhando com jovens meninas em Michigan e molestando ginastas por muito tempo. Não sei como conseguem dormir à noite. Eu estou furiosa que, depois de saber que nos éramos molestadas, eles deixaram que isso acontecesse com outras ginastas enquanto diziam que uma investigação estava acontecendo. Me disseram para ficar quieta. Eu achei que estavam fazendo a coisa certa e não quis atrapalhar. Confiei neles e não devia ter feito isso - condenou Aly.

Em novembro, o presidente e CEO da USA Gymnastics, Steve Penny, deixou o cargo e foi substituído por Kerry Perry, justamente após a eclosão das denúncias. Na visão de Aly Raisman, a mudança no comando não foi o suficiente.

- Nós queremos criar mudanças. Se eles estivessem arrependidos, estariam em Michigan apoiando as atletas e ouvindo os depoimentos chocantes. Não acho que estão arrependidos. Eles só divulgam notas oficiais, é decepcionante. Se sentissem culpa aconteceriam muitas mudanças. Não houve mudança suficiente - concluiu Raisman.

A Universidade de Michigan, a USA Gymnastics (Federação Americana de Ginástica) e o Comitê Olímpico dos Estados Unidos (USOC) estão sendo processados por pais de ginastas e ex-ginastas que acusam as entidades de acobertar as ações de Larry Nassar. A Federação é acusada inclusive de pagar a campeã olímpica McKayla Maroney para firmar um acordo de confidencialidade para não tornar as denúncias públicas.

O julgamento de Larry Nassar começou na última terça-feira. Nassar é acusado de abuso sexual por mais de 135 meninas e já assumiu a culpa por mais de 10 acusações como parte do acordo feito com a justiça americana. O julgamento começou com depoimentos de parte das vítimas e da mãe de uma ginasta que cometeu suicídio. Além de Aly Raisman, outras três campeãs olímpicas (Simone Biles, Gabby Douglas e McKayla Maroney) relataram abusos.

Ele também molestou de atletas da Universidade de Michigan, crimes pelos quais está sendo julgado nesta semana. Além de ginastas, há atletas do futebol, do vôlei e da patinação artística entre as vítimas que ganharam voz nesta terça-feira. Em dezembro, Nassar foi condenado a 60 anos de prisão por pornografia infantil. Ele ainda vai ser julgado por pelo menos mais 22 acusações de abuso sexual.

(Foto: Divulgação)