ESPORTE INTERNACIONAL

Muslera lembra decisões e defende ex-colega de clube

Titular da Celeste há mais de sete anos diz que atacante uruguaio é o melhor.

Em 02/09/2017 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Não é em vão que Fernando Muslera gosta de decisões em cobranças de pênaltis. Quem lembra das partidas do Uruguai contra Gana, nas quartas de final da Copa do Mundo de 2010, e diante da Argentina, nas quartas de final da Copa América de 2011, saberá por quê. O goleiro foi protagonista de dois dos momentos mais gloriosos da Celeste nas últimas décadas. E assim, mesmo com críticas, é titular do gol uruguaio há nove anos.

Sou o tipo de goleiro que, quando chega ao final dos 118 minutos, por ali, trato de ganhar um tempo para ir aos pênaltis – confessa, em entrevista ao GloboEsprte.com.

Aos 31 anos, Muslera é o goleiro que mais vezes vestiu a camisa do Uruguai. Com 91 jogos, é o oitavo jogador com mais partidas pela seleção. Depois de oito anos acompanhando a atual geração, agora sem o mesmo sucesso dos anos de 2010 e 2011, ele admite que é necessária uma renovação e crê que ela esteja acontecendo. Mas nunca deixará de achar que a Celeste está entre as principais seleções do mundo. Especialmente por ter uma das melhores duplas de ataque do mundo e, segundo ele, “o melhor 9”.

"Luis (Suárez), para mim, é o melhor 9 do mundo. Como, em algum momento, já foi Ronaldo, do Brasil, na minha opinião, hoje em dia, o melhor 9 que há é Luis Suárez "

Assim como defende Suárez como melhor centro-avante da atualidade, Muslera defende outro amigo: Felipe Melo. O brasileiro foi companheiro do goleiro por quatro temporadas no Galatasaray. Tempo suficiente para o uruguaio afirmar: não haverá polêmica que mudará o volante.

– Compartilhamos muitas vitórias juntos, muitos títulos. É um jogador aguerrido, que quando entra em campo ele se transforma e demonstra. Não é que eu esteja dizendo isso, todo mundo vê. Ele não tem vergonha nem medo de demonstrar como é, e creio que às vezes temos que valorizá-lo. Mas, obviamente que, como é o futebol, há coisas que às vezes não se deve dizer. Mas ele é assim, não vai mudar, e ninguém vai mudá-lo.

Muslera, você teve um jogo muito especial com a Argentina, o de 2011, quando pegou um pênalti do Tevez. Onde está essa partida na sua carreira? Onde o coloca

Fernando Muslera: Cada um tem o seu, são diferentes. Obviamente, fazer um clássico a nível sul-americano, jogar com Argentina e jogar com Brasil, para mim está na primeira posição. São clássicos no nível de seleções e creio que é um orgulho poder jogar. A nível de seleções, foi o jogo mais importante que joguei. Não só pelo pênalti, mas pelo rendimento que tive nos 120 minutos. Foi uma partida fantástica pessoalmente e, por sorte, se pôde concretizar a vitória e depois a Copa América. Um orgulho mais por ter sido campeão com minha seleção, e sem dúvida, para mim, na seleção, foi a melhor partida que tive.

Fale um pouco mais sobre essa partida, porque eliminar Argentina em sua casa, Argentina que estava há tantos anos sem ganhar títulos, como foram aqueles dias? Nos recorde, por favor, desde o início do jogo, depois...

– Nós vínhamos muito bem da Copa de 2010, fomos a Argentina e começamos a Série em Mendoza, contra Peru, Chile, e depois México, em La Plata, e passando a série veio a Argentina. Sem dúvida sabíamos que a Argentina, dona da casa, com uma grande equipe. Nós confiamos no que vínhamos fazendo. Houve muitas circunstâncias na partida que mostramos grandeza, muito poder, e fomos levando por esse lado. Como disse, tive uma partida muito boa e terminou na decisão de pênaltis e, para um goleiro, eu sempre digo. Na minha opinião, os pênaltis, é tudo a favor. Se fazem o gol, ele bateu bem, se você defende, é mérito do goleiro.

Então você gosta de pênaltis?

– Sim, sim, gosto das decisões de pênaltis. Sou o tipo de goleiro que, quando chega ao final dos 118 minutos, por ali, trato de ganhar um tempo para ir aos pênaltis. E por sorte tudo saiu bem e se pôde festejar com a Copa. Não foi só eliminar a Argentina, em sua casa, mas sim ganhar uma Copa, que é o importante.

Falando de pênaltis, há outra partida muito especial na sua carreira e na seleção: as quartas de final da Copa do Mundo de 2010. O que passou na sua cabeça quando Suárez botou a mão na bola?

– Bom, pela jogada entrevada que houve, eu não vi a mão de Suárez. Eu só quando giro, vi a bola voltando e a pego. Eu vi o árbitro marcando o pênalti, mas não sabia. Imaginava no momento. Foi uma partida que não vai voltar a se repetir, pelo menos a nível pessoal. No minuto 120 cobrem um pênalti contra, o erram e você termina com a classificação

Quando o árbitro mostrou o vermelho para Suárez, e você viu que teria um pênalti para pegar, e se não o pegasse, provavelmente Uruguai ficaria fora. O que passou em sua cabeça nesses pequenos momentos entre a expulsão de Suárez e o pênalti?

– Muitas coisas passam na sua cabeça, mas tinha que tentar ficar o mais tranquilo possível. Sabia que era a definição da partida. Houve o pênalti, erraram e terminou. Não havia chance para, bom, se marcam o gol e tentarmos sair e buscar o empate. Fico tranquilo, confiar em mim e, por sorte, pegou no travessão e saiu. Teria sido um pouco complicado, um pouco triste perder dessa maneira, porque fizemos uma grande partida e merecemos a vitória.

Em nenhum momento ficou com raiva de Luisito, ou entendeu a atitude dele?

– Não, não... o futebol é assim. Luis aproveitou uma situação, claro que seria falta, ia ser o gol, fez, obviamente, uma falta técnica, a qual é sancionada com um pênalti. Não é que Luis meteu a mão, não se viu e a partida seguiu. Luis pôs a mão, evitou o gol, foi sancionado com a expulsão, com o pênalti e, o erro passou e pronto.

O que acontece com o Uruguai que há que ter emoção? Vocês começaram bem as eliminatórias, e agora está brigando com Chile, Colômbia, com a Argentina.

– A verdade é que as eliminatórias são, para mim, um torneio muito difícil. Creio que é o mais difícil a nível mundial. Sempre falamos que, em eliminatórias anteriores, com 24 pontos, já estava classificado ao Mundial. O futebol sul-americano cresceu muito e está muito mais difícil. Há que ter cuidado com o Brasil, como com o Peru, Venezuela, já não existem mais essas equipes que, no passado, eram menos fortes. Hoje em dia todas as equipes te tiram pontos e tratam de marcar presença. Classificam cinco, e há sete equipes que brigam para entrar, pelo menos, na repescagem. Sempre digo que o futebol é feito de momentos e também as eliminatórias que vão a cada cinco meses, seis meses, depende de como chega cada jogador nesse momento, as lesões que podem sofrer. E bom, que fase negativa, desde o início das eliminatórias, tenham sido essas três derrotas que tivemos nas rodadas anteriores.

Crê que, de alguma maneira, o Uruguai está ameaçado?

– Sim, obviamente que, até que não esteja classificado, está ameaçado sempre. Tem que assegurar a classificação, não é fácil. Tenho certeza que vai ser definido nas duas últimas partidas. Não agora. Agora o importante é tentar somar para manter-se dentro da zona de classificação. Até que não estejamos como o Brasil, já classificado matematicamente, sempre vai estar ameaçado.

Você tem 31 anos, é titular desde 2010, está com jogadores desde aquela época? Como vê a situação do Uruguai? Há a possibilidade de uma renovação? Como vê o Uruguai depois de 2018?

– Bom, na verdade é que, faz um tempo, desde o início do trabalho de Tabárez na seleção, foram geradas muitas coisas não só na Primeira Divisão, mas também nos juvenis. Uruguai fez muito bons torneios, com muitos bons jogadores juvenis, sub-17, sub-20, que conseguiram muitas coisas e creio que graças a Deus, temos um país que gera muitos jogadores e com qualidade. Há muito material para seguir adiante com as renovações que se fez desde 2010 até hoje, Uruguai manteve o mesmo nível de jogo, mesmo caráter, creio que isso é algo que já ficou patenteado na seleção e creio que vai continuar assim?

Você e vários outros jogadores saíram muito cedo daqui, da Primeira Divisão. Crê que seja necessário fazer um trabalho para manter os jogadores aqui?

– Nós, no Uruguai, temos um futebol muito complicado, com muitos problemas. Esperamos que se possa ir solucionando, mas a mentalidade nossa é, sem dúvida, poder jogar a primeira divisão no Uruguai e depois chegar ao exterior porque sabemos que, não só ao nível econômico, podemos a diferença, mas também que a gente cresce como jogador, com experiência, e isso faz que logo se tenha grandes jogadores para a seleção uruguaia. Se bem é importante que os jogadores que temos hoje em dia joguem nas duas grandes equipes do Uruguai, mas a gente sempre busca, pelo menos na minha época e também agora, busca jogar na primeira divisão e depois ir à Europa.

Muslera, onde você coloca a dupla de ataque do Uruguai a nível mundial? É uma das melhores, a melhor? Onde a põe?

– Sem dúvida, Luis e Edi fazem uma grande dupla.

A melhor?

– Sim, a melhor. Sem dúvida, porque são dois jogadores que fazem muita diferença nos seus clubes, são goleadores das eliminatórias, o Edinson Cavani. Luis é o goleador histórico das eliminatórias, então você já se dá conta que são dois grandes jogadores que fizeram grandes destroços e que, por sorte, podem jogar para a seleção de Uruguai.

E Luisito? Onde você o coloca? Pode pensar em um dia em na “Bola de Ouro”?

– Eu creio que sim. O caso é que vivemos em uma época na qual Cristiano Ronaldo e Messi estão em outro nível. É a verdade. Mas Luis, para mim, é o melhor 9 do mundo. Como, em algum momento, já foi Ronaldo, do Brasil, na minha opinião, hoje em dia, o melhor 9 que há é Luis Suárez.

O melhor 9 que o Uruguai já teve?

– Bom, o que acontece é que as épocas do futebol vão mudando. Uruguai teve grandes atacantes, mas era em outras épocas em que o futebol era distinto. As épocas do futebol vão mudando, e sem dúvida que essa geração de Luis Suárez vai ser recordado em muito tempo.

Fernando, no ano passado a AUF teve um longo processo de renovação dos direitos de imagem e contratos com a Puma, e havia a proposta da Nike. Os jogadores tomaram uma atitude que não se vê muito, de tomar partido, acompanhar de perto tudo. Por que isso não ocorre tanto? Como foi todo esse episódio?

– Creio que foi um episódio claro, o Uruguai, não só a nível futebolístico, a nível público, está de acordo com o que foi feito. Para nós, o único que foi feito é mudar coisas que estavam mal feitas, que não eram normais, comparando a outros países. Bom, a verdade é que o único que se fez foi tratar de melhorar tudo para que o futebol uruguaio crescesse. A verdade é que vivemos em um futebol pobre, de equipes que, às vezes, não podem começar o torneio porque não têm dinheiro para começar a pagar. Foram circunstâncias que se foram dando, documentações que se foram vendo que não estavam bem, e obviamente que, a gente, por ser jogador europeu, e por estar tantos anos na Europa, foi fazendo uma breve comparação e se chegou a conseguir novos projetos, novas coisas, que são só para melhorar o futebol uruguaio. Isso é o que se apontou, é o que se está conseguindo e é o único que se quer é que o futebol uruguaio cresça, e que os jogadores locais possam chegar ao fim do mês e possam ter um prato de comida.

Como foi o processo para os jogadores? Houve um comitê de representação, alguns jogadores lideraram as conversações?

– A verdade é que eu não estive durante muitos passos que se deram. Nos informavam o que estava acontecendo. Isso, claro, eram os capitães que lideravam. Lugano, em seu momento, jogadores com maior referência, Diego Forlán, Godín, e advogados que foram os que seguiram tudo, porque quando vínhamos para cá, vínhamos para jogar futebol, e não para ficar em reuniões. Então se contrataram pessoas especializadas no tema, e foram eles que seguiram tudo adiante.

Acha que faltam atitudes como essa nos jogadores?

– Creio que o que se fez foi muito grande, será uma referência muito grande, e uma mudança grande no futebol uruguaio. Ter feito parte desse projeto é orgulho para mim. Se vê que é respaldado com o apoio das pessoas e os jogadores locais.

Falemos dos clubes. O Galatasaray tem e teve muitos brasileiros. O que você pode falar de Felipe Melo? Faz alguns meses, ele causou confusão em Montevidéu no jogo entre Palmeiras e Peñarol, o que pode dizer dele, que jogou muito tempo com você no Galatasaray?

– A verdade é que, com Felipe, estive muitos anos. Compartimos muitas vitórias juntos, muitos títulos. É um jogador aguerrido, que quando entra em campo ele se transforma e demonstra. Não é que eu esteja dizendo isso, todo mundo vê. Quando entra em campo, tenta dar o máximo. É um jogador muito aguerrido, e isso às vezes acontece que pode dar uma patada mais, que pode receber um cartão vermelho, o que seja, mas é sua maneira de jogar. A verdade é que ele deu muito resultado em muitas equipes. Não somente se vê o mau do Felipe Mello, e sim que é um jogador que recupera muitas bolas, que faz o que muitos jogadores não sabem fazer, que é recuperar e jogar simples. Eu compartilhei muitos bons momentos com ele e tenho grande admiração por ele.

Viu o que ele disse quando chegou no Palmeiras, sobre dar tapa em uruguaios?

– Sim, eu vi. Vi a entrevista, e é um jogador que gosta polemizar. Sempre suas entrevistas foi com um pouco mais de tom, mas é sua personalidade. Ele não tem vergonha nem medo de demonstrar como é, e creio que às vezes temos que valorizá-lo. Mas, obviamente que, vendo a nível do que é o futebol, há coisas que, às vezes, não se deve dizer, mas ele é assim, não vai mudar, e ninguém vai mudá-lo.

Você viu como uma brincadeira ou chegou a ficou, em nome dos uruguaios, incomodado

– Não, não... não porque eu o conheço. Às vezes, também, do dito ao feito há muito para poder fazê-lo. Bom, não sou eu que estou dizendo, todo mundo sabe que é um jogador provocador, mas às vezes a provocação que ele faz sai em favor de sua equipe, quando acaba expulsando um jogador rival, o que seja, através de seus comentários, de suas patadas. Eu creio que não há só que vê-lo pelo lado ruim, ele fez muito também.

Qual o seu prognóstico para 2018 com o Uruguai?

– É difícil, a verdade é que poder prever essas coisas, dizer algo por dizer, não me parece bem. Primeiro de tudo é que não estamos classificados, temos que tratar de cosnegui-lo. É o orgulho máximo que podemos ter. Primeiro que nada, classificar para a Copa e ir passo a passo.

Como vê o Brasil atual? Você o enfrentou em Fortaleza, conseguiu aquele empate, o time ainda estava com Dunga, e agora, aconteceu aquela goleada no Centenario. Como você vê o Brasil?

– Vejo muito bem. Falei um pouco com Taffarell, o que mudou um pouco, sem dúvida, foi a mentalidade da equipe. A qualidade é a mesma, os jogadores não mudaram, vieram um ou dois, alguns que já estiveram na seleção brasileira. A verdade é que mostraram outra mentalidade, se armaram de outra maneira no nível tático, que isso também varia em cada treinador, como decide jogador, e bom, fizeram o que fizeram, já estão classificados e tranquilos.