TEMAS GERAIS

Norte-coreanos se despedem de familiares do Sul após visita histórica.

Famílias separadas há mais de 60 anos se reencontraram por 3 dias.

Em 22/10/2015 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Entre choros e abraços, um grupo de norte-coreanos deu adeus nesta quinta-feira (22) a familiares que moram na Coreia do Sul após um reencontro histórico de três dias.

Separados pela guerra, eles não se viam há mais de 60 anos. Na terça-feira (20), voltaram a se encontrar quando o grupo de cerca de 400 sul-coreanos cruzou a fronteira para se reunir com seus parentes.

A visita foi decidida no fim de agosto como parte de um acordo que permitiu acalmar uma escalada de violência entre o Norte e o Sul.

Os sul-coreanos, idosos, cruzaram a fronteira, fortemente militarizada, a bordo de ônibus precedidos por quatro carros da Cruz Vermelha.

As duas ambulâncias que acompanhavam o comboio eram um sinal da frágil saúde de muitos dos participantes. Mais de 20 passageiros estavam em cadeira de rodas, e uma mulher viajava inclusive com um cilindro de oxigênio.

Lágrimas

Lee Jeong-Sook, de 68 anos, se encontrou com seu pai de 88 anos, Ri Hong-Jong, a quem havia visto pela última vez quando tinha apenas dois anos.

Ri Hong-Jong, em cadeira de rodas, não conteve as lágrimas quando viu sua irmã mais nova, a tia de Lee Keong-Sook.

"É sua filha, é sua filha", disse a irmã a Ri Hong-Jong, que depois da emoção inicial perguntou pelo resto da família. "Quase todos morreram", respondeu sua irmã.

"Não consegui dormir esta noite", havia afirmado Lee Joo-Kuk, de 82 anos, que utiliza uma etiqueta com seu nome, idade e o nome do irmão mais velho que o espera no Monte Kumgang.

"Nossa família estava certa de que havia morrido. Inclusive todos os anos organizávamos cerimônias em memória dele", conta. "Depois soube que estava vivo e queria nos ver. É como se tivesse ressuscitado".

Kim Ok-Ja, de 72 anos, por sua vez, já não pode falar, mas ainda assim irá ver seu irmão mais velho, integrado à força ao exército norte-coreano em 1951, segundo seu marido, que viaja com ela.

Acordo

O encontro entre famílias, que é apenas o segundo em cinco anos, foi decidido no fim de agosto como parte de um acordo que permitiu acalmar a violência entre o Norte e o Sul.

Durante a guerra da Coreia, milhares de pessoas foram deslocadas, e no caos do conflito famílias inteiras - pais e filhos, maridos e esposas, irmãos e irmãs - foram separados.

Agora, mais de 65 mil sul-coreanos estão na lista de espera, com a esperança de poder viajar algum dia ao Norte.

A grande maioria dos membros da geração da guerra morreu sem voltar a ter o menor contato com seus parentes do Norte comunista.

Isso porque as comunicações fronteiriças diretas, seja em forma de cartas ou de chamadas telefônicas, estão proibidas.

Encontros esperados, mas breves

O programa de reencontros familiares começou após uma cúpula bilateral histórica no ano 2000. A ideia original era organizar um encontro por ano, mas com as tensões regulares entre os dois Estados muitos foram cancelados, e por vezes as autoridades norte-coreanas não hesitaram em cancelá-los no último minuto.

Depois de décadas de espera, as reuniões serão muito rápidas. Durante três dias, os sul-coreanos verão seus parentes do Norte em seis ocasiões, de forma privada e publicamente.

Cada encontro durará apenas duas horas, o que significa que terão no total 12 horas após mais de 60 anos de separação.

E para muitos dos participantes, octogenários ou inclusive nonagenários, a separação de quinta-feira terá o gosto amargo de um adeus definitivo.

Presentes e queixas

Ilustrando o abismo econômico existente entre as duas Coreias, todas as famílias do Sul levavam diversos presentes, roupas, relógios, remédios, alimentos e em muitos casos milhares de dólares em dinheiro.

Na última reunião, em fevereiro de 2012, alguns sul-coreanos se queixaram de que seus parentes do Norte se sentiram obrigados a pronunciar longos discursos políticos nos quais repetiam a propaganda oficial do regime comunista dos Kim.

Outros também disseram que os norte-coreanos pareciam mais interessados nos presentes do que no encontro em si ou em seu passado familiar.

Fonte: France Presse