CULTURA

Queen mostra fôlego ao fechar dia "afetado" do Rock in Rio Lisboa.

Banda com Adam Lambert tocou para 74 mil pessoas nesta sexta (20).

Em 21/05/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Na história do Rock in Rio, poucas programações fizeram tanto sentido quanto a desta sexta-feira (20) em Lisboa, no Parque da Bela Vista. Fergie, Mika e Queen com Adam Lambert desfilaram os perigos e delícias do pop afetado.

Dá para dizer que a encenação de "Rock in Rio - O musical", na abertura do Palco Mundo, foi a atração menos teatral do line-up.

O Queen começou sua apresentação com meia hora de atraso, o que fez com que parte de seus 74 mil fãs vaiasse a demora. O show teve início com o guitarrista Brian May e o baterista Roger Taylor fazendo barulho. E Lambert fazendo média.

"Tenho que agradecer por deixarem que cante com o Queen. É uma honra estar no palco com esta banda. Só existe um Freddie Mercury. Vocês o amam? Então, vamos celebrá-lo juntos", convidou o cantor, antes de "I want to break free".

"Vamos fazer uma onda?", perguntou May, antes do momento em que faz um vídeo da plateia, com uma câmera e um pau de selfie.

Então, o guitarrista pegou o violão e tocou "Love of my life", causando comoção parecida com a provocada no Rock in Rio brasileiro, no ano passado. Também rolou o já esperado dueto de May com a voz de Freddie Mercury, no final da versão acústica.

A performance de Lambert segue certinha, contida (para os padrões dele) e nada comprometedora. E o set mais curto do que o previsto não incomodou fãs. Contanto que "Killer Queen", "Somebody to love", "Under pressure", "Radio Gaga" e "Bohemian Rhapsody" (com áudio e imagem de Mercury sem sincronia) estejam lá.

Vive-se em um mundo no qual pessoas pagam para ver estátuas de cera de famosos. Comparado a isso, bater palma ao ritmo de "We will rock you" no Rock in Rio Lisboa, em 2016, é quase a mesma coisa de ser regido por Freddie no Rio, em 85.

Uma experiência que valeria o preço do ingresso até se Luan Santana fosse o vocalista. O mesmo cabelo do Lambert, ele já tem.

Mika cantou fado
"Em 10 anos, nunca estive em um palco antes do Queen. Então lá vou eu", disse Mika, um tanto emocionado antes de cantar seu maior sucesso, "Grace Kelly".

O começo do hit é, de longe, o ponto alto do show. É quando ataca só com piano e voz, suado já na terceira música. O repertório é irregular, mesmo com o talento deste subestimado cantor libanês de 32 anos.

Às vezes, o rapaz é pretensioso demais. Mete-se com pop grandioso de camadas mil (em "Origin of love", "Promisse land" e na horrenda "Underwater"), mas rende mais quando solta a voz (e a franga, rindo um monte).

É o caso de "Grace Kelly", "Relax", "Talk about you" e "Lollipop", quando o visual do cantor e o arranjo o fazem parecer um Jerry Lee Lewis do pop dançante.

Entre o Mika artista com algo a dizer e o outro que quer pular e deixar falsetes grudados no seu ouvido, fique com o segundo.

Ah, o show também tem alguns mimos aos portugueses. Valia tudo para fazê-los se sentirem únicos.

"Perdi meu piano, então estou tocando neste teclado. Foi com ele que fiz meus primeiros shows", avisou. Depois, chamou dois músicos que conheceu em um bar na noite anterior. Juntos, cantaram uma música que ele escreveu aos 16 anos. Emendou com trecho de um fado, gênero musical tipicamente português.

Quem é essa mulher?
Talvez Fergie tenha sido trocada por um robô e é ele a estrela desta turnê iniciada com show no Rock in Rio Lisboa. Isso explicaria o set burocrático, tipo um musical sobre a vida de Fergie com uma atriz fraca protagonista.

Explicaria também o fato da ex-vocalista do Black Eyed Peas estar sem lançar disco solo desde 2006. E ter prometido soltar um álbum em 2013, 2014, 2015 e 2016.

Então, se quase não há música nova (a exceção é "LA Love"), dá-lhe "Fergalicious", imitaçãozinha de Axl Rose, "My humps", "I gotta feeling". Torçamos para que alguém um dia tire esta mulher dos anos 2000.

Psicodelia brasileira
A banda goiana Boogarins fechou o palco de sons alternativos. Era a terceira passagem do quarteto por Lisboa, algo normal para o grupo, que vem desde 2014 emendando turnês na América do Norte, no Brasil e na Europa.

No show, fica óbvio que não é rock para se cantar junto ou bater palma. Quem viu a apresentação saiu satisfeito mesmo assim.

Pena que foram no máximo 300 pessoas. Sendo mais de dois terços da plateia sentada. E alguns mais preocupados em ver aviões passando perto do palco. Difícil culpar: a proximidade era impressionante.

Mas o que mais impressionou é o fato de o Boogarins ter alçado voos fora do Brasil. Sem assinar com uma grande gravadora, sem tocar em rádios, sem estar em trilhas de novelas ou programas de TV e com letras me português.

Dança e meditação
Antes do Boogarins, o Palco Vodafone recebeu atrações portuguesas.
O Pista mostrou rock tropical e dançante, digno de quem tem discos de lambada em casa. Com letras curtas ou inexistentes, fez rock safado, sem vergonha de ser brega.

Os Sensible Soccers vieram com uma proposta diferente. O que se ouviu foi rock eletrônico para ficar deitado na grama sintética em frente ao palco, em posição meditativa ou fetal. "Amnesiac", do Radiohead, deve estar entre as prediletas da casa.

O festival ainda vai receber nesta edição nomes como Maroon 5, Ariana Grande, Avicii e Hollywood Vampires, nos dias 27, 28 e 29 deste mês.

Fonte: g1-Lisboa