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Justiça legitima violência em caso de repórter que ficou cego, diz Sindicato

Fotógrafo que ficou cego após ser ferido por PM teve indenização negada.

Em 19/08/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

O Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo considera que a decisão do Tribunal de Justiça de negar indenização ao fotógrafo Sérgio Andrade da Silva, que ficou cego de um olho após ter sido ferido pela Polícia Militar (PM) em uma manifestação no centro de São Paulo em junho de 2013, legitima a violência contra manifestantes e jornalistas que registram os atos. Silva reafirmou que recorrerá da decisão em entrevista coletiva nesta sexta-feira (19).

"A violência contra jornalistas cresceu muito desde 2013. Em 2015 foram 137 casos no Brasil, 20% deles em São Paulo", disse Paulo Zochi, presidente do Sindicato. "Essa decisão da Justiça faz parte de um processo de legitimação da violência contra manifestantes e contra os jornalistas que registram os atos", continuou.

O juiz Olavo Zampol Junior determinou improcedente o pedido de indenização por não considerar o Estado culpado pela violência que o fotógrafo sofreu.

"A decisão é um atentado contra a liberdade de imprensa. E, neste contexto, sou contra a polícia militarizada, que é herança da ditadura. Somos alvo porque denunciamos abusos. Vou recorrer da decisão", disse Silva.

O fotógrafo relembrou casos em que governos de outros estados se anteciparam às decisões da Justiça  e interviram pela indenização. Em São Paulo, em 2014, outro fotógrafo, Alex Silveira, também teve a indenização negada, embora tenha sido atingido no olho por uma bala de borracha.

"Penso que as decisões e a postura do governo em não assumir responsabilidade do que aconteceu é por questão política. Se a gestão atual tivesse me ligado ou oferecido auxílio, ela estaria assumindo culpa e não teria ganhado as últimas eleições", acredita Silva.

Ele contou que não recebeu sequer um telefonema do governador ou do comandante da polícia na noite em que foi gravemente ferido por servidores do Estado.

Um dos advogados de Silva, Maurício Vasques, questionou os fundamentos em que a Justiça se baseou para tomar a decisão. "O juiz disse que Sérgio assumiu a responsabilidade por estar na "linha de tiro". Mas que linha de tiro? Eram manifestantes ali. Por redução de tarifa, na Bela Cintra e na Paulista. Não era uma zona de guerra. Não havia tropas ali. Foi uma reação selvagem, bárbara da polícia", afirmou.

Vasques disse ainda que o laudo do acontecimento foi inconclusivo, e que o juiz disse que o processo estava pronto para ser julgado, independentemente se houvesse outras provas. Silva disse que não atende tantas pautas quanto antes porque ainda está em período de readaptação.

"Por mais que eu tenha conhecimento do caso do Alex, somos pessoas de coração. Ainda carregava sim a esperança de que a Justiça seria favorável a mim. Todo dia acordo e vejo no espelho que tenho essa deficiência. Carrego isso para sempre. Hoje, não iria para qualquer pauta. Foi traumático, mas sou conduzido pelo amor da minha família, dos meus amigos e da imprensa também", contou.

Ferido em protesto
No dia 14 de junho de 2013, Sérgio Andrade da Silva cobria um ato contra o aumento na tarifa dos transportes. O protesto começou por volta das 17h em frente ao Theatro Municipal, no Centro de São Paulo.

Além de Sérgio, sete repórteres do jornal 'Folha de S.Paulo' foram atingidos no protesto, entre eles Giuliana Vallone e Fábio Braga, que levaram tiros de bala de borracha no rosto. Um cinegrafista foi atingido com spray de pimenta no rosto por um policial.

Os manifestantes, cerca de 5.000 segundo estimou PM à época, usavam máscaras e narizes de palhaço. “Não aguentamos mais sermos explorados”, dizia uma das faixas. A Cavalaria da PM uniu-se ao Choque na Rua Maria Antônia, onde começaram os confrontos. A Universidade Mackenzie, que fica na esquina, fechou as portas.

Segundo o major da PM Lídio, o acordo era para que os manifestantes não subissem em direção à avenida Paulista, o que não foi cumprido. “Se não é para cumprir acordo, aguentem os resultados”, disse à impresa na ocasião.

g1/São Paulo.