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Povoado festeja 1º dia do padroeiro após destruição de Bento Rodrigues.

Distrito de Mariana foi devastado no rompimento da barragem da Samarco.

Em 11/07/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

A comunidade do distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, na Região Central de Minas Gerais, celebra nesta segunda-feira (11), o primeiro dia do padroeiro após a tragédia com a barragem da Samarco. Será dia de reunir o povoado e reviver as lembranças, segundo o festeiro Mauro da Silva, de 47 anos.

“Vai ser uma oportunidade de reencontrar amigos, familiares e manter a tradição de celebrar o padroeiro”, disse. Segundo ele, pelas recordações que vêm desde a infância, sempre teve missa, sinos batendo, fogos e a comunidade reunida para festejar o Dia de São Bento.

Só que neste ano vai ser diferente. O local não será mais a capela do distrito, pois paredes e o altar não ficaram de pé. A antiga imagem do santo, em madeira, foi soterrada pela lama. A bandeira que puxava a procissão também não foi encontrada.

“A imagem era desde a fundação da capela, em 1718. Essa bandeira foi embora na lama. Estava na casa de um dos festeiros, que foi uma das primeiras casas atingidas”, contou Mauro. Na data do desastre, o morador estava trabalhando no centro de Mariana. O distrito, que será reconstruído, tinha cerca de 200 imóveis.

Neste 11 de julho, a celebração foi transferida para a capela de Santa Cruz, perto do centro histórico. A missa solene será realizada às 19h com a participação de moradores devotos, como o seu Filomeno da Silva, de 82 anos, pai de Mauro. Depois haverá procissão, cortejo com banda de música e bênção final.

Zelador da capela de Bento Rodrigues desde os 13 anos, ele aproveita a data para reunir a família, rezar pelas vítimas e pedir pelo futuro dos atingidos pelo desastre. “Desde criança tive muita fé em São Bento e por esta razão fiquei cuidando vários anos da igreja”, disse sobre o tempo de dedicação voluntária à função.

A festa de São Bento é uma tradição. Na crença dos moradores, o padroeiro é protetor dos perigos da mata. No passado, a data deixou de ser celebrada por causa da dificuldade de levar um pároco ao local. Na década de 1980, a família Silva manifestou o desejo de retomar as celebrações.

“Era uma segunda-feira, dia 11 de julho de 1983, às 5h30. Me lembro bem. Eu, minha irmã, minha mãe, avó, pai, todos na porta da igreja São Bento. Meu pai batendo o sino, eu e minha irmã soltando foguete. Minha mãe e avó rezando e cantando 'Viva São Bento! Glória, glória!'", relembra Mauro. Segundo ele, aquele momento foi um convite prontamente aceito pela comunidade. No ano seguinte, a festa  foi retomada.

Na família, restam poucos registros da festa do padroeiro. “Em 1995, meu pai comprou uma filmadora, que foi embora com todas as fitas e todas as lembranças”, lamentou Mauro, que guarda algumas foto no celular.

Em 5 de novembro de 2015, ele, a mulher e o filho não estavam em Bento, pois a família passa os dias da semana em outra localidade de Mariana, onde mantém uma oficina mecânica e uma loja. Seu Filomeno e a mulher haviam saído de casa cerca de 30 minutos antes da tragédia para levar o carro até a oficina mecânica do filho e seguir para o ensaio da banda, a mesma que vai tocar na festa de São Bento.

Tragédia
Em 5 de novembro, o rompimento da barragem de Fundão, que pertence à mineradora Samarco, cujas donas são a Vale e a anglo-australiana BHP Billiton, deixou 19 mortos. A tragédia afetou distritos de Mariana, além do leito do Rio Doce. Os rejeitos atingiram mais de 40 cidades de Minas Gerais e no Espírito Santo e chegou ao mar. O desastre ambiental é considerado o maior e sem precedentes no Brasil.

Fonte: g1-MG