POLÍTICA INTERNACIONAL

Reforma de Trump leva a alta em salários, e empresas criam vagas

Corte de impostos deve aquecer economia, mas gerar déficit fiscal trilionário.

Em 27/01/2018 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Em dezembro, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sancionou uma lei que muda o sistema tributário do país, sua primeira vitória no Congresso desde que tomou posse, há mais de um ano. O eixo central da proposta é a redução dos impostos cobrados das empresas.

Trump considera a medida fundamental para revitalizar a atividade econômica e colocar o crescimento anual do país em um ritmo superior a 3%. Por outro lado, especialistas calculam que o corte de impostos vai gerar um déficit fiscal trilionário.

A previsão é que a medida aumentará os lucros dos bancos e outras companhias no médio e no longo prazos. Isto porque ela reduz os impostos das empresas de 35% para 21%, o maior corte de dos últimos 30 anos. Outra mudança é a cobrança de uma taxa única de um dígito sobre lucros repatriados.

Após a reforma, um número crescente de empresas norte-americanas anunciou o pagamento de bônus, aumento de salários, melhora de benefícios trabalhistas e outros investimentos.

A reforma também simplifica o pagamento de impostos de pessoas fiscais, reduzindo as faixas de cobrança de sete para quatro: 12%, 25%, 35% e 39,6%. A mudança será gradual e será maior para quem está entre os 95% e 99% com maior renda (3,1 pontos percentuais). Para o 1% mais rico, será de 2,3 pontos.

Até 2025, a distribuição dos cortes se mantém aproximadamente a mesma. Em 2027, porém, os impostos voltam ao patamar anterior à reforma, para 90% da população. A redução se mantém apenas para o 1% mais rico (0,6 ponto percentual). Para o 0,1% mais rico, o corte cai pela metade, mas ainda fica em 0,9 ponto percentual, destaca o colunista Hélio Gurovitz.

Efeitos positivos para as empresas

A redução da alíquota do imposto de renda para empresas e a cobrança de uma taxa única sobre lucros repatriados já beneficiou várias empresas norte-americanas. Este mês, várias empresas anunciaram aumento de investimentos, salários e criação de vagas nos EUA, como reflexo dos ganhos tributários da nova lei (veja mais abaixo).

Analistas esperem que o corte ajude menos as empresas de tecnologia que alguns outros setores como transporte, varejo e bancário, já que as empresas de tecnologia já pagam um imposto relativamente baixo.

Ainda assim, a reforma favorece empresas como a Apple, a Microsoft e outras de tecnologia com grandes vendas no exterior.

Um benefício mais notável para estas companhias, que acumularam centenas de bilhões de dólares em lucros fora dos Estados Unidos, é a lei que impõe a cobrança única de 8% sobre ativos de menor liquidez e de 15,5% por recursos em espécie ou equivalentes mantidos no exterior.

"O setor de tecnologia certamente estará entre os maiores beneficiários se o dinheiro no exterior puder ser repatriado pagando uma taxa baixa e possivelmente será usado para recompra de ações ou dividendos", disse em nota o presidente da Yardeni Research, Ed Yardeni.

Efeitos negativos da reforma

Estimativas dão conta de que a ambiciosa reforma tributária de Trump pode gerar um aumento de US$ 1,5 trilhão no déficit fiscal em uma década. Além disso, muitas grandes companhias indicaram que a nova lei afetará seus rendimentos no curto prazo, pelos lucros repatriados do exterior.

O governo Trump argumenta que os recursos liberados para a economia darão impulso ao investimento e representarão um salto nos índices de crescimento.

O colunista Hélio Gurovitz aponta que "o risco é que o aumento no endividamento obrigue os congressistas a rever a legislação não para manter os cortes, mas para suspendê-los – ou então para cortar gastos, um incômodo político que passará a assombrar o governo".

O déficit fiscal norte-americano está em alta, aponta o colunista. "Em 2016, foi de US$ 587 bilhões, ou 3,2% do PIB. O Comitê de Orçamento do Congresso (CBO) projeta que chegará a 5,2% em 2027. A gestão Trump fala que, até lá, haverá um ligeiro superávit, graças a índices de crescimento econômico superiores a 3% (o CBO fala em 1,8% até 2021 e 1,9% até 2027)".

Impacto nos mercados

Os três principais índices de Wall Street (S&P 500, Nasdaq e Dow Jones) superaram simultaneamente seus respectivos recordes nas últimas semanas, impulsionados pelos bons resultados trimestrais das empresas de capital aberto.

A excitação dos investidores nas bolsas sugere que, pelo menos no curto prazo, deve haver salto nos investimentos e, provavelmente, crescimento robusto.

No Brasil, o índice Bovespa bateu seguidos recordes e superou a marca dos 80 mil pontos em janeiro, em parte beneficiado pelo otimismo dos investidores e seguindo a tendência de valorização das principais bolsas estrangeiras.

Veja quais empresas já anunciaram investimentos após a reforma tributária nos EUA:

Apple

A Apple anunciou também que pretende expandir os negócios nos Estados Unidos. A empresa quer injetar US$ 350 bilhões na economia americana e criar 20 mil empregos no país nos próximos cinco anos. Isso inclui a criação de um novo campus, em local ainda não anunciado, voltado ao atendimento ao cliente.

Parte dos investimentos será feita junto a fornecedores locais com os quais a empresa já trabalha. A Apple pretende também investir no seu sistema de armazenamento de dados, o iCloud, e nos serviços App Store e Apple Music.

JPMorgan

O JPMorgan disse que aumentará os salários de 22 mil funcionários em 10%, em média, para entre US$ 15 e US$ 18 por hora. A instituição financeira também afirmou que vai contratar 4 mil funcionários e adicionar até 400 agências Chase.

O maior banco dos EUA por ativos também aumentará os empréstimos para pequenas empresas em US$ 4 bilhões e o crédito imobiliário em 25%, para US$ 50 bilhões. Os analistas esperam que o JPMorgan economize cerca de US$ 4 bilhões por ano em impostos por causa da nova lei.

Walmart

A rede varejista Walmart anunciou nesta quinta-feira que aumentará de US$ 9 para US$ 11 por hora o salário mínimo de seus funcionários contratados graças à reforma fiscal aprovada nos Estados Unidos.

A empresa também informou sobre aumento da licença remunerada tanto para mães (dez semanas) quanto para pais (seis semanas) e o pagamento especial de um bônus de até US$ 1 mil em dinheiro, mudanças que beneficiarão mais de um milhão de trabalhadores.

O aumento salarial entrará em vigor a partir de fevereiro e o Walmart destinará para isso cerca de US$ 300 milhões em seu próximo exercício fiscal, enquanto que para o pagamento especial destinará outros US$ 400 milhões.

Starbucks

A rede de cafeterias anunciou que ampliou benefícios trabalhistas e vai gastar US$ 120 milhões em aumentos salariais cuja magnitude vai variar de região para região. A rede também informou que dará a seus atendentes US$ 500 dólares em bônus de ações e aos gerentes das lojas, US$ 2 mil. Além disso, os empregados terão direito a licença-paternidade por até seis semanas, inclusive pais não biológicos.

Walt Disney

A gigante do entretenimento anunciou que dará a seus 125 mil empregados um bônus de US$ 1 mil e vai investir outros US$ 50 milhões em um novo programa para ajudar a cobrir o pagamento de trabalhadores que recebem por hora.

Comcast

A gigante de telecomunicações anunciou que vai pagar bônus de US$ 1 mil a mais de 100 mil empregados além de investimentos de US$ 50 bilhões ao longo dos próximos cinco anos em infraestrutura para melhorar a capacidade de sua rede.

Companhias aéreas

Várias empresas de aviação comercial dos EUA anunciaram resultados mais robustos em seus balanços devido à reforma de Trump. American Airlines, Alaska Airlines, JetBlue e Southwest informaram que vão pagar bônus de US$ 1 mil a seus funcionários, segundo o site do ‘Business Insider’.

(Foto: Reuters/Jonathan Ernst)