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Parteira desde os 10, mulher no AC já ajudou mais de 280 bebês a nascer.

"A parteira é amiga da dor", conta Maria Zenaide Carvalho, de 59 anos.

Em 08/05/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

'A parteira é amiga da dor', é com essa frase que Maria Zenaide de Souza Carvalho, de 59 anos, descreve o ofício que aprendeu com a mãe quando tinha apenas dez anos. Foi com essa idade que ela usou as mãos pela primeira vez para trazer uma criança ao mundo.

Maria conta que teve apenas um filho e adotou cinco, mas suas mãos já trouxeram ao menos 284 bebês ao mundo desde 1967. Segundo a parteira, a única filha mulher é professora e nunca pensou em seguir a carreira da mãe. Todos os nascimentos são registrados em um caderninho que ela carrega sempre consigo.

Foi no Seringal Boa Vista, às margens do Rio Tarauacá, município distante 400 quilômetros de Rio Branco, que Maria Zenaide começou a atuar.

"Me tornei parteira por causa da minha mãe. Eu era ajudante dela e quando tinha dez anos fiz meu primeiro parto, era uma menina que hoje já tem oito filhos, alguns até casados. Ser parteira é uma coisa muito especial, somos um tipo de cuidador que cuida da mulher muito melhor que um médico. Damos toda a atenção e carinho. Eu amo o que faço, acredito que por isso todos os meus partos tiveram sucesso", conta.

A parteira conta que as mães ficam sensíveis e nervosas no momento do parto o que pede ainda mais atenção e cuidados de quem as acompanha. Segundo ela, não há técnicas específicas para ajudar no nascimento do bebê, mas às vezes uma simples conversa deixa a grávida mais calma e segura.

"Quando você vai fazer um parto precisa dar carinho, ouvir o que a parturiente está pedindo e sentindo. Sempre digo a elas que o parto não é uma doença, mas representa saúde. Conto que minha mãe e eu nascemos em casa e que minha mãe teve mais de cinco filhos, elas ficam mais calmas. Digo que a parteira é amiga da dor, pois quando colocamos a mão em algum lugar da barriga que está doendo a dor passa", relata.

Acompanhamento da grávida
Para as mães que temem o parto em casa, Maria esclarece que pede a todas as grávidas para fazer o acompanhamento pré-natal com um médico em um posto de saúde. A parteira chega até a acompanhar a gestante em alguns exames para saber a posição do bebê e se podem ocorrer complicações.

"Sempre quando a mãe vem falar comigo eu aconselho que faça todos os acompanhamentos necessários até os nove meses de gestação com o médico e comigo também. Houve uma vez em um parto em que médico fez todo o pré-natal e disse que o bebê estava 'de cabeça', mas estava 'de pé' e só descobri na hora. Por isso acompanho junto com a mãe", destaca.

Mães adolescentes
Além dos partos, Zenaide leciona palestras em escolas e municípios sobre planejamento familiar, gravidez na adolescência e oferece treinamento para outras parteiras. Ela relata ainda, que já fez o parto de uma menina de apenas 11 anos de idade.

"Já fiz partos de várias adolescentes, mas esses partos possuem várias complicações, um deles é o comportamento das mães, elas são crianças, estão com medo, não estão preparadas. Em uma mulher com 20 a 22 anos o útero está todo formado e cheio de músculos, mas com 10 a 11 anos o útero dela está se formando, o bebê vai crescendo dentro e a parede fica muito fina", explica.

Para as mães adolescentes, a parteira  diz relatar à elas que o amor é bom, mas é preciso haver prioridades e amar a si mesma antes. "Sempre digo que namorar é bom, mas tem que saber priorizar as vontades e pensar nas necessidades que podem vir depois", destaca.

Segredo bem guardado
Aos 59 anos, Zenaide ressalta que não pensa em fazer outra coisa. Ela revela ainda, que uma parteira de verdade não conta a ninguém o que viu ou ouviu enquanto fazia o parto. Além disso, segundo ela, a mãe é quem define onde e como quer trazer seu filho ao mundo.

"Nada do que acontece ali você conta para ninguém, aquele momento é da mãe e só ela pode relatar aos outros. A corpo da pessoa está ali na sua frente em um momento lindo que só você e a pessoa vivem. Nunca em minha vida abri a boca para contar a um homem sobre o parto de uma mulher. A parteira tem que deixar a mulher parir onde e como ela quiser, seja na água, no seco ou de pé. Estamos ali para dar assistência e ficar com ela onde for", finaliza.

Fonte:G1