TEMAS GERAIS

Imigrante cria marca com estampas africanas e sonha ganhar mercado.

Joel Hodonou aproveitou intercâmbio para apostar no mercado de roupas.

Em 02/03/2017 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

"Todo sacrifício tem que valer a pena”. Movido por esse mantra, Joel Camille Hodonou, 27 anos, deixou a família em Benim, na África ocidental, para um intercâmbio no Rio Grande do Sul, que lhe rendeu a especialização em administração com ênfase em empreendedorismo. Quatro anos depois, morando em Porto Alegre, ele coloca em prática tudo que aprendeu com o lançamento de uma marca de roupas produzidas com os tecidos característicos de seu país.

O foco era dar visibilidade à cultura africana. Nesse sentido, encontrou na vestimenta uma oportunidade de concretizar o que desejava.

"É uma loja de vestuário africano, nossa proposta é usar tecidos africanos de modo diferente", conta, dizendo que os tecidos de estampas coloridas importados do Benim são transformados em camisas, shorts e vestidos com corte moderno.

"Não vendemos roupas africanas, mas sim roupas com tecidos africanos produzidas dentro da moda contemporânea”, argumenta. Joel conta ainda que teve a ideia ao perceber que, apesar de grande parte da população brasileira ser negra, a representatividade da cultura no país era pouco perceptível.

"Eu vejo que o Brasil é praticamente um primo da África. Aqui se percebe uma representatividade muito grande da população negra. No entanto, apesar da similaridades, aqui no Rio Grande do Sul a influência dos imigrantes europeus é muito grande, o que me levou a desenvolver essa proposta que vem a representar a população negra”, explica.

Apesar do investimento inicial ter sido modesto, de R$ 2 mil, Joel conta que o retorno tem sido muito positivo com a venda das peças oferecidas a valores que variam de R$ 90 a R$ 170. Por enquanto, a loja é virtual, no Facebook.

Em um futuro próximo, estão nos planos para a abertura de um site próprio para a marca Hodonou, além de uma loja física. "É uma coisa que as pessoas têm pedido bastante, e que esperamos conseguir abrir logo", afirma.

Segundo ele, roupas para o público masculino estão em fase de desenvolvimento, e logo devem ser disponibilizadas. Para a produção, ele conta com o suporte de um designer e uma costureira, mas diz que dá muita atenção para os detalhes e fidelidade com a proposta.

"Se eu fosse fazer uma rápida análise da reação do mercado até agora, diria que está sendo muito boa. Estamos atendendo não apenas no Rio Grande do Sul, como pessoas de outras partes do Brasil. É algo que eu não esperava, uma resposta tão rápida do mercado", diz o africano, já calejado com as dificuldades provocadas pela alta carga tributária brasileira com a importação dos tecidos da África. "A dificuldade não é nem a burocracia, mas sim os altos impostos", diz.

Filho de mãe francesa e pai africano, Joel saiu de casa com um objetivo em mente. "Quando saí do meu país para buscar uma formação aqui, deixei minha família na África, minha mãe na França. Sinto muitas saudades, é muito difícil, mas sempre penso que o sacrifício que tenho feito tem que valer a pena", afirma, repetindo o mantra que parece trilhar o rumo para seu futuro.