MEIO AMBIENTE

Pesquisadores da Ufes divulgam resultados de análise da lama no ES.

Amostras de água e sedimentos foram coletadas em novembro e dezembro.

Em 06/02/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) divulgaram nesta sexta-feira (5) os resultados das primeira análises dos impactos ambientais decorrentes do rompimento da barragem de rejeito de minério da Samarco, cujos donos são a Valee a BHP. Entre os resultados apresentados, estão a alta concentração de metais na água, o aumento no número de nutrientes e a diminuição do número de espécies de algas .

O grupo de pesquisadores foi formado no dia 13 de novembro e, de lá para cá, 2.785 análises foram realizadas. As amostras foram coletadas em 15 pontos do oceano Atlântico, desde a foz doRio Doce até alcançar uma profundidade de 30 metros. Foram coletadas amostradas de água e sedimentos para análises de metais, turbidez, temperatura, salinidade, oxigênio, entre outras.

A apresentação dos resultados contou com a participação de técnicos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Instituto Estadual do Meio Ambiente (Iema) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). A equipe interdisciplinar de pesquisa tem mais de 70 pessoas de várias áreas da Universidade.

Entre os dados apresentados, o professor do Departamento de Oceanografia da Ufes, Alex Bastos, destacou a alta concentração de material particulado no mar.

“Nunca tínhamos registrado esses níveis de turbidez na água do mar com mais de 20 metros de profundidade. Além disso identificamos um percentual muito alto de coloide, em torno de 2% da amostra. O coloide é uma espécie de pó muito fino que não se deposita no fundo do mar e pode ser muito prejudicial ao meio ambiente. Ele pode ser ingerido ou mesmo servir de veículo de transporte para um vírus, por exemplo”, afirmou.

Bastos, também contou que as análises apontaram para a alta concentração de metais e o aumento considerável da quantidade de nutrientes na água, como nitrato, nitrogênio amoniacal e silício.

“As primeiras análises do sedimento que está particulado na água mostraram valores elevados para quatro metais: ferro, cromo, manganês e alumínio. Esses valores também foram observados no rio. A gente teve também um incremento muito grande de nutrientes, tanto no rio quanto no mar, o que é um impacto muito grande, porque pode levar a um desequilíbrio do meio ambiente”, explicou.

Além disso, foi constatada a diminuição da biodiversidade da comunidade fitoplanctônica, que são as microalgas, e estão na base da cadeia alimentar marítima.  De acordo com Bastos, estudos de professores da Ufes realizados antes da chegada da lama contabilizaram em torno de 50 a 70 espécies normalmente. Após a lama, foram contabilizadas apenas entre 12 e 39 espécies.

Mortalidade de animais
De acordo com o coordenador nacional do Projeto Tamar, Joca Thomé, as características e o comportamento da pluma afetam, principalmente, os animais inertes e que de fundo do mar.

“É um sedimento novo no mar, que não é normal nessa quantidade, nessa espessura. Então os animais de fundo, por exemplo, teoricamente estão sendo soterrados. Os animais que têm mobilidade e detectam a mudança de ambiente, se afastam”, disse.

Thomé também explicou a que se deve o menor número de animais mortos no rio e no mar. “A conclusão é que houve uma queda de oxigênio total no rio com a descida da pluma de sedimentos. Quando chegou ao estuário, o mar já misturou o sedimento com a água do mar, o oxigênio subiu e consequentemente a mortalidade foi quase zero”, disse.

O relatório também destaca a importância da continuidade das pesquisas e prevê diversas ações que devem ser feitas nos próximos meses.

Samarco
A Samarco informou que está fazendo monitoramento constante da qualidade da água. Na foz do rio estão sendo colhidas amostras a cada duas horas.

A quantidade de metais pesados está dentro do limite legal e os laudos estão à disposição das autoridades, segundo a empresa. Um estudo sobre a acumulação de metais nos peixes ainda está em andamento.

Fonte: G1