CULTURA

Green Day volta ao bom pop punk, mas com discurso imaturo.

Vocal canta do ponto de vista de assassino e narra vida em tempos difíceis.

Em 07/10/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

O pop (punk) tem dessas coisas. Sempre vai chegar a hora de uma banda dizer que está lançando um disco de "volta às raízes". Tome o Green Day como exemplo. A última turnê por aqui, em 2010, mais parecia um programa infantil: karaokê coletivo, fã ganhando guitarra, beijo na boca, uma gincana muito louca.

Nos cinco discos mais recentes, o Green Day diminuiu o peso, aumentou a pretensão e chegou ao topo das paradas. Nesta sexta (7), lança "Revolution Radio" e propõe uma volta aos anos 90. Além disso, é o primeiro álbum desde que o vocalista Billie Joe Armstrong foi para a reabilitação para se tratar de vício em remédios.

Outra diferença: esta é a segunda vez que a banda não recrutou produtores. Só o grupo produz as 12 músicas. Na primeira vez, no fraquinho "Warning" (2000), não deu muito certo. Mas a experiência do trio californiano formado em 1986 parece fazer a diferença.

Sobram riffs certeiros, como o refrão da faixa-título e o do final da balada "Outlaws". O problema ainda está no modo um tanto imaturo como o vocalista escreve suas letras. Armstrong é perito em empilhar frases que são cheias de poesia, mas vazias em significado.

"Bang Bang" é a primeira a ganhar clipe. Tem letra escrita do ponto de vista de um atirador em um massacre. "Bang Bang, me dê fama / Me filme e atire em mim para entreter (...) Quero ser um mártir celebridade", berra o cantor. Para quem acompanha o Green Day há tanto tempo, é triste constatar que o Foster The People já fez uma música "cantada" por assassino bem melhor e de letra mais elaborada: "Pumped up kicks", no caso.

Youngblood" é a mais cantarolável. Tem jeitinho de single e é uma boa para quem curte o lado mais pop agitado da banda. Não confunda com os grudes lentos "Boulevard of Broken Dreams" e "Wake me up when september ends". Está mais para o pop punk do disco "Nimrod" (1997). A letra é uma história de amor adolescente, com declarações perigosas (ui!) como "Eu quero te segurar como uma arma".

Tempos difíceis
O que dá liga no disco, na parte musical, é a volta ao pop punk mais simples, aquele Green Day de raiz.

O ponto de interseção das letras vem por meio de metáforas bélicas e uma tentativa (frustrada) de radiografar os "tempos difíceis" que vivemos.

Mas fazer isso com metáforas desgastadas torna tudo mais difícil ainda. "O mundo está parando de girar", "É como um prédio desabando", "O paraíso está pegando fogo" e outras frases de eifeito são  cuspidas em "Troubled times".

Billie parece saber do que (não) é capaz, como deixa claro na emocionante "Forever now". Para o bem e para o mal, parece uma página de diário de um carinha de 15 anos com mais espinhas do que convicção. "Eu sou o Billie, e estou pirando / E eu não entendo", canta. "Eu nunca aprendi a ler ou escrever muito bem / Mas posso tocar guitarra". Por mim, tudo bem.

Fonte: g1-SP