ECONOMIA NACIONAL

Lucro dos bancos representa 14% do custo do crédito

Maiores bancos do país lucraram R$ 57,6 bi em 2017, alta de 14,6% ante 2016.

Em 12/06/2018 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

A margem financeira dos bancos, ou seja, seu lucro, representou 14,04% do custo do crédito em 2017, informou o Banco Central nesta terça-feira (12) por meio do relatório de economia bancária.

No ano passado, o lucro dos maiores bancos do país voltou a crescer, subindo 14,6%, para R$ 57,63 bilhões, na comparação com R$ 50,29 bilhões em 2016.

De acordo com a instituição, o componente da inadimplência é aquele que têm mais peso na definição do custo do crédito, respondendo por 38,27% do total no ano passado, seguida pelas despesas administrativas (25,55%) e tributos e Fundo Garantidor de Crédito (FGC) – com 22,13%.

O BC informou que quanto maior a taxa de inadimplência, "maior a taxa de juros necessária para cobrir a perda com a inadimplência". "Quanto maior o prazo das operações de crédito, menor a taxa de juros necessária para cobrir a perda com a inadimplência", acrescentou.

Com relação aos chamados custos administrativos, o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Viana, afirmou que evidências sugerem que o valor é "relativamente alto" no Brasil.

"Tem a ver com questões trabalhistas, de segurança. Tem a ver com uma série de questões, algumas delas que não afetam apenas o setor financeiro", disse. Acrescentou, porém, que a tendência é de redução dos custos administrativos ao longo do tempo com o uso da tecnologia.

O Banco Central divulgou o relatório de economia bancária em um momento no qual se discute o impacto da redução da taxa básica de juros nas taxas bancárias. Embora a taxa Selic, fixada pelo BC para controlar a inflação, esteja na mínima histórica de 6,5% ao ano, os juros bancários seguem elevados para padrões internacionais.

"O esforço é buscar redução [do custo do crédito] de forma sustentável. O peso da inadimplência é elevado. Precisamos melhorar ambiente de recuperação de garantias, e a educação financeira cumpre o papel também. A agenda BC+ abrange várias delas", disse o diretor do BC, Carlos Viana.

Concentração bancária

Recentemente, o BC informou que os quatro maiores conglomerados bancários do país, Itaú-Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, fecharam o ano de 2017 com 78,5% do mercado de crédito e com 76,35% dos depósitos de correntistas.

De acordo com a instituição, em 2016 o Brasil figurava no grupo de países com os sistemas bancários mais concentrados, que inclui Austrália, Canadá, França, Holanda e Suécia. Acrescentou que os "indicadores de concentração bancária não tiveram alteração significativa em 2017".

O BC informou que monitora a concentração do sistema financeiro e que está "atento aos riscos para o sistema e aos possíveis efeitos sobre o spread bancário e outros preços". Acrescentou, entretanto, que a relação entre concentração e spreads "não é tão direta quanto o senso comum pode sugerir".

"De fato, diversos fatores que não têm relação com concentração podem influenciar no custo do crédito, tal como ineficiência regulatória, rigidez informacional e limitada educação financeira", informou a instituição, por meio do relatório de economia bancária.

Segundo a instituição, concorrência "não é uma questão dicotômica, ou seja, não se pode resumir a questão a uma pergunta se há ou não concorrência".

A questão relevante, de acordo com o BC, é qual o grau de competição entre os bancos. A instituição informou que indicadores sobre competição bancária "apontam que houve aumento da concorrência bancária" no período de 2000 a 2017.

Comparação com outros países

O BC informou ainda, no relatório, que um desafio ao comparar as taxas de juros praticadas no Brasil para algumas modalidades de crédito com aquelas praticadas no exterior é a proibição no país da cobrança de algumas tarifas.

Informou que esse é o caso do cartão de crédito rotativo na modalidade denominada 'não regular' (quando não é pago o valor mínimo exigido da fatura) e do cheque especial.

"Ao realizar um exercício hipotético, em que fosse permitida a cobrança desse tipo de tarifa (mantendo constante o dispêndio financeiro agregado dos devedores), verificou-se que as taxas de juros calculadas no cartão de crédito rotativo no Brasil ainda seriam superiores às praticadas no exterior, em decorrência dos demais determinantes do custo do crédito", concluiu.

Rentabilidade dos bancos

No relatório de economica bancária, divulgado nesta terça-feira, o BC também avaliou que a rentabilidade das instituições bancárias (medida pelo Retorno sobre o Patrimônio Líquido) alcançou 13,8% em dezembro de 2017, ante 11,6% em dezembro de 2016.

"A rentabilidade do sistema bancário brasileiro mostrou-se em posição intermediária em comparação aos pares internacionais", informou.

De acordo com o BC, bancos de grande porte apresentam um retorno sobre o patrimônio líquido, enquanto que os bancos de controle estrangeiro, que respondem por 17% do lucro do sistema, tiveram o menor rentabilidade no ano passado, quando comparado aos bancos de controle privado nacional e controle público.

"Bancos de menor porte com atuação mais direcionada a determinados nichos, produtos e/ou serviços apresentaram menor rentabilidade em 2017", acrescentou a instituição.

Depósitos compulsórios

O BC informou que os cálculos do custo do crédito não captam os efeitos dos depósitos compulsórios (recursos que têm de ser mantidos pelos bancos na autoridade monetária para controle da meta da taxa Selic – juros básicos da economia).

Isso ocorre, segundo a instituição, porque os efeitos dos compulsórios "não podem ser capturados pelas contas", nem estimados por outras medidas de maneira direta.

"A razão é que essa estimativa requer o uso do conceito de custo de oportunidade, ou seja, o potencial inexplorado de rendimento que os valores depositados compulsoriamente no BCB poderiam ter, caso as instituições financeiras fossem livres para alocar esses recursos", informou.

(Foto: Divulgação)