POLÍTICA INTERNACIONAL

Presidente turco culpa clérigo pelo golpe e pede que Obama o extradite.

Gulen, clérigo residente nos Estados Unidos, era aliado de Erdogan.

Em 16/07/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

O presidente turco Recep Tayyip Erdogan discursou à população em Istambul, na tarde deste sábado (16), um dia após a tentativa de golpe militar que deixou 265 mortos - 161 civis e 104 militares contrários ao governo. Ele pediu a Barack Obama que extradite Fethullah Gulen, clérigo exilado nos Estados Unidos e apontado como o promotor do golpe.

"Ou vocês deportam Gulen ou o entregam para nós", afirmou Erdogan no pronunciamento. Ele também disse que depois da extradição do "mentor do terror", "muita coisa irá mudar na Turquia". 

Gulen, de 75 anos, já foi aliado de Erdogan e atualmente vive na Pensilvânia. Ele foi exilado nos Estados Unidos em 1999, depois de ter sido acusado de traição na Turquia. Ele lidera o Hizmet, movimento político-religioso que se mantém crítico ao regime de Erdogan.

O clérigo nega envolvimento na tentativa de golpe ocorrida na última sexta (15). "Como alguém que sofreu múltiplos golpes militares durante as últimas cinco décadas, é especialmente insultante ser acusado de ter alguma relação com esta tentativa", afirmou, em comunicado divulgado na última madrugada. "Nunca enxerguem uma intervenção militar como algo positivo, a democracia não pode ser alcançada dessa forma", afirmou Gulen à população turca.

Quase 3 mil magistrados foram afastados por provável ligação com o clérigo.

Os Estados Unidos pediram provas do envolvimento de Gulen com a tentativa de golpe e afirmaram que irão ajudar nas investigações.

Militares afastados
As autoridades turcas detiveram neste sábado (16) o comandante do Segundo Exército, relacionado à tentativa de golpe militar, informou a agência de notícias Anadolu.

O general Adem Huduti é o oficial mais graduado a ser apreendido até o momento, após a tentativa de intervenção que matou mais de 160 pessoas. O Segundo Exército, com sede em Malatya, protege as fronteiras da Turquia com a Síria, o Iraque e o Irã.

Outras reformulações também foram feitas pelo presidente. Erdogan já plenejava, há muito tempo, afastar alguns militares do poder, segundo fontes. Após a tentativa de golpe, o presidente turco demitiu 5 generais, 29 coronéis e substituiu o chefe maior das Forças Armadas, capturado por militares rebeldes.

Embora a lei do país não preveja este tipo de punição, já se fala em pena de morte para os apoiadores do golpe.

Na noite em que tentaram derrubar o governo, militares de baixo e médio escalão bloquearam portos e pontes e usaram aviões de guerra para sobrevoar a cidade de Ancara. Sedes do veículo jornalístico CNN foram invadidas por homens armados. Um helicóptero atirava em pessoas comuns.

Durante a tentativa de golpe, o presidente Erdogan gravou um vídeo em que pedia apoio da população para conter o avanço dos militares. Enquanto isso, sobrevoava o país em um avião. Parte do povo acatou a ordem e saiu às ruas para defender o governo, enfrentando os militares. Tanques foram tomados pela multidão, que retirava à força os membros das Forças Armadas de seus blindados.

Após o confronto, que deixou mais de 1.400 feridos e 2.800 presos, alguns militares se renderam e pediram asilo político. Nesta manhã (16), ainda havia explosões e sinais de confronto no país.

Estrutura do exército turco
Com 510.600 ativos, o Exército turco é o segundo em termos de efetivos da Otan, atrás apenas do Exército dos Estados Unidos, e é considerado uma das forças mais bem treinadas do mundo. As informações são da agência internacional AFP.

As Forças Armadas turcas reúnem 402.000 homens no Exército (77.000 profissionais e 325.000 recrutas), cerca de 48.600 na Marinha (14.100 e 34.500) e 60.100 na Aeronáutica (28.600 e 31.500), de acordo com o relatório 2016 do Instituto de reflexão estratégica IISS, com sede em Londres.

A esta capacidade, é possível somar mais de 102.200 membros da Guarda Nacional, de acordo com dados de 2015. Além disso, a Turquia conta com 378.700 reservistas nos três corpos das suas Forças Armadas.

Depois de um período de constante declínio, o número de militares, que somavam mais de 800.000 ativos em 1985, estabilizou-se nos últimos anos. Desde a chegada ao poder do presidente turco Recep Tayyip Erdogan, a hierarquia militar foi purgada várias vezes.

Em termos de equipamentos, as Forças Armadas turcas estão bem equipadas para consolidar a sua defesa territorial, particularmente contra a ameaça dos separatistas curdos.

A Turquia também está participando na coalizão internacional contra os extremistas do grupo Estado Islâmico.

Parte de seu arsenal, no entanto, é considerada pelos especialistas como antiquada, mesmo que, de acordo com o instituto IHS Jane's, com sede em Londres, tenha feito progressos significativos desde o início de 1990.

De acordo com o IISS, a força aérea dispõe de 364 aviões de combate, em sua grande maioria modelos Falcon F-16 e os antigos Phantom F-4.

Quanto à Marinha, ela tem boas capacidades em termos de combate a submarinos e de guerra de superfície, de acordo com especialistas. Ela dispõe de 13 submarinos, 18 fragatas e seis corvetas.

Apoio da população
No dia seguinte à tentativa de golpe, a população turca tomou as ruas de Ancara para continuar demonstrando apoio ao presidente Erdogan. Elas levaram bandeiras para aguardar o discurso do político.

Voos na Turquia
Na tarde deste sábado (16), a companhia aérea Turkish Airlines informou aos passageiros que retomou suas atividades no Ä°stanbul Atatürk Airport, um dia após a tentativa de golpe na Turquia.

Na noite de sexta-feira (15), voos com destino à Turquia foram desviados por causa da tentativa de golpe. Segundo a Reuters, todos os que saíam do aeroporto de Ataturk, em Istambul, haviam sido cancelados.

Brasileiros relatam terem ouvido tiros
Brasileiros que estavam na Turquia na noite em que houve a tentativa de golpe relataram medo e apreensão. Eles se refugiaram em casa e hotéis até que a situação se acalmasse, seguindo orientação do Itamaraty.

Fernanda Gomes, gerente de comércio exterior, contou, em entrevista ao Jornal Hoje, que as janelas de sua casa tremiam com as passagens dos aviões militares. Ela disse que sentiu medo por não saber o que iria acontecer.

Já a psicóloga Kallyna Gobby, disse que sentiu vulnerável à assaltos e roubos. Ela teve medo de abrir a porta de casa quando escutou alguém bater, mesmo sabendo que poderia ser sua vizinha.

O ministro da Cultura, Marcelo Calero, acompanhado de comitiva brasileira em Istambul para participar de reunião da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), também decidiu não sair do hotel devido à tensão que se instaurou na Turquia. Segundo o Ministério da Cultura, a comitiva "está bem e aguarda os desdobramentos da situação".

Na Turquia para o mesmo evento que o ministro, Luciana Féres, diretora da Fundação Municipal de Cultural (FMC) de Belo Horizonte, disse que as ruas da cidade estão mais tranquilas e o clima está melhor neste sábado (16).

Reabertura da rota de petróleo e de grãos
As autoridades marítimas turcas reabriram o Estreito de Bósforo para o trânsito de navios após fecharem o local mais cedo no sábado (16) por diversas horas após o que o governo chamou de uma tentativa de golpe por uma facção do Exército.

Bósforo é um dos pontos de bloqueio mais importantes para o trânsito marítimo de petróleo, com mais de 3% da oferta global - principalmente da Rússia e do Mar Cáspio - passando através da hidrovia que conecta o Mar Negro a Mar de Mármara, e sua extensão, o Mar Mediterrâneo. Ele também envia grandes quantidades de grãos da Rússia e do Cazaquistão aos mercados globais.

Neste sábado, forças leais ao governo turco lutaram para acabar com os remanescentes de uma tentativa de golpe militar, após disputas e violência em Ancara e Istambul.

A agência GAC afirmou que o tráfico estava aberto após ser fechado por diversas horas por razões de segurança e que os navios agora podiam navegar pelo Bósforo, que divide o lado europeu de Istambul de seu lado asiático.

Às 23h (17h00 de Brasília) da última sexta (15), o primeiro-ministro turco Binali Yildirim denuncia uma "tentativa ilegal" de tomada do poder por um grupo dentro do exército, pouco tempo após o fechamento parcial das pontes sobre o Bósforo em Istambul.

Antes da meia-noite (18h de Brasília), um comunicado das "forças armadas turcas" anuncia a proclamação da lei marcial e um toque de recolher em todo o país, após a mobilização de tropas em Istambul e na capital Ancara. A declaração é assinada pelo "Conselho para a paz no país", que diz ter "tomado o controle do país".

Por volta do mesmo horário, grupos de monitoramento de internet diziam que o acesso ao Facebook, Twitter, YouTube e outras redes sociais foram restritos na Turquia.

Confrontos, com aviões e tanques, resultaram em cenas de violência em Ancara e Istambul. A violência foi travada entre os rebeldes e as forças legalistas, bem como dezenas de milhares de pessoas que saíram às ruas do país. Aviões de caça voavam a baixa altitude na metrópole, e o Parlamento foi alvo de uma série de ataques aéreos. Mais tarde, um avião lançou uma bomba perto do palácio presidencial.

O parlamento turco foi alvo de bombardeios militares e diversos carros foram destruídos durante a tentativa de golpe militar que resultou em 265 mortes, sendo 161 civis e 104 militares golpistas.

Fonte: g1-SP