EDUCAÇÃO

Jovem reúne R$ 600 mil para criar kit com molas para ensinar arquitetura.

Paraense arrecadou R$ 600 mil em financiamento coletivo para criar kits.

Em 27/08/2015 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Em uma caixa pequena e leve, um conjunto de esferas, molas, fios, triângulos e placas de aço, plástico e ímãs pretende dar outra perspectiva ao ensino de arquitetura e engenharia civil.

O Projeto Mola, desenvolvido por Márcio Sequeira de Oliveira, arquiteto, pesquisador e agora empresário paraense, permite que os alunos aprendam o conteúdo de estruturas físicas com mais apoio do que as contas no papel. As peças versáteis, que simulam efeitos como o vento e a gravidade em diversos tipos de construção, começam a ser entregues aos mais de 1.500 apoiadores do projeto neste mês.

A ideia, lançada em uma plataforma de financiamento coletivo, bateu o recorde nacional em 2014 e arrecadou R$ 600 mil em 45 dias, mais de dez vezes a meta inicial.

Em entrevista, Oliveira diz que atualmente há uma deficiência no ensino de estruturas tanto no Brasil como em outros países. "O ensino de estruturas praticado nas escolas de engenharia e arquitetura prioriza quase que exclusivamente a teoria apresentada através de números (cálculos), e isso torna o assunto muito abstrato. É unanimidade entre estudantes, professores e profissionais da área a carência por métodos mais eficientes que auxiliem no entendimento aprofundamento do assunto", explicou.

Segundo ele, apesar dessa deficiência, o conhecimento das estruturas é "absolutamente necessário para todo engenheiro e arquiteto, especialmente na fase de concepção de projeto".

Uma década de pesquisa
O paraense trabalha no projeto há dez anos, considerando o tempo de produção dos mais de 1.600 kits pré-vendidos pelo financiamento coletivo, tarefa que ele começou em outubro do ano passado e está concluindo neste mês.

A ideia surgiu de uma necessidade pessoal, diz Oliveira. Durante um curso de pós-graduação em Belo Horizonte, ele afirmou que sentiu a necessidade de "compreender de forma tátil e visual o comportamento das estruturas arquitetônicas".

Por isso, ele dedicou sua dissertação de mestrado na Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) ao estudo e validação de um projeto de modelo de estruturas que representasse fielmente o comportamento das estruturas das obras reais. "Nós comprovamos através de comparações com estruturas simuladas em softwares de estruturas que o Mola tem um comportamento muito similar ao de uma estrutura real."

Antes de chegar à mola como material principal do modelo, o paraense testou outros tipos de materiais, como madeira e borracha, mas nenhum deles chegou ao resultado desejado. Oliveira explica, porém, que a ideia da mola acabou aparecendo em um momento inesperado de inspiração: quando ele trocava a resistência do chuveiro, e precisou manusear uma peça parecida com a que acabou garantindo o sucesso do seu modelo.

Rejeição de investidores
Oliveira apresentou sua pesquisa de mestrado em congressos no Brasil e no exterior, e diz sempre ter recebido respostas positivas sobre a ideia, e pedidos para a produção dos modelos para venda. Sem dinheiro para o investimento inicial, ele buscou editais de leis de incentivo e investidores que acreditassem no projeto, mas as duas frentes de financiamento fracassaram.

"Não achei opções de lei de incentivo para projetos de educação, só de cultura e esporte. E ouvi dos investidores que o meu projeto era para um nicho específico, e que não haveria demanda."

Foi então que ele decidiu arriscar e anunciou seu projeto na plataforma Catarse. Sua meta era arrecadar, em 45 dias, R$ 50 mil. "A idéia inicial era produzir uma tiragem piloto, entre 100 e 150 kits", explicou o pesquisador, que logo percebeu o alcance da proposta.

Apoiadores de 30 países
A meta inicial foi alcançada em apenas três dias. Ao final dos 45 dias, ele havia arrecadado mais de R$ 600 mil, valor recorde, até então, de financiamentos feitos coletivamente no Brasil. No caso do Mola, a plataforma serviu paralelamente para a "pré-venda" dos kits: a maior parte dos apoios foi de cerca de R$ 350, o preço mínimo para que o apoiador recebesse um kit em casa.

"Existe uma demanda muito grande por um produto com essas características não só no Brasil como também em outros países. Isso explica o volume de apoios recebidos durante a campanha. Foram 1583 apoios vindos de 30 países, distribuídos nos 5 continentes", lembrou ele.

Essa demanda fez com que Márcio mudasse seus planos de carreira. Antes do financiamento coletivo, o Mola era um projeto paralelo que ele mantinha junto com o trabalho de arquiteto. Desde então, ele precisou abrir a própria empresa e passar a se dedicar prioritariamente ao modelo de ensino de estruturas, que a partir deste mês começa a chegar aos apoiadores, e em breve será relançamento para novas vendas.

Fonte: G1