POLÍTICA INTERNACIONAL

Macron e Le Pen se enfrentam neste domingo no 2º turno das eleições.

Urnas foram abertas às 3h (Brasília).

Em 07/05/2017 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Os franceses votam neste domingo (7) para definir o próximo presidente do país, em eleições que são consideradas cruciais também para o futuro da União Europeia e do mundo. O centrista Emmanuel Macron e a candidata de extrema-direita Marine Le Pen disputam com propostas que podem levar a França a direções opostas, principalmente em questões de economia, acolhida a refugiados e o futuro da União Europeia. As urnas foram abertas às 8h locais (3h, pelo horário de Brasília) e fecham às 19h (14h de Brasília) na maioria das cidades e às 20h (15h em Brasília) em grandes cidades como Paris, Lyon e Marseille. Mais de 50 mil policiais e gendarmes, agentes subordinados ao Ministério da Defesa francês, trabalharão na segurança, com apoio de 7 mil militares mobilizados para uma operação antiterrorista. No total, 47 milhões de pessoas estão aptas a votar. Antes do final oficial da campanha eleitoral às 22h de sexta-feira (19h de Brasília), Macron viu sua liderança confirmada nas últimas pesquisas: 61,5% das intenções dos votos contra 38,5% para Marine Le Pen, ou mesmo 62% a 38%. Também nesta sexta, sua campanha disse ter sofrido um ataque hacker, que vazou emails, documentos e informações de financiamento de campanhas online.

Espera-se que cerca de um quarto do eleitorado se abstenha – o voto não é obrigatório na França -, segundo uma pesquisa do instituto Odoxa. A taxa de abstenção prevista seria a segunda pior de uma eleição presidencial desde 1965, sublinhando a desilusão de muitos eleitores, em especial os de esquerda decepcionados por ver seus candidatos eliminados no primeiro turno.

Os franceses que moram no continente americano votaram neste sábado (6), incluindo no Brasil onde 14.500 pessoas estão aptas a votar.

Macron e Le Pen venceram o primeiro turno, realizado no dia 23 de abril. Ele obteve 24,01% dos votos e ela, 21,30%. François Fillon, dos republicanos, foi o terceiro colocado, com 20,01%, e o socialista Jean-Luc Mélenchon ficou com 19,58%.

A União Europeia acompanha com atenção a eleição na França , neste momento em que o Reino Unido dá início à saída do bloco, fundado pela França e Alemanha. O “Frexit”, como já é chamada uma possível saída da França, é um dos temas da campanha francesa que está em jogo, junto com a acolhida de refugiados e o avanço da extrema-direita no continente.

Emmanuel Macron

O centrista de 39 anos surgiu já no primeiro turno como candidato que poderia derrotar Le Pen em um segundo turno. Tem o apoio dos seus ex-adversários, do ex-presidente Nicolas Sarkozy e do atual François Hollande.

Filhos de médicos que atuam na saúde pública, ele nasceu em Amiens, no norte da França. Trabalhou em um banco de finanças e se engajou na campanha de François Hollande em 2012. Tornou-se secretário-adjunto e, então, o ministro da Economia do governo Hollande.

É de sua autoria o projeto de lei que pretende impulsionar a economia francesa por meio de medidas como ampliação do trabalho dominical e da modificação das condições do exercício de várias profissões liberais, como os tabeliães e os oficiais auxiliares de Justiça. A “Lei Macron”, como ficou conhecida, foi implementada por decreto e provocou protestos até de integrantes do Partido Socialista. Foi a primeira vez desde 2006 que o governo driblou o legislativo para impor uma lei.

Em maio de 2016, ele lançou o movimento cidadão “En Marche!”, que tem suas iniciais, com o objetivo de “refundar” a França com o apoio popular. Seu site oficial afirma que a iniciativa já reúne cerca de 192 mil “homens e mulheres de boa vontade e dispostos a construir a sociedade de amanhã". A saída de Macron do governo para disputar as eleições foi vista como um golpe contra Hollande.

Em seu programa de governo, Macron promete “tolerância zero” contra o crime e o combate ao terrorismo. Para os próximos 5 anos, ele propõe reforçar a guarda de fronteira, criar de 10 mil postos de policiais e 15 mil vagas em prisões para abrigar pessoas envolvidas com terrorismo.

Embora proponha maior controle nas fronteiras, Macron defende engajamento com a União Europeia e diz assumir sua “justa parte” na acolhida de refugiados diante da maior crise na imigração que o continente enfrenta desde a 2ª guerra mundial. Ele defende uma reformulação das condições de pedido de asilo e promete uma decisão em oito semanas para todos os pedidos.

O candidato quer reduzir o imposto que incide sobre as empresas (de 33,3% para 25%) para tornar o país mais competitivo e reduzir as despesas públicas progressivamente até atingir o nível recomendado pela União Europeia. Ele propõe alterar a cobrança do imposto sobre grandes fortunas - visto como bandeira da esquerda - e exonerar 80% dos lares franceses do imposto sobre moradia. Macron tem ainda uma proposta de mudança no seguro desemprego: os desempregados teriam que passar por uma avaliação de competência e seriam obrigados a aceitar uma vaga de trabalho quando recebessem uma segunda oferta.

Marine Le Pen

Com retórica anti-imigração e contra a União Europeia, a candidatura de Marine Le Pen ganhou força por causa do descontentamento dos eleitores com o governo do socialista François Hollande.

Marion Anne Perrine Le Pen, de 48 anos, é a presidente da Frente Nacional, partido fundado pelo seu pai, Jean-Marie, sigla que ganhou espaço principalmente desde as últimas eleições presidenciais. No primeiro turno de 2012, Marine conseguiu um índice surpreendente de votos para a extrema direita (18,12%), mas perdeu a vaga no 2º turno para o ex-presidente Nicolas Sarkozy, que acabou perdendo para Hollande.

A candidata representa uma certa renovação das propostas do partido, que tenta se afastar, pelo menos parcialmente, de ativistas antissemitas, homofóbicos ou nostálgicos da colaboração francesa com a Alemanha nazista.

Ela ainda propõe a modernização do país através de controversas reformas econômicas e da repressão contra a imigração ilegal, que na França atinge de maneira especial muçulmanos e africanos.

Como o americano Donald Trump fez nos Estados Unidos, Marine defende políticas restritivas de imigração para combater o terrorismo no país, que já foi alvo de violentos ataques do Estados Islâmico em Paris e Nice nos últimos anos. Le Pen diz que quer acabar com a escola gratuita para filhos de imigrantes ilegais em uma estratégia para facilitar a expulsão dessas famílias do país.

A candidata mantém algumas de suas principais promessas de 2012, como a flexibilização das leis de trabalho com o objetivo de abrir espaço para acordos setoriais. Entre as propostas, está o aumento da jornada de trabalho de 35 para 39 horas semanais, segundo a revista “Le Point”.

Ela defende também uma reforma da relação da França com a União Europeia, com o objetivo de reduzi-la a uma enfraquecida cooperação entre nações, sem uma moeda comum e zonas de livre circulação de pessoas. Como é provável que os outros integrantes do bloco não aceitem as concessões, ela já prometeu um referendo sobre o tema.

Marine foi acusada de usar 340 mil euros recebidos do Parlamento Europeu para pagar despesas pessoais de dois funcionários da Frente Nacional. O salário dela foi cortado pela metade para cobrir o suposto desvio do dinheiro. O escândalo não parece ter prejudicado o desempenho da candidata.