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Obras no Grand Parc iniciam e moradores reconstroem rotina

Desabamento de área de lazer aconteceu na madrugada dia 19 de julho de 2016.

Em 17/07/2017 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

O trabalho de reconstrução da área de lazer que desmoronou no condomínio Grand Parc Residencial, na Enseada do Suá, em Vitória, começa ainda neste mês de julho. Essa é a informação da construtora à incorporadora Cyrela. A Rádio CBN Vitória registrou, por meio de fotos, estruturas demarcadas do canteiro de obras no local que foi ao chão há um ano. 

O desabamento aconteceu às três horas da manhã do dia 19 de julho de 2016 e matou o porteiro Dejair das Neves de 47 anos, que trabalhava no local. Outras quatro pessoas ficaram feridas. Todos os 166 apartamentos das três torres tiveram de ser interditados após o ocorrido. Quanto aos moradores, mesmo com tudo pago pela construtora, muitos ainda tentam recomeçar, alguns com mais facilidade que outros.

A aposentada Iracy Pereira Olímpio, de 67 anos, e o esposo, o médico Edmar Olímpio, de 69 anos, ainda se recuperam da tragédia e seguem em frente. Os dois foram os últimos a sair do condomínio porque não perceberam o que havia acontecido. “Nós ouvimos por volta das 3 da manhã um barulho. Acordei, como ela, acreditando que era um transformador estourado. Voltamos a dormir. Acordamos às 7 horas, com um filho nosso pergunto como a gente estava. Ele disse do ocorrido, eu falei que não sabia e fui olhar na varanda, quando vi. Só tínhamos eu e minha mulher no prédio”, disse.

Iracy estava passando por um tratamento de coluna e, por isso, teve que descer de cadeira de rodas, carregada por bombeiros, e chorando desesperada sem entender o que havia acontecido. Há cerca de duas semanas, ela e Edmar se mudaram para um edifício atrás do Grand Parc, com aluguel pago pela incorporadora do empreendimento. Voltar, no entanto, ainda é dúvida entre o casal. “Eu, no meu pensamento, não tenho vontade de voltar. Ele quer voltar. Eu não tenho saudade. Qualquer canto para mim está bom”, diz Iracy. “Mesmo que tenha acontecido isso, pela nossa fé em Deus, temos força. Mas somos um casal, vamos nos entender, para ver o que é melhor para nós dois”, acrescenta o médico.

OBRAS NO INÍCIO 

Da nova casa de Iracy e Edmar é possível ver o andamento da recuperação da área de lazer do Grand Parc. Todo o entulho, além dos carros, foram retirados do local e já é possível ver obras. A previsão de conclusão, segundo o porta-voz da comissão de Gestão de Crise do condomínio, José Gama de Christo, é de que os moradores só consigam retornar ao prédio em 2019. Cerca de R$ 130 milhões serão desembolsados nos próximos anos para pagar as indenizações e a reconstrução do condomínio.

Christo, que também é engenheiro, diz que toda a estrutura do Grand Parc será reforçada, não apenas a região da área de lazer. “Vai ter um reforço nas torres até por garantia de segurança e também por aspecto psicológico. Será feito um reforço externo para suportar carga lateral, como vento, e o peso da estrutura. Será feita uma capa externa para envelopar as torres, garantindo tecnicamente que a estrutura não tenha riscos do ponto de vista de segurança”, explica.

Sobre as obras da área de lazer, o representante explica que toda a estrutura será praticamente a mesma, seguindo o projeto, com reforço na segurança. Em acordo com a incorporadora, os moradores ainda pediram algumas mudanças, como ampliação da academia e do salão de festas.

O radialista Wallace Menezes, de 55 anos, morava no local com a mulher e a filha. De aluguel, esperando a finalização das obras, no bairro Barro Vermelho, ele afirma que não tem medo de voltar para o Grand Parc. “Estou tranquilo, deixei por conta deles reconstruírem. Eu quero voltar, sempre quis voltar. O lugar é muito bom, é gostoso e também temos muitas amizades com os vizinhos”, pondera.

UM NOVO MEDO 

O medo, no entanto, ainda assombra algumas pessoas, que demoraram mais a retomar a rotina normal. Uma fisioterapeuta que prefere não ser identificada, o marido e o filho, que tinha apenas quinze dias de nascimento quando ocorreu o desmoronamento, moravam em um apartamento do residencial, no vigésimo primeiro andar. Ela conta que acordou para amamentar naquela madrugada, momentos antes de acontecer o desabamento da área de lazer e conta que até hoje é difícil esquecer tudo e, por isso, teve que contratar acompanhamento psicológico.

“Foi um pesadelo. Meu neném tinha acabado de acordar para eu amamentar e trocar a fralda. Começou a tremer tudo, a gente achou que era um terremoto. Tive que descer com ele correndo. Eu estava com ponto de cesária e não achava saída, já que não tinha luz. Demorei uns dez minutos. A sensação de todos era de que o prédio ia cair. Por que como cai uma parte e não cai outra?”, relata.

A tragédia trouxe para a fisioterapeuta um trauma: o medo de morar em apartamento. Inquilina do Grand Parc na época, ela esperava a construção do próprio apartamento, na Praia do Canto, que foi entregue em dezembro, mas agora não tem mais coragem de morar em edifícios após o acidente. “Eu tive que parar de amamentar, por causa do susto. Meu leite secou. Não subi (no Grand Parc) nem para pegar minhas coisas. Coloquei meu apartamento à venda, porque é impossível voltar. Não consigo. Aí estou alugando uma casa, vendendo meu apartamento, porque não quero nunca mais morar em apartamento. Só em casa”, disse.

NA JUSTIÇA

Na próxima reportagem você acompanha que a família do porteiro Dejair das Neves, morto no desmoronamento, ainda luta na Justiça para conseguir indenizações para três filhos, irmão e o pai. Você também vai saber como está o andamento das investigações das causas do desmoronamento.