SAÚDE

Secretaria da saúde do ES orienta sobre a importância da doação de órgãos

Dados da Sesa mostram que o número total de transplantes de órgãos sofreu queda de 6,3%.

Em 08/07/2015 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Dados da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) mostram que o número total de transplantes de órgãos sofreu queda de 6,3% nos primeiros cinco meses deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado. Chama atenção a redução dos transplantes de fígado (35,3%), de rim de doadores falecidos (29,6%) e de coração (100%), órgãos para os quais existe uma lista de espera.
 
O responsável técnico da Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos do Espírito Santo (CNCDO-ES), o médico João de Siqueira Neto, informa que atualmente 834 capixabas aguardam a chance de fazer um transplante de rim, 35 esperam por um fígado e uma pessoa precisa de um novo coração.
 
“A lista de espera para o transplante de rim é a maior, mas enquanto o paciente aguarda ele pode ainda lançar mão de outro recurso que é a hemodiálise. Quem precisa de um fígado, no entanto, não tem alternativa de tratamento, o que aumenta muito a mortalidade de quem está na lista de espera”, explica João de Siqueira Neto.
 
Depois de 12 anos de tratamento paliativo contra cirrose, o empresário Anacleto Costa, 59 anos, descobriu ainda um câncer no fígado. Para a situação dele não havia alternativa senão o transplante do órgão inteiro do doador, o que eliminou a possibilidade de realização de um transplante intervivos. Foram oito meses de espera por um órgão saudável e, como ele relata, a fase mais difícil da vida dele, porque ele tinha mesmo pouco tempo para esperar.
 
“A espera é angustiante. Toda vez que o telefone toca é um susto porque a pessoa está na expectativa. ‘Será que é hoje?’, a gente se pergunta, porque cada dia que a pessoa deita ela acorda pior. A cada dia o câncer aumenta e vai corroendo a pessoa. Quando foi descoberto, o tumor estava com 2,5 centímetros; dois meses depois havia dobrado de tamanho. Eu, que sempre mantive meu peso na faixa dos 74 quilos, perdi mais de 20 quilos”, conta Anacleto, que lembra detalhes do dia em que recebeu a grande notícia. “O telefone tocou às 7 horas da manhã. Eu estava no banho. A mala estava pronta, assim como a de uma mulher que espera a hora do parto”, recorda.
 
O médico responsável técnico pela CNCDO-ES, João de Siqueira Neto, explica que o transplante intervivos é indicado principalmente em crianças. Primeiro porque é difícil encontrar doadores para esse público, segundo porque crianças aceitam bem apenas uma parte do fígado. no caso de adultos, pouco se indica transplante intervivos, segundo o médico, porque o paciente poderá receber apenas uma parte do fígado do doador ( que temos um único fígado) e essa parte pode ainda ser insuficiente
 
De acordo com o médico, o alto risco da cirurgia de retirada de parte do fígado do doador é outra contraindicação para o transplante de fígado intervivos. Em cirurgia para retirada de rim de um doador vivo também risco, ainda que seja de baixo para médio. “Portanto, incentivamos a doação intervivos para rim e fígado somente quando o receptor, ou seja, o paciente que aguarda pelo órgão, é uma criança”, enfatiza o responsável técnico pela CNCDO-ES.
 
Aproximadamente três anos e meio depois do transplante, Anacleto Costa afirma que a qualidade de vida dele melhorou muito. Ele, que diz sempre ter se alimentado bem e praticado atividade física, hoje continua podendo comer e beber de tudo, praticamente, e não deixou de exercitar o corpo. “Enquanto não faz o transplante, a pessoa deita sem saber se vai acordar. Depois, você acorda e fala: hoje eu vou fazer alguma coisa. A pessoa começa a planejar o futuro. Dorme melhor, come melhor, pensa melhor. A qualidade de vida é perfeita”, relata o empresário, que é casado, tem duas filhas e duas netas
 
Negativa familiar
 
A vida do empresário Anacleto Costa foi salva por uma pessoa que queria fazer a doação e por uma família que, após a morte de seu ente querido, respeitou e fez cumprir esse desejo. Segundo o responsável técnico pela Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos do Espírito Santo, João de Siqueira Neto, a recusa familiar ainda é uma das questões que mais impactam a doação de órgãos
 
De acordo com o médico, aproximadamente 30% dos potenciais doadores apresentam contraindicações, como doenças pré-existentes, o que torna impossível a realização da doação, uma vez que o procedimento causaria danos em vez de benefícios ao receptor. Outros 30% são pacientes que morrem, ou seja, que sofrem parada cardíaca, além da morte encefálica, antes que se possa fazer a retirada dos órgãos. Os demais 40% dependem, em grande parte, da aceitação da família para se tornarem efetivamente doares, e está aí um dos principais impeditivos para a realização dos transplantes.
 
Nos primeiros cinco meses deste ano, o número de famílias que recusou fazer a doação de órgãos aumentou 27,8% em relação ao mesmo período do ano passado. Quem passou pela angústia da espera, sabe bem que não há como agradecer quem optou pela doação. “Em todas as minhas orações ele está presente. Agradeço a atitude da esposa dele, que tomou a decisão de doar sabendo que ele queria ser doador, porque, quando a pessoa morre, isso causa uma dor tão grande na família que muitas esquecem que seu parente era doador e o enterra com todos os órgãos bons para doação”, comenta o empresário Anacleto Costa.
 
Ações para aumentar a captação
 
A aceitação da família e a notificação de morte encefálica pelos profissionais médicos são fatores determinantes para que ocorra uma doação de órgãos. Para melhorar esses indicadores, a Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos do Espírito Santo vem capacitando as Comissões Intra-hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT) e está preparando um curso específico para médicos intensivistas, profissionais que atuam geralmente em pronto-socorros e Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs).
 
Nesse esforço de conscientização, a Secretaria de Estado da Saúde contará, também, a partir deste ano, com o Setembro Verde. Instituído por meio da Lei nº 10.374/2015, o período comemorativo será voltado para conscientização da população sobre a importância da doação de órgãos. “Em setembro, temos o Dia Nacional da Doação de Órgãos, e agora teremos o mês inteiro com foco na conscientização. Essa é uma iniciativa importante. Prédios públicos e espaços turísticos serão iluminados com a cor verde para chamar a atenção das pessoas. Sempre que há divulgações mais amplas sobre doação de órgãos percebemos um aumento no número de captações”, conclui a referência técnica da CNCDO-ES, João de Siqueira Neto.
 

Transplantes de órgãos realizados

Órgão

2014 (jan – mai)

2015 (jan – mai)

%

Córnea

117

129

10,3

Rim (falecido)

27

19

-29,6

Rim (vivo)

13

12

-7,7

Fígado

17

11

-35,3

Coração

5

0

-100,0

Osso

6

0

-100,0

Esclera

7

4

-42,9

Medula óssea (autólogo)

16

20

25,0

Total

208

195

-6,3

 
Lista de espera
 
Rim: 834
Fígado: 35
Coração: 01
Córnea: 109
Total: 979
 
Fonte:Secom ES