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Roubos de carros disparam em 5 anos em Niterói, no Rio

ISP registrou 824 carros roubados nos cinco primeiros meses de 2017.

Em 24/07/2017 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

A violência tem transformado a "Cidade Sorriso" em “Cidade Tristeza”. É assim que muitos moradores já chamam Niterói, na Região Metropolitana do Rio, devido ao aumento da criminalidade, sentido nas ruas e comprovado pelas estatísticas. Levantamento do G1 com base nos dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) mostra que, na comparação dos cinco primeiros meses do ano, 2017 bateu recorde do número de roubos desde 2003, data do início dos registros: 3.249 casos foram relatados à Polícia Civil.

Os motoristas, em especial, estão em alerta e mudando hábitos para se protegerem. Do início de janeiro ao fim de maio, foram computados 824 casos de roubos de carro. O índice dobrou se comparado com o mesmo período de 2013, cinco anos atrás. Em média, cinco carros são roubados por dia na cidade.

Com medo da violência, os moradores evitam parar em sinais de trânsito durante a noite.

“A cidade em determinada hora não tem policiamento nenhum. Eu não ando muito de madrugada, mas quando ando eu não paro em nenhum sinal. Graças a Deus não tem nenhum ‘pardal’ para multar por avanço de sinal porque senão eu já tinha perdido a minha carteira. Entre 0h e 5h pode não ter engarrafamento, pode não ter quase trânsito nenhum, mas você não vê ninguém parando nos sinais”, disse o autônomo Plinio Schuler.

Assim como Plínio, a professora Fabiana Botelho evita parar em semáforos em determinados horários. Ela contou ao que passou a tomar esta atitude após ter sido assaltada três vezes. O processo de recuperação psicológica não foi fácil, segundo ela, já que em um dos episódios seu marido foi baleado.

“A gente ficou um bom tempo sem sair de casa, ele teve que fazer terapia, tomar remédio, acompanhamento com psiquiatra. A gente saia na rua e achava que estava sendo perseguido o tempo inteiro, a gente deixou de andar de carro um bom tempo. Ele ficou sem conseguir dirigir, as mãos suavam toda vez que ele tentava e depois de muita terapia, muito remédio e oração, a gente conseguiu voltar às atividades normais”, contou Fabiana.

Moradora de Niterói há 40 anos, a professora se pergunta se quer viver para sempre na cidade e se gostaria de ter filhos. A insegurança do dia a dia faz com que os moradores voltem a planejar suas vidas e objetivos.

“Niterói não é mais a mesma cidade, infelizmente. É uma cidade que eu não sei se quero passar o resto da minha vida, não sei se é onde quero criar meus filhos. Na verdade, a gente fica pensando ‘Será que vou querer ter filhos nessa cidade violenta?’. A gente já não sabe se sai de casa e volta para casa no fim do dia”.

Os casos se repetem e os limites foram ultrapassados no início de 2017, de acordo com os niteroienses. A jornalista Anaclara Velasco afirmou que os bairros estão se transformando em “regiões fantasma” já que a população está com medo de passar pelas ruas.

“A gente chegou num ponto surreal de violência. Não tem hora, não tem lugar, a gente só tem que contar com a sorte. Niterói está muito violeta. (...) Desde o início do ano, eu tenho observado que quando escurece as ruas vão ficando cada vez mais vazias. As pessoas estão com medo de sair na rua à noite”, disse Anaclara.

Falta de recursos e socorro da prefeitura

O G1 conversou com o comandante do 12º BPM (Niterói), coronel Marcio Rocha, para questionar os números do ISP e saber como a Polícia Militar está atuando para combater os altos índices de criminalidade. O comandante explicou que a corporação passa por um momento delicado por causa da crise financeira do estado. Rocha acredita que é preciso atuar com criatividade para enfrentar carências de toda ordem.

“Nós temos que dizer que temos uma carência de recursos muito grande hoje. Recursos na área de efetivo, viaturas, armamentos, munição e até instalações. Estamos com carência de toda ordem. Considerando que temos parcos recursos, precisamos alocar nossos recursos de forma mais eficiente possível. São esses dados que vão direcionar a aplicação dos nossos recursos”, disse Rocha.

Apesar das dificuldades, a PM recorreu a um socorro do governo municipal de Niterói. Viaturas que estavam paradas estão recebendo a manutenção com verba da prefeitura e, no futuro, o reparo de toda a frota será assumida pelo órgão. Além disso, um reforço no efetivo também foi adquirido. Através dos programas Proeis e Ras, Niterói irá contar com 150 novos policiais por dia e 36 agentes especializados do Comando de Operações Especiais (COE).

“Nós temos 150 vagas de Proeis aqui e estamos incrementando agora isso. Estamos conseguindo colocar nas ruas cerca de 60 policiais a pé diariamente por causa disso. Em breve, iremos atingir as 150 vagas. Esses recursos são da prefeitura, que custeia o serviço de policiais militares em hora de folga. Além disso, a prefeitura tem nos ajudado na manutenção das nossas viaturas. Neste momento está sendo feito em caráter emergencial e, no futuro de uma forma mais robusta, assume o custeio de toda frota do 12º batalhão”.

(Foto: Divulgação/ ONG Viver Bem)