ESPORTE NACIONAL

Grato ao Grêmio, Arthur se espanta com venda ao Barça

De olho na Copa de 2018, volante garante foco total em momento no Tricolor.

Em 20/03/2018 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

As memórias ainda frescas da ovação da torcida e do carinho recebido ao beijar o escudo do Grêmio após o gol que fechou a vitória por 3 a 0 no Gre-Nal do último domingo, na Arena, despertam um efeito imediato em Arthur: uma torrente de sorrisos e risadas. De fato. Basta pouco mais de 20 minutos de conversa às margens do campo, no CT Luiz Carvalho, para ter uma impressão bem vívida da alegria do volante com o retorno a campo e a retomada de protagonismo pelo clube do coração.

O tento marcado num clássico decisivo, pelas quartas de final do Gauchão – e logo em sua estreia na rivalidade –, consolida a recuperação cuidadosa de um entorse no tornozelo esquerdo, sofrido na final da Libertadores de 2017. A comemoração subsequente, com o afago no emblema em sua camisa serve ainda para atestar o carinho e o comprometimento total com o momento no Tricolor. Mas os olhos do jovem de 21 anos também cintilam para falar de um futuro mais longevo e distante, com a camisa do Barcelona.

Um futuro dos sonhos que Arthur por vezes não consegue assimilar, dada a ascensão vertiginosa. De opção remota no elenco gremista em janeiro de 2017, o volante não só assumiu um posto incontestável no time titular no tri da América como entrou no radar de Tite para a Seleção na Copa de 2018 e ganhou o mundo ao atrair os olhares do Barça. Não à toa, o garoto ainda se espanta com a cifra astronômica de 30 milhões de euros (R$ 120 milhões) – fora os 9 milhões de euros (R$ 36 milhões) em variáveis – que o clube catalão desembolsará por seu futebol.

Menos de 24 horas depois de retomar seu protagonismo no Gre-Nal da Arena, válido pelo jogo de ida das quartas de final do Gauchão, Arthur recebeu a reportagem do GloboEsporte.com nesta segunda-feira, no CT Luiz Carvalho. E distribuiu sorrisos e risadas a cada fala, para projetar sua carreira com foco total no dia a dia de trabalhos e jogos com o Grêmio. Mas com um certo olhar para seu futuro em solo europeu. O volante revela que já começou as aulas de Espanhol e manifesta sua torcida para o "fico" de Iniesta, seu ídolo, que cogita deixar o Barça ao fim do ano.

"Eu procuro não entrar a fundo nisso, não me rotular, porque o Iniesta é um ídolo, mas ele tem a característica dele, e eu, a minha. Ele é o Iniesta, é um Deus do futebol. Minha vontade é que ele permaneça. Ficaria muito feliz em jogar com ele".

> Confira a entrevista com Arthur:

Um dia depois de você marcar no Gre-Nal, não podíamos fugir disso... Fala um pouco desse seu retorno aos gramados, já com gol no clássico.

Arthur: Primeiramente, agradecer a todos que fizeram parte dessa longa recuperação que eu tive, fisioterapeutas, médicos, fisiologistas, massagistas, torcedores que mandaram mensagens, família. Eu fico muito feliz em poder voltar e fazer gol em Gre-Nal. Eu nunca tinha jogado Gre-Nal profissionalmente. Fazer um gol logo no primeiro foi emocionante, incrível.

Na hora do gol, você fez questão de beijar o escudo do Grêmio. Foi algo que você pensou para retribuir o carinho ou surgiu na hora, pela emoção?

Eu acho que muitas pessoas falavam que o Arthur está com a cabeça no Barcelona, não quer nada no Grêmio. Quem me conhece sabe do meu caráter, da minha índole, então para deixar bem claro isso, para esquecer de vez essa historinha de que estou com a cabeça no Barcelona, fiz questão. Não só para isso, mas para me sentir bem. É meu clube de coração. Poder fazer gol e ajudar meu clube, meus companheiros. De agradecer o carinho que todos têm por mim no grupo, na torcida e na direção.

Pois é. Falando desse carinho... Me parece que os torcedores sempre ficaram do seu lado. E quando você entrou em campo, a Arena incendiou, né?

Aqui falando contigo já me arrepia. Imagina na hora. Desde antes mesmo de jogar, quando entrava 15, 10 minutos, não era como hoje. Já tinha parte da torcida que me elogiava. Era o sonho de qualquer um. Eu já tenho um carinho muito grande por essa torcida. Ter esse reconhecimento é algo fantástico.

"Não é porque virei profissional que tenho carinho enorme pela torcida, que torço pelo Grêmio. É de antes que sou gremista de coração. Mais um apaixonado tricolor gaúcho"

Tinha uma expectativa muito grande de começar jogando. Você disse que ficava "louco" por não jogar. Como foi a conversa com o Renato antes do jogo?

Eu fui um pouco mal interpretado. Eu falei que estava louco para fazer parte do grupo e concentrar com o grupo. É um convívio, tem um ritual de concentração, fazer refeições juntos, passa a maior parte do tempo juntos. É uma coisa boa, que eu estava sentindo falta. Tinha aquele pré-jogo, a adrenalina. Eu enchi um pouco o saco do Renato "me leva para a concentração, se der me coloca, que eu estou bem". Foi por aí. O Renato é excepecional, sabe o timing certo, fazer a leitura do jogo no calor do momento muito bem. Eu enchi o saco porque é minha vontade de jogar, mas a hora certa ele sabe melhor do que ninguém.

 

E para quarta-feira? Como se preparar para um clássico com essa vantagem? Não está ganho, né?

Não. Tem mais 90 minutos. Gostaria que já estivéssemos classificados, mas não é assim. Teve viradas maiores que três gols de diferença. Estamos centrados no que a gente quer, mas tem jogo da volta. É pezinho no chão. Sabemos da nossa força dentro e fora de casa, mas temos mais 90 minutos para jogar.

Como você se enxerga nesse processo de formação de um jogador que hoje, aos 21 anos, já é tão grande a ponto de virar ídolo?

Às vezes eu não tenho proporção do que o Arthur virou, como as pessoas falam. Eu sempre agi naturalmente. É emocionante quando você vai a algum lugar e chega um fã e fica admirado te vendo. Eu penso: "Por que o cara está tremendo? Vem cá, eu sou de carne osso. É o Arthur". Eu acho muito legal esse carinho do torcedor, e as fichas vão caindo aos poucos. Não esperava que fosse tão rápido. Sabe que quanto mais fama, mais reconhecimento, a responsabilidade aumenta. Você vira espelho para várias pessoas.

Você imaginava que fosse acontecer tão cedo?

Sinceramente, não. Acho que em seis meses eu consegui várias etapas, me firmar como titular no Grêmio, seleção brasileira. Foi muito rápida essa ascensão. Foi muito graças aos companheiros. Eu fui feliz por baixar as orelhas, botar o pezinho no chão e ouvir os mais velhos. Eu não esperava que fosse tão rápido, mas fico feliz que essa ascensão fosse mais do que esperado.

Você é cotado para estar na Copa já aos 21 anos. Como lida com isso e com os elogios do Tite?

O auge da carreira é a seleção brasileira. Está sendo tudo muito bom para mim, maravilhoso, essa ascensão tão grande, ser pedido na Seleção por alguns... O Tite falando bem de mim, me dando oportunidade de vestir a camisa da Seleção. Fico feliz e motiva para trabalhar cada dia mais. É um caminho árduo até chegar à seleção brasileira, mas tem todo o reconhecimento quando alcança. Vou trabalhar ao máximo para ajudar o Grêmio e, ajudando o Grêmio, vou ter o reconhecimento do Tite.

"Quem me conhece sabe do meu caráter, da minha índole, então para deixar bem claro isso, para esquecer de vez essa historinha de que estou com a cabeça no Barcelona, fiz questão. Não só para isso, mas para me sentir bem. É meu clube de coração" .

O que o Grêmio representa na sua carreira?

Acho que não só na carreira, mas na vida pessoal. Desde os 14 anos. Lá, eu convivi no alojamento, que era no Olímpico. Lá, eles me deram o ensino na escola, tinha psicólogo no alojamento. Formaram o cidadão. Depois disso, veio essa carreira profissional. Tenho que agradecer ao clube, à instituição, aos funcionários, à torcida. Não é porque virei profissional, que tenho carinho enorme pela torcida, que torço pelo Grêmio. É de antes que sou gremista de coração. Mais um apaixonado tricolor gaúcho.

Como está a sua família com tudo isso?

Sempre que eu estou em casa, minha mãe fala para a gente ir dar uma volta no shopping. "Mas o que você quer comprar no shopping?". "Não, não, é só para ver se alguém vai pedir para tirar foto contigo"! Minha mãe acha um máximo, conversa, pergunta da vida de todo mundo que vem conversar comigo. É muito legal para mim e para eles também, fazem parte do sonho que estou vivendo. Todo mundo está aproveitando essa fase que estou vivendo.

 

"Está sendo tudo muito bom ser pedido na Seleção por alguns... O Tite falando bem de mim, me dando oportunidade de vestir a camisa da Seleção. Vou trabalhar ao máximo para ajudar o Grêmio e ajudando o Grêmio, vou ter o reconhecimento do Tite, com a seleção brasileira".

 

Você ficava ansioso durante a negociação com o Barcelona?

Muitos não acreditavam, até meus próprios amigos. Mas quando me perguntavam: "e aí, está certo?", porque sempre saía na imprensa. É normal, é coisa de amigo, que quer seu bem. Eu fui muito cabeça fria nesse momento. O que tinha que ser, ia acontecer. Deixei na mão do meu pai, do meu empresário, da minha família, principalmente do Grêmio. Foi uma negociação tranquila, bem transparente. Acho que foi bom para todo mundo. Eu tenho sonho de jogar na Europa, o Grêmio precisa fazer caixa, precisa de dinheiro. Fiquei feliz pela venda, se não me engano a quarta maior do Brasil, a maior do Rio Grande do Sul. Fiquei feliz por realizar esse sonho pessoal e ajudar o Grêmio, que é algo que eu tinha vontade. Foi bom para todo mundo.

Até por todo esse valor... Você pensa se vale tudo isso (30 milhões de euros)?

Sinceramente, até meu irmão tinha comentado isso comigo... "Caramba uma pessoa valer tudo isso, né?". Eu falei: "cara, eu também não sei por quê". A gente sabe que o futebol envolve grandes cifras. É muito legal esse sonho realizado, que tive oportunidade de concretizar e ajudar o Grêmio, que foi o clube que gastou muito dinheiro comigo, desde os 14 anos morando no alojamento, me dando estudo, comida. Essa gratidão vai ser eterna.

Falando do seu ídolo, que é o Iniesta. Ele deixou o futuro dele no clube aberto, após a vitória na Champions. Você torce para ele ficar um pouco mais?

Eu não acompanhei muito. Eu vi pelo Instagram, não sei se é verídico, que talvez ele iria para a China. Minha vontade é que ele permaneça, porque jogador da qualidade do Iniesta não se acha em qualquer lugar. Ficaria muito feliz em jogar com ele. E acho que a torcida e a diretoria do Barcelona, também.

Lá na Espanha, muitos jornais o rotulam como sucessor do Iniesta. Como você recebe esse tipo de comparação?

Eu procuro não entrar a fundo nisso, não me rotular, porque o Iniesta é um ídolo, mas ele tem a característica dele, e eu, a minha. Ele é o Iniesta, é um Deus do futebol. Mas eu estou começando agora. Tenho que focar em chegar lá e fazer meu melhor. Aí a gente vê o que vai dar. Se as coisas ocorrerem tudo bem, eu me adaptar bem ao time, à cidade... Pretendo ter uma carreira incrível. É um cara que admiro. Se chegar pertinho dele, vai ser gratificante.

Já começou a fazer aulas de Espanhol ou já domina o idioma?

Já comecei. Quando o Grêmio oficializou a compra, eu achei com minha família que seria ideal fazer esse curso. A gente tem que pensar no futuro, se preparar, entender o que o treinador fala, a resenha no vestiário (risos)... Tem que estar por dentro. Nada melhor do que começar o curso.

Como foi o papo com o Philippe Coutinho? Ele já passou para você como vai ser o trote no Barcelona?

Ainda não. Tive uma conversa recente com o Coutinho, vi que ele me elogiou, fui agradecer, a conversa se estendeu um pouco. Dei parabéns pela pessoa e pelo caráter que ele tem, pelo profissional que é em campo. Basicamente foi isso.