TEMAS GERAIS

Vacas usadas em pesquisas da USP são transferidas após série de furtos.

Para pesquisadores, remanejamento de animais prejudica estudos científicos.

Em 01/03/2016 Referência CORREIO CAPIXABA - Redação Multimídia

Vacas usadas em estudos científicos da Universidade de São Paulo (USP) começaram a ser transferidas de uma fazenda experimental do Estado de São Paulo, em Ribeirão Preto (SP), para uma estação em Nova Odessa (SP).

Segundo a Agência de Tecnologia dos Agreonegócios (Abta), o remanejamento dos animais foi provocado por uma série de furtos registrados no local nos últimos três anos, e que se intensificaram nos últimos meses. Na região, pecuaristas também tiveram prejuízos.

Pesquisadores temem que a transferência atrapalhe o andamento dos estudos científicos, como o do chamado "leite vitaminado", enriquecido com vitaminas que podem aumentar a resistência das pessoas e previnir contra doenças.

"Eles falaram que é um problema de segurança, mas não sana o problema nosso de segurança. Só estão tirando os animais, porque o problema de segurança vai continuar", disse a pesquisadora da USP Márcia Salles, que participa de estudos para produção de leite biofortificado. 

Pesquisa
Segundo ela, levar as vacas para a sede do Instituto de Zootecnia, em Nova Odessa, pode prejudicar a pesquisa. "A gente precisa pasteurizar o leite, não tem como a gente tirar o leite lá, a 200 quilômetros de distância, e trazer para pasteurizar. Estraga o leite", comentou. 

Outras pesquisas que são desenvolvidas na fazenda de Ribeirão e que podem sofrer com a transferência das vacas são um estudo da Universidade Estadual Paulista (Unesp), sobre emissão de gás metano, e um estudo sobre segurança alimentar, com uso de soja transgênica como ração.

"Essa transferência vai acabar fazendo com que o corpo técnico seja cancelado, porque nem todos vão ser transferidos", disse o presidente da Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (Apqc), Joaquim Azevedo Filho.

"A gente acha que têm outros interesses e que por isso estão forçando essa transferência, com base nos animais que estão sendo roubados e não tomam nenhuma atitude contra isso", afirmou Azevedo. "Quanto mais roubar, mais vai justificar essa transferência".

Roubos e justificativa
Em entrevista ao G1, o presidente da Agência de Tecnologia dos Agronegócios, Orlando de Melo Castro, ligado à Secretaria de Agricultura, negou que o remanejamento afete os estudos científicos e que os furtos de vacas aceleraram uma transferência que já seria implementada.

"Era uma ideia que a gente já estudava há anos quando começamos a discutir priorização de programas de pesquisa de diferentes institutos", disse. "Uma das áreas que a gente tinha carência de trabalho era na seleção de gado de leite".

Segundo a Abta, nos últimos três anos foram furtados 64 animais da raça Jersey e foram recuperados 17 animais, com apoio das polícias Militar e Civil. Os furtos, entretanto, ajudaram aprejudicar o andamento dos estudos.

"Isso acelerou nossa decisão, porque são animais de pesquisa. Você tem um experimento com 5 ou 6 animais e se você tem um roubo de um lote ou de outro, você está prejudicando a própria pesquisa", disse Castro.

Questionado sobre possíveis investimentos em segurança dentro da fazenda para evitar os furtos, ele afirma que o custo seria maior que a transferência. "A gente tem vigilância na sede, com sistema de câmeras, que de fato a gente não tem problema de roubo, mas o problema é no campo e o custo de se manter essa vigilância é de R$ 500 mil por ano, o custo é muito caro".

Fonte: G1