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Shopping Moxuara se defende de discriminação racial no ES.

Advogado apresentou vídeo e disse que seguranças orientaram jovens.

Em 03/03/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

O Shopping Moxuara se defendeu, na manhã desta quinta-feira (28), da denúncia de discriminação racial supostamente praticada por seguranças, que teriam barrado adolescentes negros desacompanhados dos pais, no domingo (28), na entrada do estabelecimento. Um vídeo foi divulgado pela defesa do shopping.

O advogado do empreendimento disse ao G1 que os jovens foram 'apenas orientados a não entrar no shopping desacompanhos porque haveria um rolezinho marcado'.

O pai de um dos adolescentes, o professor de artes marciais Luis Mario de Andrade, de 39 anos, disse que não foi informado do rolezinho, que sentiu o tratamento preconceituoso e que vai processar o shopping. O caso é investigado pela Polícia Civil, que escutará a vítima nesta sexta-feira (4).

Defesa
O advogado Aloízio Faria disse que o shopping não tem o procedimento de barrar ninguém.

“A gente somente aborda em dias de eventos chamados de 'rolezinhos' que são agendados pela internet. Há a orientação para saber se há algum pai ou responsável para acompanhá-los”, disse.

Faria explicou que, somente em dias de eventos, previamente agendados nas redes sociais, há essa orientação por segurança. Ele disse ainda que os 'rolezinhos' são combinados para acontecerem aos domingos.

Faria explicou que a direção do shopping tem registros das combinações e cedeu uma das imagens à reportagem. O registro é do dia 3 de janeiro e não do domingo (28), dia em que os menores disseram que foram barrados.

“Nós já tivemos casos em que houve uma perda do controle desses eventos. Não temos uma equipe de segurança contratada suficiente. A gente pede para vir com o pais nesses dia para garantir a integridade física dos nossos clientes, que são nossos jovens também. Nesse caso, os dois jovens deram um passo para trás, ligaram para o pai  e depois entraram e usaram o shopping acompanhados”, explicou.

Faria relatou que os jovens permaneceram no shopping até as 20h.

“Eles entraram com o pai e tempos depois, o pai saiu do shopping. Os jovens ficaram sozinhos e usaram o cinema. Depois, por volta de 17h, o pai voltou”, relatou.

O advogado reafirmou que mesmo abordados, os jovens não são impedidos de entrar no estabelecimento.

“O que fazemos é uma abordagem para garantir a segurança. Os 'rolezinhos' são eventos que nós não temos controle. Já oficiamos a situação aos órgãos de segurança do estado. A gente não tinha a garantia da integridade física dos nossos usuários, e muitos menos dos menores, que são usuários também”, disse.

Faria disse ainda que o critério usado pelos seguranças é padrão. “Jovens desacompanhados em dia de eventos de 'rolezinhos',  com grande adesão, como era o caso do dia, serão abordados na entrada do estabelecimento. Sabendo que poderia ter algum tipo de risco para segurança deles. Porque em alguns eventos, alguns jovens, trasvestidos de manifestantes causaram um tumulto e uma desordem dentro do shopping”, relatou.

Sobre a denúncia de discriminação racial, a defesa do shopping acredita em um mal entendimento.

“Isso não tem cabimento. A gente recebe de braços abertos todos os jovens. Tentamos esclarecer a situação com o pai dos menores. Estamos sempre a disposição para conversar. Isso tomou  proporção que a gente não esperava. Avaliamos como um mal entendido

Liminar
O advogado disse que o shopping tem uma liminar que autoriza esse tipo de abordagem. “Pedimos a liminar como forma de ajuda do poder público para nos dar um respaldo jurídico", disse Aloízio Faria.

Vítimas
O professor de artes marciais Luis Mario de Andrade, 39, disse ao G1 nesta quinta-feira que o filho e um sobrinho foram barrados sem explicações sobre 'rolezinhos'.

“Os seguranças disseram que tinham uma liminar que proibia a entrada de menores sem algum adulto junto. Não falaram nada sobre esses encontros. Disseram que era uma lei e que ia valer para todos os shoppings. Depois disso, nós entramos e eu fiquei da porta olhando quem era barrado ou não. Pelo que vi, só jovens negros eram impedidos de entrar”, disse Luis Mario.

O pai disse que vai prestar depoimento na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) às 10h30 desta sexta-feira (4). "O meu filho é um atleta, um representante do esporte do estado, não merecia passar por isso", relatou.

“Já acionei a minha advogada e depois de falar com o delegado, vou processar o shopping por preconceito”, disse Luis Mario.

Investigação
O caso foi encaminhado para a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, que vai investigar se houve prática de discriminação racial por parte do shopping.

O titular da delegacia, Lorenzo Pazolini, disse ao G1 que todos os envolviedos foram intimados a comparecer à delegacia para prestar esclarecimentos sobre a situação.

“O inquérito foi instaurado e todos foram intimados às oitivas. Todos os envolvidos serão ouvidos separadamente”, relatou o delegado.

Pazolini disse que as imagens das câmeras de videomonitoramento do shopping também foram solicitadas para verificar se a abordagem foi seletiva. O delegado disse na tarde desta quinta-feira que ainda não avaliou as imagens do estabelecimento cedidas à polícia nesta quarta-feira.

Igualdade Racial
Para a presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB, Patrícia Silveira, o fato não é um episódio isolado e não pode se tornar comum. “Não é a primeira vez que isso acontece. Precisamos não só nos indignar, mas cobrar das autoridades responsáveis para que algo seja feito”, disse.

O movimento negro do Espírito Santo vai realizar manifestações na porta do Shopping onde o caso aconteceu. Outros relatos de discriminação já teriam sido registrados no mesmo estabelecimento.

O coordenador do Fórum Estadual da Juventude Negra (Fejunes), Lula Rocha, destacou que as abordagens se limitam à questão racial. “É revoltante saber que mais uma vez o racismo aparece na nossa sociedade e de uma forma tão escancarada. Outros relatos nos levam a crer que o estabelecimento usa um critério racial para permitir a entrada das pessoas”, disse.

O movimento também vai tomar providências no campo jurídico. “Queremos saber se essa liminar existe e em que termos foi concedida. Não vamos permitir isso, já estamos articulando protestos no local”, concluiu.

Fonte: G1