TEMAS GERAIS

Sem trabalho, recém-formados recorrem a concursos e mestrado.

Desemprego na faixa de 18 a 24 anos foi de quase 29% no 1º trimestre.

Em 30/06/2017 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

João, Stefani e Thaís estão na faixa dos 20 anos, terminaram a faculdade há pouco tempo e ainda não encontraram trabalho na sua área de formação. O desemprego, que atingiu 13,7% da população economicamente ativa no primeiro trimestre, é maior entre os jovens. Chega 28,8% para brasileiros entre 18 e 24 anos. Em maio, a taxa de desemprego registrou recuo e bateu 13,3%, mas não há informações mais atualizadas sobre a taxa entre os jovens. De qualquer forma, com menos vagas disponíveis por causa da crise política e econômica no país, os três recém-formados buscam alternativas para não ficar parados.

João Vitor Suyama, de 22 anos, concluiu a graduação em relações públicas pela Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap) em julho de 2016 e não está trabalhando na área. Ele era estagiário em uma agência de comunicação, mas não foi efetivado depois de terminar o curso.

Depois de procurar emprego por oito meses e ser chamado para cinco entrevistas, ele desistiu da iniciativa privada e resolveu apostar em concursos públicos.

“No momento está bem difícil para conseguir emprego. O concurso foi uma influência da minha família porque a minha irmã é servidora pública. Nesse momento de dificuldade resolvi estudar porque a vaga pública parece mais garantida do que procurar emprego”, afirma Suyama.

Desde março deste ano sua rotina inclui sete horas diárias de estudo para a prova de escrevente técnico judiciário do Tribunal de Justiça de São Paulo, que será aplicada em 2 de julho. O cargo exige nível médio, e oferece salário de R$ 4,4 mil.

Além do serviço público, João pretende se inscrever, novamente, nos programas de trainees que vão acontecer no segundo semestre deste ano.

Sem efetivação

Depois de dois anos de estágio em uma multinacional de indústria química, Thaís Lourenço Thomaz, de 24 anos, também não foi efetivada ao concluir a graduação em publicidade e propaganda com ênfase em marketing, pelo Mackenzie, em junho deste ano.

Thaís soube que não seria efetivada em março e já começou a procurar uma vaga efetiva. Ela se inscreveu para mais de 50 vagas e até agora só foi chamada para uma entrevista, indicação de uma amiga.

“Estou sentindo muita dificuldade por causa da crise, e as empresas também cobram experiência para quem acabou de se formar. São poucas pessoas da minha sala da faculdade que têm situações definidas. Bate um desespero”, confessa a jovem.

Agora, ela pretende ir diretamente nas empresas para entregar seu currículo impresso e também se inscrever nos programas de trainee do próximo semestre.

Mestrado como opção

Aos 22 anos, a biomédica Stefani Lino Cardim apostou em um mestrado em fisiologia clínica e laboratorial pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) depois de sair da faculdade, há 1 ano e meio. Ela procurou emprego por quatro meses e logo percebeu como seria difícil entrar no mercado de trabalho.

“Sempre quis fazer o mestrado, mas sei que ele veio em uma boa hora considerando o mercado de trabalho”, afirma.

Pensando no futuro e no bebê que está a caminho, Stefani pretende seguir para o doutorado para só depois procurar uma vaga de emprego. “Estou pensando na minha qualificação e como o mercado está cada vez mais exigente pensei em seguir esse caminho e também vou poder fazer concurso público”, ressalta.

Mercado de trabalho

Segundo especialistas ouvidos pelo G1, o mercado de trabalho brasileiro vive um momento instável por causas das turbulências políticas e econômicas. Em abril, o país registrou 14 milhões de pessoas desempregadas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os jovens acabam sofrendo mais com essa situação porque as empresas não querem arriscar neste momento e dão preferência por profissionais com mais experiência, explicam os especialistas em carreiras. A visão de quem contrata é que eles poderão contribuir mais durante o período de crise.

“As empresas deixaram muitos projetos parados, esperando um direcionamento sobre o futuro da economia. Quando você tem uma economia mais estagnada, as companhias tentam não correr riscos e isso resulta em um menor número de posições no mercado”, observa Gustavo Parise, diretor executivo da área de Futurestep da Korn Ferry.

Com isso, é cada vez mais comum ver histórias de longas filas com milhares de pessoas em busca de uma oportunidade de trabalho. Há também relatos de jovens desesperados, que distribuem o currículo em semáforos. E ainda aqueles que tentam inovar para chamar a atenção de empregadores, fazendo um currículo em gif e no formato de um boneco.

Para Raphael Falcão, diretor da Hays Response e Hays Experts, as empresas não pararam de contratar, mas reduziram o número e o ritmo. “Se antes existia um programa que contratava 100 profissionais, agora isso virou 80 ou 60”, completa.

“A economia está tentando reaquecer, mas o momento ainda é difícil quando se fala em oferta e demanda de emprego”, afirma Márcia Almström, diretora de RH do ManpowerGroup.

Segundo os especialistas, não é possível determinar quais áreas estão com menos oportunidades, pois a crise afetou diversos setores. Mas, as áreas mais generalistas como administração e economia acabam sendo mais ‘curingas’ e os profissionais têm mais chances no mercado. “Esses profissionais conseguem transitar mais por diferentes áreas”, diz Parise.

Carreira

Apesar de milhares de pessoas buscarem emprego, 41% das companhias não conseguem profissionais para ocupar posições que exigem competências técnicas, segundo a pesquisa “Escassez de Talentos” do ManpowerGroup.

Os técnicos são os cargos mais difíceis de preencher, seguidos por apoio aos serviços de escritório, operadores de produção/máquinas e negócios especializados.

“No passado, era possível ter mais clareza que uma trajetória de estudo teria como consequência um emprego, mas hoje isso está um pouco diferente. As áreas de maior escassez de profissionais não estão obrigatoriamente vinculadas a cursos superiores”, ressalta Márcia.

Falcão também ressalta a formação técnica e a fluência em um idioma como um fator de empregabilidade. “Às vezes, o jovem pode se formar em um curso técnico em uma área que faltam pessoas qualificadas e se inserir no mercado”, diz.

Segundo Márcia, o curso técnico pode ser uma boa forma de o jovem vivenciar a prática da área para saber se ele se identifica com a carreira para depois partir para a faculdade. “Os jovens estão numa faixa etária na carreira e na vida em que o técnico pode ajudar e clarear sobre a trajetória de maior interesse”.

O empreendedorismo e até mesmo o concurso público aparecem como opção para os jovens que não estão encontrando espaço no mercado de trabalho. “Vejo muitos jovens buscando como saída empreender, principalmente em tecnologia, com algum know how específico”, lembra Falcão.

A grande dica dos especialistas é que o jovem escolha uma área que goste e que tenha motivação para atuar para manter seu interesse e ter uma boa performance. “É importante ter cuidado com os modismos e não pensar só nas profissões que vão dar mais dinheiro. Ele tem que entender com o que tem mais sinergia e onde vai trazer mais valor”, completa Parise.

(Foto: Rede Juris/Divulgação)