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Morre mulher símbolo da luta contra o ebola.

Equipe médica se recusou a tocar nela quando teve uma convulsão, segundo irmã.

Em 02/03/2017 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Capa da revista americana "Time" na edição “pessoa do ano de 2014”, representando os combatentes do ebola, a sobrevivente da doença Salomé Karwah morreu na Libéria há uma semana, poucos dias após ter seu quarto filho. Ela era símbolo da luta contra o vírus, que matou milhares de africanos há três anos. Autoridades investigam as condições de sua morte: ela pode ter sido vítima da negligência de profissionais do hospital onde era atendida.

De acordo com a agência Reuters, ela foi internada quatro dias antes de sua morte, em 21 de fevereiro, com complicações no parto. Sua irmã, Josephine Manley, disse à “Time” que a trocaram de hospital devido a uma convulsão após ela ter o bebê por cesariana. Ela também contou que a equipe, por medo, se recusou a tocar em Salomé quando ela teve a convulsão, pois tinha conhecimento do fato de que ela teve ebola em 2014.

“É trágico que uma de nossas heroínas que sobreviveu ao ebola tenha morrido devido ao parto em um hospital”, disse à Reuters o diretor médico da Libéria, Francis Kateh. “Estamos levando muito a sério esta morte”, completou, e também explicou que as autoridades estão investigando se realmente os funcionários do hospital se recusaram a tratá-la.

Salomé trabalhava como assistente de enfermagem após ser infectada pelo vírus do ebola e se curar, ajudando pacientes com a doença. Durante a epidemia, perdeu a mãe, o pai, seu irmão, tias, tios, primos e uma sobrinha. Por sorte, a irmã Josephine e o noivo James Harris resistiram. Ela foi uma das cinco pessoas que foram destacadas pela “Time” como exemplo de luta contra a doença.

A Libéria foi o país mais atingido pela epidemia mundial do ebola e perdeu mais de 4,8 mil pessoas - ao todo, morreram cerca de 11,3 mil na Guiné, em Serra Leoa e no país de Salomé, entre 2013 e 2016.

Características do vírus

O ebola pode continuar latente e se esconder em outras partes do corpo, como olhos e testículos, durante longos períodos e mesmo após deixar a corrente sanguínea.

Especialistas dizem, no entanto, que o risco de o ebola reviver é baixo, e avaliam que o estigma em torno do vírus pode levar a mortes que podem ser evitadas nos três países afetados.

"Emergências como essas criam efeitos duradouros, em parte porque podem ser destrutivas para o espectro social de um país ou comunidade", disse Richard Mallett à Reuters, diretor da organização britânica Overseas Development Institute.

A Aliança para Ação Médica Internacional (Alima) disse, também à Reuters, que muitos sobreviventes do Ebola ainda estão lutando por cuidados de saúde na África Ocidental.

"Muitos perderam seus empregos, ou o cônjuge, e já não podem pagar cuidados de saúde para si ou para sua família", disse Ivonne Loua, chefe do programa de cuidados a sobreviventes do Alima, na Guiné.

Por G1