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Petrobras cancela alta no diesel após pressão de Bolsonaro

Jair Bolsonaro defendeu nesta sexta-feira um preço justo para o combustível.

Em 13/04/2019 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Foto: Mix Vale/Reprodução

A Petrobras voltou atrás em um reajuste do diesel nas refinarias após pressão do presidente Jair Bolsonaro, que defendeu nesta sexta-feira “um preço justo” para o combustível e disse que quer ser convencido pela estatal sobre a necessidade do aumento.

O movimento da Petrobras, na noite de quinta-feira, levanta preocupações no mercado sobre possíveis intervenções do governo em suas políticas de preços, que poderiam prejudicar a recuperação financeira da petroleira, ao mesmo tempo em que mostra preocupação do governo federal com eventual nova greve dos caminhoneiros.

A Petrobras anunciou na quinta-feira, por volta do meio-dia, alta de 5,7 por cento no valor do diesel para esta sexta-feira, mas à noite anulou a decisão e manteve a cotação em 2,1432 reais por litro, praticada desde 22 de março.

Uma fonte palaciana disse que Bolsonaro ligou para o presidente-exeucutivo da Petrobras, Roberto Castello Branco, para pedir reajuste menor, enquanto a Petrobras justificou a decisão dizendo que revisitou sua posição de hedge e avaliou, com o fechamento do mercado, que havia “margem para espaçar mais alguns dias” o reajuste.

Nesta sexta-feira, Bolsonaro disse a jornalistas que convocou a diretoria da Petrobras a prestar esclarecimentos sobre o preço do diesel em reunião agendada para terça-feira.

“Convoquei todos da Petrobras para me esclarecerem por que 5,7 por cento de reajuste quando a inflação projetada para este ano está abaixo de 5 (por cento). Só isso, mais nada. Se me convencerem, tudo bem. Se não me convencerem, nós vamos dar a resposta adequada para vocês”, afirmou o presidente, em entrevista em Macapá, após participar da inauguração de um aeroporto na cidade.

A política de preços da Petrobras não tem relação com a inflação —a estatal tem perseguido paridade com as cotações internacionais, o que na prática significa acompanhar fatores como o preço do barril do petróleo Brent e o câmbio.

O peso do diesel no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), utilizado pelo governo para balizar a meta de inflação, é pouco expressivo, embora possa impactar indiretamente preços de alimentos, de frete e de transporte público.

Mas o custo do combustível tem gerado forte insatisfação entre caminhoneiros, lembrando episódio de maio do ano passado, quando uma greve da categoria gerou caos no país e culminou na saída do então CEO da Petrobras, Pedro Parente, em meio a críticas à política de preços da companhia.

“Estou preocupado também com o transporte de carga no Brasil, com os caminhoneiros”, disse Bolsonaro nesta sexta. “Nós queremos um preço justo para o óleo diesel”, acrescentou.

O presidente afirmou ainda que “o Brasil não pode continuar com essa política de preços”, embora depois tenha minimizado a possibilidade de intervenção sobre as decisões da Petrobras.

“Não pelo canetaço e não pela imposição do chefe do Executivo, em hipótese alguma isso vai existir”, disse.

Em meio a falas de Bolsonaro, as ações da Petrobras aceleraram perdas e caíam mais de 8 por cento nesta tarde.

DÉJÀ VU

Analistas do BTG Pactual citaram sensação de “déjà vu” em relatório nesta sexta-feira, ao recordar prejuízos bilionários causados à estatal em anos anteriores, quando o governo impedia reajustes demandados pela diretoria para evitar inflação.

O vice-presidente Hamilton Mourão, no entanto, defendeu que o movimento de interferência foi isolado e não será recorrente no governo atual.

“Tenho a absoluta certeza que ele não vai praticar a mesma política da ex-presidente Dilma Rousseff”, disse.

Em meio às notícias, o Conselho de Administração da Petrobras foi chamado para uma reunião por telefone no início da tarde, segundo duas fontes com conhecimento do assunto.

Ao comentar o tema ainda na quinta-feira, a Petrobras reafirmou em nota seu compromisso com o Preço de Paridade Internacional.

A busca pela paridade sempre foi citada pelas gestões da companhia, mesmo na época do governo do PT, quando os preços passavam por longos períodos de congelamento.

A greve dos caminhoneiros no ano passado deu origem também a um programa federal de subsídios aos diesel, mas a medida durou apenas até o final de 2018. Depois disso, a Petrobras decidiu reajustar o combustível em intervalos de até sete dias, com alinhamento de preços aos valores internacionais.

No mês passado, porém, a companhia reviu essa política, decidindo por reajustes em intervalos não inferiores a 15 dias, o que foi associado a temores de uma nova greve. Reuters

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