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Todas empreiteiras pagavam propinas, diz ex-diretor da Andrade Gutierrez.

Quem foi o portador da demanda?", questionou Moro.

Em 26/07/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

O ex-diretor de Desenvolvimento e Construções Industriais da Andrade  Gutierrez, Antônio Pedro Campello Dias, afirmou nesta segunda-feira, 25,  que todas as empreiteiras pagavam propinas no esquema de corrupção  instalado na Petrobras entre 2004 e 2014. "Sim, todas pagavam", afirmou  Campello, ao ser indagado pelo juiz federal Sérgio Moro, da Operação  Lava Jato.

Campello é um dos ex-dirigentes da segunda maior  empreiteira do País que fechou acordo de delação premiada com a  Procuradoria-Geral da República.

Os delatores não querem mostrar o rosto. Por isso, a audiência com Antônio Campello exibe apenas sua voz.

Propinas na estatal  petrolífera

O  juiz perguntou a Campello se ele soube das propinas na estatal  petrolífera. Ele respondeu que "teve conhecimento disso" porque em um  contrato "houve uma primeira abordagem para satisfazer esse tipo de  demanda por parte da Petrobras". "Um belo dia recebi uma demanda, um  telefonema, 'olha, tem isso para resolver'. Eu trouxe a demanda para  dentro de casa, foi analisada e se decidiu atender a demanda, na época,  absolutamente incompatível com o que se poderia acomodar. Não se podia  mais mexer no preço, o preço já estava baixando, não estava subindo."

"Quem foi o portador da demanda?", questionou Moro.

"Quem  me deu o recado foi o Ricardo Pessoa (dono da UTC Engenharia, apontada  como a líder do clube vip das empreiteiras que formaram cartel na  Petrobras). Ele disse que tinha me indicado para ser procurado por uma  determinada pessoa que trazia a demanda propriamente dita."

"E  quem foi essa pessoa?", insistiu Moro. "Foi o sr. Mário Góes",  respondeu o delator, em referência ao suposto operador de propinas que  atuava no âmbito da Diretoria de Serviços da Petrobrás. "E qual foi o  objeto da demanda?", prosseguiu o juiz. "Era um por cento do valor do  contrato, esse era o padrão", declarou Campello, citando em seguida o  ex-gerente de Engenharia da Diretoria de Serviços da Petrobras, unidade  que, segundo a Lava Jato, era cota do PT no esquema. "Esse dinheiro, o  primeiro beneficiário seria Pedro Barusco, mas a conotação era para 'o  grupo de apoio'", afirmou Campello.

Grupo de apoio

O juiz o indagou sobre  quem seria o "grupo de apoio". Campello disse que Barusco - que também  virou delator e devolveu espontaneamente US$ 100 milhões - era  "representante de um setor que controlava a Petrobras".

Ele disse  que em outros contratos a propina de 1% "se tornou um padrão, inclua na  sua matemática porque é assim que tem que funcionar".

O  juiz quis saber porque a empreiteira pagou propinas. "Tinha que se  proteger. Não posso dizer objetivamente que (Andrade Gutierrez) tenha  sido ameaçada, mas era evidente que isso aconteceu. Na prática, a  empresa demorou muito para conseguir atender o volume de demanda que se  acumulou. A empresa tinha muita dificuldade de operacionalizar esses  valores e isso gerava nítida má vontade, ranhetice, dificuldade de  receber recados", disse.

Defesa

"O  Partido dos Trabalhadores refuta as ilações apresentadas. Todas as  doações que o PT recebeu foram realizadas estritamente dentro dos  parâmetros legais e posteriormente declaradas à Justiça Eleitoral"  disse, por meio de nota, a assessoria de imprensa do PT Nacional.

Por Estadão