POLÍTICA INTERNACIONAL

Orbán leva a melhor em eleições e reforça poder na Hungria

Orbán joga praticamente só no campo da política interna húngara.

Em 19/12/2018 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

O Globo

O controverso primeiro-ministro da Hungria, o nacionalista Viktor Orbán, reforçou-se no poder neste ano ao sair vitorioso das eleições gerais, o que lhe permitiu continuar promovendo uma política crítica em relação à União Europeia (UE), à migração e ao liberalismo.

Na política interna, Orbán e seu partido, o Fidesz, no governo desde 2010, não contam com adversários, já que a oposição fragmentada e dividida parece não encontrar o discurso adequado para convencer os eleitores.

Nas eleições de abril, Orbán conseguiu novamente a maioria de dois terços no Parlamento com uma campanha focada nas mensagens contra a imigração e que critica a UE por políticas que - segundo Budapeste - "convidam os imigrantes para a Europa".

A mensagem de que os refugiados põem em risco a cultura e os valores húngaros e europeus, assim como o cristianismo, acabou sendo suficiente para obter 49% dos votos no pleito e, com isso, 133 das 199 cadeiras no Parlamento.

"Orbán joga praticamente só no campo da política interna húngara", disse à Agência Efe o diretor do Instituto Political Capital, Péter Krekó.

O analista não se mostra surpreso, já que "a Procuradoria-Geral não pede a prisão de ninguém e a polícia não investiga por corrupção, o Tribunal Constitucional está cheio de gente leal a Orbán e, em geral, as regras do jogo político atual foram criadas pelo Fidesz".

Apesar de a oposição a Orbán ser frágil e fragmentada, o primeiro-ministro "precisa que participem das eleições e estejam no Parlamento, para manter a aparência democrática do seu regime híbrido iliberal", explica Krekó.

É por isso que Orbán, cuja política se baseia na polarização e nos conflitos, procura inimigos no exterior, sejam os imigrantes, a UE, a ONU e o magnata americano de origem húngara George Soros, que defende uma sociedade aberta.

Desta forma, Orbán reforça na Europa o papel do herói "negativo" e, apesar das suas aspirações de se transformar em um "político europeu", não teve sucesso, afirma Krekó, ao lembrar que de fato causou atritos na união da UE.

A Hungria não permitiu, entre outras coisas, que a UE represente uma postura de consenso na ONU sobre a migração, criticou as sanções comunitárias contra a Rússia pela ocupação da península ucraniana da Crimeia e acusa a própria UE da saída do Reino Unido do bloco.

As atritos de Orbán com a UE se baseiam na sua ideia de que a Comissão e o Parlamento Europeu são dominados por políticos que apoiam a imigração "contra a vontade do povo".

"A UE deixou os imigrantes entrarem, mas não conseguiu manter os britânicos dentro", disse Orbán.

Em setembro, uma grande maioria do Parlamento Europeu recomendou iniciar um expediente contra a Hungria por supostas violações do Estado de direito.

A reação húngara foi a esperada: alegar que foi uma "vingança" da UE pelas políticas antimigratórias de Orbán.

Um relatório encomendado pela Eurocâmara acusa a Hungria de violar os valores da UE em questões tão delicadas como a independência judicial, os direitos das minorias, o funcionamento dos sistemas constitucionais e eleitoral, o tratamento dos refugiados.

O próprio Partido Popular Europeu (PPE), ao qual pertence o Fidesz, votou em sua maioria contra a Hungria, entre eles vários aliados de Orbán, como os conservadores austríacos e alemães.

Mesmo assim, o PPE não planeja expulsar o Fidesz antes das eleições europeias do maio de 2019.

E enquanto a Hungria não concede asilo a quase ninguém - e quando o faz os trâmites duram meses -, as autoridades húngaras deram proteção ao polêmico ex-primeiro-ministro da Macedônia Nikola Gruevski, um amigo e aliado de Orbán, condenado em seu país por tráfico de influência.

O "asilo expresso" para um amigo ideológico do líder húngaro gerou críticas de parte da UE e dos EUA.