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Roubos crescem 700% em dias de blocos no Rio de Janeiro

Polícia diz que 90% das ocorrências de furto envolvem falsos ambulantes.

Em 08/02/2018 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Região que abriga a terceira maior concentração de blocos no Rio, o Centro da Cidade tem um aumento de quase 700% em ocorrências relacionadas a roubos e furtos em dias de blocos. Os dados são da 5ª Delegacia de Polícia (Gomes Freire), central de flagrantes no Centro.

Segundo o delegado titular Marcus Henrique de Oliveira Alves, a maior parte dos registros são relativos a roubos e furtos de celulares, documentos e dinheiro em espécie.

O G1 reuniu dicas de delegados da Polícia Civil do Rio de Janeiro para os foliões que querem curtir os mais de 260 blocos que vão desfilar pelas ruas da cidade até o fim do carnaval.

"A delegacia fica lotada de foliões. Temos uma média de registros de roubos e furtos que fica em torno de 25 por dia e no carnaval chega a 200. Tudo acontece nos esbarrões, a pessoa não nota. É muito importante que a gente vá para o carnaval com o espírito de se divertir sim, mas não podemos descuidar da nossa segurança pessoal", orientou o delegado.

Segundo a titular da Delegacia Especial de Apoio ao Turismo (DEAT), Valéria Aragão, a grande maioria das ocorrências contra cidadãos estrangeiros ou locais são furtos praticados por falsos ambulantes.

"É preciso que as pessoas atentem para os seus pertences. Sem levar artigos de valor e, se levar, não manipulá-los ostensivamente. Basta um segundo de distração. Cerca de 90% das ocorrências contra cidadãos estrangeiros ou locais são furtos praticados por falsos ambulantes, falsos vendedores, que acabam colocando esse estigma sobre um trabalhador honesto e tradicional da cidade", lamentou.

1) Opte pelo transporte público

O uso do carro particular é desaconselhado pelas autoridades policiais. Além de poder ficar preso em engarrafamentos por conta dos desfiles de blocos, aumenta o risco de arrombamento de veículos nas ruas durante o carnaval.

"O transporte público é melhor para chegar nos blocos, por conta dos bloqueios nas vias, e também para desafogar o trânsito na cidade. E se precisar usar o carro, não estacione na rua porque isso é expor o veículo a possíveis danos por conta dos foliões descuidados, e o carro pode até ser objeto de furto, arrombamento, por conta do número de pessoas que transitam. Por isso, se for utilizar carro, estacione em local credenciado, fechado", recomentou o delegado da 5ªDP.

2) Não utilize aplicativos de transporte compartilhado ou pegue caronas com estranhos

Para o delgado da 19ª DP, na Tijuca, Paulo Henrique Pinto, aceitar caronas ou utlilizar transporte compartilhado por aplicativos aumenta o risco de sofrer algum tipo de assalto.

"Não pegue transporte particular compartilhado, táxi compartilhado, carona, isso tudo é furada. A menos que seja o seu grupo de amigos, pessoas que você realmente conhece. Se você vir de longe o táxi ou o Uber já com outras pessoas no carro, nem entra porque o criminoso pode ter rendido o motorista e você não tem como prever".

3) Procure não curtir o carnaval sozinho

"Não pule carnaval sozinho porque você se coloca de forma vulnerável e, mesmo que esteja um clima agradável, não confie seus pertences a amigos de ocasião, que você conhecer no bloco, e mesmo com os seus amigos, já que todo mundo está mais distraído nesses momentos. Guarde suas coisas sempre com você", disse o delegado da 19ªDP.

4) Cuidado com o selfie no meio do bloco

Registrar um momento bacana com os amigos em um dos maiores eventos do mundo é praticamente inevitável, na opinião da titular da DEAT. Já que levar o aparelho celular é uma tentação, a recomendação da delegada é adotar uma postura de segurança.

"Temos tido muitos registros de furto, não só de turistas, em blocos de rua. São carteiras, documentos e celulares que são subtraídas. Todo mundo quer tirar selfie. Mas no momento de tirar a foto, busque olhar em volta, adote uma posição de segurança, se aproxime de uma viatura da polícia ou tenha um agente de segurança próximo. Depois da foto, guarde rapidamente o aparelho e não ande com o celular na mão".

5) Escolha bem os acessórios: use pochete e/ou bolsas próximas ao corpo, ou por dentro da roupa

Bolsas sem muita mobilidade, com alças curtas e mochilas para frente do corpo são a recomendação das autoridades. Na opinião do delegado da 5ªDP, o mercado está repleto de opções.

"As pessoas são tão criativas na hora de customizar as fantasias, então podem ser também na hora de pensar na própria segurança. Hoje em dia existe bolso em sutiã, calcinha, cueca, além de doleiras e pochetes. Além disso, não utilize joias, cordões de ouro, brincos grandes, que podem acabar, num puxão, machucando a orelha", argumentou o delegado Marcus.

A recomendação da delegada Valéria é que os foliões optem por bolsas próximas ao corpo e não as tiracolo, por terem alças compridas e que podem tirar a bolsa do campo de visão do folião. As pochetes, que conquistaram o público de blocos do Rio, também foram recomendadas pela delegada.

"Pochetes, bolsas rente ao corpo, junto à axila, por exemplo, são as melhores. Nada de usar bolsa tiracolo porque a alça acaba jogando a bolsa para trás do corpo e, quando vai ver, a bolsa já foi aberta e está sem documento, celular", disse.

6) Não aceite ou prove bebidas abertas de estranhos

"Não aceite nada que te oferecerem. Já vi casos até de colocarem 'Boa Noite Cinderela' até em água de coco", orienta o delegado Paulo Henrique.

"Basta olhar para o lado, que já é criada a oportunidade de adulterarem a sua bebida. Pode ser que o efeito não seja nada demais, mas para quem já está alcoolizado, a chance de ter um pico de pressão é grande - o que pode levar a morte também", completou.

7) Ao comprar com ambulantes, procure saber se são credenciados pela Prefeitura e opte por dinheiro ao invés de cartão bancário

Devido ao número elevado de roubos e furtos praticados por falsos ambulantes, a DEAT iniciou investigações para identificar e prender ambulantes que tentam roubar ou fraudar cartões de foliões, principalmente estrangeiros. A delegada Valeria alertou para as características que podem ajudar os foliões a distinguirem, à primeira vista, um ambulante cadastrado ou que não esteja mal-intencionado.

 "Temos muitos falsos vendedores ambulantes que não são autorizados para exercer o comércio ambulante, inclusive a DEAT tem uma investigação direcionada para isso. Os falsos vendedores andam com poucos produtos, pouca variedade e carregam uma mochila nas costas, que é onde eles colocam os pertences furtados. Para o turista, a situação pode ser ainda pior, porque o cartão do estrangeiro aqui no Brasil muitas vezes não precisa de senha para ser utilizado".

Na hora do pagamento, a recomendação das autoridades é pagar com dinheiro, mas não andar com um valor muito alto em espécie, apenas com o necessário para o bloco. E, se for utilizar cartão, não digitar a senha uma segunda vez em caso de erro de operação com a máquina de cartão, conforme orientou o delegado da 19ªDP.

"Se você ficou em dúvida se o ambulante é confiável, não passe o cartão. Digitar a senha duas vezes, nem pensar. Se não souber se o ambulante é credenciado, vá até um guarda municipal e pergunte, peça auxílio. Digo isso porque para clonar cartão é muito fácil. Se for usar cartão, fique de olho até o ambulante te devolver, porque pode ser que ele te entregue um outro cartão e fique com o seu, ou troque sem querer mesmo. Faça a opção de pagar em dinheiro, é melhor para prevenir".

9) Quer ajudar alguém no bloco? Seja solidário, mas com cautela

Para os delegados, caso perceba que alguém precisa de ajdua, o ideal é não se distanciar do seu grupo de amigos e procurar um agente de segurança, como um guarda municipal ou policial civil ou militar.

"O carioca é solidário e isso é muito bacana. Mas não é recomendável ajudar sozinho um estranho. Não saia do campo de visão dos seus colegas por causa dessa outra pessoa. Não se disponha a levar ninguém para um lugar absurdo. Se quiser mesmo ajudar, encaminhe a pessoa até um guarda municipal, policial militar ou civil", disse o delegado Paulo Henrique.

Na opinião da delegada da DEAT, se afastar, ir para locais escuros e ermos aumenta as chances de um crime violento, com uso de faca, por exemplo.

10) Começou um tiroteio? Busque abrigo

Para o delegado Paulo Henrique, o melhor a fazer é entrar em um estabelecimento e se abrigar próximo ao chão. "A curiosidade pode custar caro. Então, não bote a cabeça para fora, não tente ver o que está acontecendo porque assim se aumenta as chances de ser vítima de uma bala perdida", afirmou.

11) Foi furtado ou roubado? Faça o registro de ocorrência na delegacia ou online e não tente marcar encontro com o infrator

No site da Polícia Civil, é possível fazer registro de ocorrência (RO), mas as autoridades frisaram a importância do preenchimento correto e completo do documento. Para o delegado da 19ª, o registro é essencial para o trabalho de prevenção e investigação da polícia:

"Quem faz RO online muitas vezes só coloca que foi roubado por dois homens numa moto e não diz nem a hora, coloca na lacuna do endereço 'outros', não diz o bloco em que estava. Isso tudo dificulta o trabalho de investigação da polícia, de entendimento das áreas mais perigosas, que necessitam de mais policiamento. A notificação feita da forma correta é a melhor forma de ajudar a polícia a garantir o seu direto à segurança pública. O principal é fazer o RO, mesmo que seja no dia seguinte ao fato", afirmou.

Caso o infrator entre em contato ou você consiga falar com quem está com os seus pertences, a recomendação do delegado Paulo Henrique é não tentar marcar um local de encontro, nem oferecer recompensas:

"Se você perdeu, perdeu. Não tente encontrar com o bandido porque você só se expõe. Já vivi casos em que o cara teve o carro roubado durante o carnaval, ofereceu recompensa e foi roubado uma segunda vez pelo mesmo criminoso no local de encontro marcado. Notifique o caso a uma autoridade policial, mas nunca tente fazer o trabalho da polícia."

Foliões relatam casos

O G1 também ouviu foliões que passaram por roubos e furtos no carnaval que poderiam ter sido evitadas caso as dicas dos delegados fossem seguidas. A estudante de farmácia, Daniela Meneses, contou ao G1 que foi furtada ao se distanciar da multidão e ser abordada por um falso vendedor de mel, que agiu em dupla na hora de pegar o celular dela.

"Chegou um homem vendendo melzinho para falar comigo. Eu disse que não queria, só que ele começou a me empurrar para o meio da multidão, fui ficando assustada e comecei a gritar. Como eu estava longe da multidão, deixei o celular no bolso. Logo depois de um empurrão, senti puxarem. Quando olhei para trás, vi o cara do melzinho correndo lá longe com outro cara".

Vítima de uma facada, o estudante de veterinária, Gabriel Pincano foi assaltado ao final de um bloco em Ipanema, e levou mais de um mês para se recuperar e retornar à rotina normal:

"Aconteceu de noite, depois de um bloco na Av. Vieira Souto. Eu estava na areia, mais afastado, com uns amigos e fomos abordados por 5 pivetes. Assim que entreguei meu celular, tomei uma facada, que pegou no pulmão e no estômago e levei um soco no olho também. A rua já estava liberada pro trânsito de carros, mas nenhum táxi queria me levar pro hospital porque eu estava todo ensanguentado. Ao todo, minha recuperação demorou cerca de 1 mês e meio", contou.

(Foto: Fernando Maia/Riotur)