POLICIA

Juiz chama de empresa familiar a fraude de desvios na UFPR

A 2ª fase da Operação Research foi deflagrada nesta sexta-feira (3).

Em 03/03/2017 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

O esquema de fraude no repasse de bolsas e de auxílios à pesquisa da Universidade Federal do Paraná (UFPR) foi chamado de "uma espécie de empresa criminosa familiar" pelo juiz federal Marcos Josegrei da Silva, da 14ª Vara Federal de Curitiba. A  2ª fase da Operação Research foi deflagrada nesta sexta-feira (3).

A referência é para as duas servidoras presas, em fevereiro, suspeitas de serem as principais responsáveis pelo desvio de, pelo menos, R$ 7,3 milhões em bolsas de pesquisa para 27 pessoas, e para um "terceiro núcleo de atuação".

A afirmação foi feita pelo juiz federal no despacho em que autorizou a prisão temporária por cinco dias de cinco novos investigados, para a deflagração da 2ª etapa da Operação Research, que apura a fraude milionária na instituição de ensino.

"Tratava-se, pelo que se pode até agora constatar, de uma espécie de empresa criminosa familiar, em que as violações à lei penal eram praticadas pelos integrantes das mesmas famílias e o costume da apropriação do dinheiro do contribuinte transmitido de geração em geração, em uma espécie de perpetuação dos valores antiéticos aprendidos nas relações de parentesco próximo. Assim, montaram uma espécie de loteria privada mensal com dinheiro público, cujos participantes integravam sempre o mesmo círculo de amigos e parentes que agiam dolosa e inescrupulosamente para serem os 'sorteados'", diz um trecho da decisão de Marcos Josegrei da Silva.

Mandados de busca e apreensão e de condução coercitiva, que é quando a pessoa é levada para prestar depoimento, também foram cumpridos nesta sexta.

A secretária da pró-reitoria de Planejamento e Orçamento, Tânia Márcia Catapan, e Conceição Abadia de Abreu Mendonça, que é chefe do setor de Orçamento e Finanças do mesmo setor, são as duas servidoras suspeitas, presas na 1ª fase da Operação Reserch.

3 núcleos

Segundo o juiz federal, com a conclusão dos interrogatórios dos investigados na 1ª fase da operação e da análise de documentos apreendidos ou então entregues voluntariamente pelos suspeitos, foi revelado a presença de um terceiro núcleo de atuação – além dos dois comandados por Tânia e Conceição.

"Revelou a presença de 3 núcleos de atuação para cooptação de terceiros como destinatários diretos/formais dos recursos públicos desviados, cada um deles coordenado por Conceição Abadia de Abreu Mendonça, Tânia Márcia Catapan e Gisela Aparecida Roland", aponta outro trecho do despacho.

Gisela é filha de Maria Áurea Roland, ex-servidora da UFPR, conforme o juiz federal.

Dos cinco mandados de prisão temporárias, dois são contra Gisela e Maria Áurea. Um terceiro é contra o marido de Gisela, e outros dois contra filhas de Tânia. Os cinco suspeitos foram presos nesta sexta-feira. Eles estão detidos na carceragem da Polícia Federal (PF), em Curitiba.

Paulo Gomes de Souza, advogado de Conceição Abadia Abreu Mendonça, disse que pedirá uma nova reinquirição na próxima semana.

A reportagem tenta contato com os advogados dos demais citados.

Por meio de nota, a UFPR informou que reitera o compromisso com a transparência e com a elucidação dos fatos. "É de nosso interesse que as investigações avancem, permitindo que a verba desviada retorne o mais rápido possível ao erário público", diz parte da nota enviada pela instituição.

1ª fase da Operação Research

A 1ª fase da Operação Research deflagrada em 15 de fevereiro; 28 pessoas foram presas temporariamente. Dois dias depois, 26 delas foram soltas.

Tânia e Conceição Abadia continuam presas. A princípio, o mandado de prisão era temporário. No entanto, no dia 24 de fevereiro, o juiz federal decretou a prisão preventiva de ambas, que é por tempo indeterminado.

Ainda conforme a Justiça, ambas agiam na "crença de que jamais seriam descobertas, tendo em vista o tempo de trabalho que possuíam, a confiança de que gozavam de seus superiores e a notória ausência de controle e transparência do setor em que trabalhavam, por omissão histórica da Instituição de Ensino".

De acordo com as investigações, os beneficiários do esquema de desvio dos recursos públicos faziam parte do "círculo de amizades" de Tânia e de Conceição. O advogado de 11 suspeitos  Marlon Bizoni Furtado, chegou a dizer que os clientes eram "laranjas".

*Colaborou Rafael Nascimento, da RPC Curitiba